Memórias dos 20 anos da Festa das Nações

Reportagem publicada pela Gazeta em 19 de maio de 2001 sobre a Festa

Não posso esquecer quando tudo começou. Eu acabava de me aposentar no Magistério, já fui convidada para ser Diretora de Cultura naquele início de 2001. Foi então que o Prefeito Celso Ribeiro me disse: ‘Aquilo que você fazia na SBB para uma elite, você vai fazer agora na praça e os artistas serão as crianças e os jovens dos quatro cantos da cidade, sem nenhuma discriminação’. Com o hábito de enfrentar desafios, acionei o botão coragem e foi o que aconteceu.
Minha primeira atitude foi convocar minhas ex-alunas do Magistério que participavam comigo do Chá Cultural, pois além de estarem avançadas na questão detalhe, disciplina, experiência, mesmo não sendo profissionais, tinham a perfeita ideia de que Cultura e Educação deveriam caminhar juntas. Com elas e os talentos musicais já revelados, tentaríamos de início representar vários países com músicas e coreografias.
Os recursos eram limitados e a cidade estava em uma situação complicada. E nós, buscando o melhor, já fomos emprestando parte do guarda-roupa que já existia no Fleming, levantando voluntários e colaboradores. E eles confiantes foram aparecendo.
Foi assim que num tablado descoberto, aconteceu a primeira Festa. E o povo amou, porque não conheciam a estrutura que temos hoje.
Me lembro do clima desse trabalho, um misto de ansiedade e satisfação. Homens de destacada experiência na cozinha se apresentaram e nós, com algumas amigas abnegadas e o Círcolo Italiano completamos a área da culinária típica. A sorte estava lançada, o nível de riscos ainda era grande. Pois, naquele momento, as entidades não ousaram arriscar.
Na rua, algumas pessoas perguntavam: Dona Márcia, nós sabemos o que é quermesse, mas o que é Festa das Nações que está escrito ali naquela faixa? Aí, eu explicava. Não faziam ideia, mas sempre nos dirigiam olhares de entusiasmo e curiosidade.
Por outro lado, não era fácil enfrentar as dúvidas que algumas colegas levantavam: Você irá colocar na praça da cidade meninas dançando com roupa árabe, de barriga de fora, ou com namorado? E os gracejos e assobios? Você não tem receio do constrangimento? Mas, eu sabia e acreditava no que estava fazendo, não só porque o povo merecia, mas porque desenvolver talentos e descobrir valores na nossa cidade era essencial.
O Departamento de Educação comandado pela Fábia, que na época, só tinha três escolas, decidiu participar. Era mais um desafio: colocar crianças pequenas que nunca enfrentaram o lide de um grande público em uma festa noturna. E as crianças da Mário Beni, com apoio da direção, subiram ao palco. Foi mais emocionante ainda quando uma das portuguesinhas perdeu a sapatilha e continuou dançando e só foi catar a sapatinho quando a dança terminou. Isso provou, mais uma vez, que provocar a autoestima é muito importante na educação. Também a Escola Estadual Aquiles Rodrigues, comandada na parte artística pela brilhante Silvana Junqueira, levou o seu bairro até a Festa e nossos músicos e cantores completaram a emoção.
Quando a Festa acabou no seu terceiro dia, pela aprovação do público e autoestima dos que trabalharam em todas as áreas, já percebemos que haveríamos de repeti-la por mais três anos, naquela administração. Mas por 20 anos, nem em sonho!
Continua na próxima edição

Márcia Ap. Ribeiro Iared

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