Militante fala sobre a luta feminina

Jade Miguez destaca importância do movimento feminista. Foto: Arquivo Pessoal

A militante feminista Jade Miguez, de 21 anos, falou à Gazeta de Vargem Grande sobre a luta atual das mulheres no país. Moradora em Cruz das Almas, na Bahia, Jade iniciou faculdade de bacharelado em gênero e diversidade na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 2016 e promove palestras nacionais e internacionais sobre o tema, além de criar e manter a página @somosasnetasdasbruxas.

Jade falou sobre sua identidade e interação no feminismo. “A minha identidade é multifacetada e interseccional. Multifacetada, por eu me reconhecer como uma mulher negra em diáspora africana, fenômeno histórico e social caracterizado pela imigração forçada de homens e mulheres do continente africano para outras regiões do mundo. E a identidade interseccional se materializa na minha cor, na questão regional e na minha orientação sexual, que diz respeito a preconceitos que operam juntos. Em 2016 criei minha página @somosasnetasdasbruxas onde ensino e aprendo. Meu foco central é o feminismo negro”, disse Jade.

A militante explicou seu ponto de vista em relação ao feminismo nos dias atuais e quais são as maiores dificuldades do movimento. “A gente parte de ponto onde nós debatemos em um país com diversos problemas sociais, sobretudo, os problemas raciais. O governo Bolsonaro é a materialização do estado não democrático. Fazendo com que os movimentos sociais precisem se manter muito mais firmes. Me lembra muito a filósofa francesa Simone de Beauvoir, quando ela diz que os nossos direitos não são permanentes e basta uma crise política se instalar para que eles sejam questionados. Mediante ao tal fato, precisamos muito mais nos atentar ao tempo”, falou.

“O maior impasse dentro do movimento de feminismo na atualidade é entender que somos plurais. Que a gente precisa olhar para todas as mulheres e principalmente aquelas que se encontram nas margens. A gente vem de um histórico de colonialidade das relações, então, as pessoas muitas das vezes são incapazes de pensar no outro e procurar o novo. Se o movimento não se organiza de dentro, do lado de fora nunca dará certo. O pensamento de feminismo hegemônico confunde as coisas e é incapaz de encontrar potencialidades nas diferenças. Ângela Davis, feminista negra que gosto muito nos ensina que as nossas diferenças devem se transformar em fagulhas, fagulhas criativas”, completou.

Jade também falou sobre a desvalorização da sociedade mediante o movimento. “O feminismo incomoda porque a emancipação feminina incomoda. Cada mulher que diz não ao cis-tema patriarcal é um desmonte do mesmo (o termo “cisgênero” é utilizado para identificar aqueles indivíduos que se identificam com o sexo biológico do qual nasceu). Eu sempre digo que o feminismo nunca matou ninguém, mas o machismo mata todos os dias. É muito fácil um homem dizer que feminismo é mimimi estando no seu local privilegiado”, falou Jade.

“A gente sabe que a lei Maria da Penha é um marco histórico e Internacional. O Brasil é um país com muitas leis para grupos específicos. Existe sim essa corrente de pensamento, de que as agressões estão aumentando. Mas as mulheres hoje estão denunciando muito mais que as de ontem. O que é realmente comprovado é que em 10 anos o feminicídio e outras violências tem tido um perfil racial. Entre mulheres brancas a taxa caiu quase 10% e entre negras aumentou 54%. Isso não quer dizer que mulheres brancas não sofrem, mas isso quer dizer que a dor também tem cor nesse país. E que ser negra é ser a vulnerabilidade dentro da vulnerabilidade”, finalizou a feminista Jade.

Leia mais: https://www.gazetavg.com.br/2019/03/08/dia-da-mulher-numeros-da-violencia-impressionam/

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