Construindo pontes

As Eleições de 2018 levaram ao Congresso e também às Assembleias Legislativas dos Estados uma nova espécie de políticos, a que nega a política em si, desdenha da liturgia do cargo e não dá bola para o decoro. Na ocasião, pautados pelo exemplo norte-americano que elegeu o empresário Donald Trump, esses políticos criaram todo um discurso baseado no combate “a tudo que tá aí”, criticando o que chamavam de “velha política” e se sustentando em uma fala de constante campanha, visando manter suas bases mais radicais sempre com o “sangue nos olhos” e prontas para o ataque.
O Bolsonarismo é um exemplo bem acabado dessa linhagem. Por mais que o presidente Bolsonaro seja um político de carreira, com vários mandatos na Câmara Federal e que tenha inserido cada um de seus filhos nesse meio, criando um feudo no melhor estilo da política nacional há décadas, ele se elegeu presidente praticamente criticando o que fez durante toda a sua passagem pelo Congresso.
Uma vez eleito, tentou romper com a política de coalizão, buscando apoio nas bancadas. No entanto, logo percebeu que sua sobrevivência no cargo dependeria de uma base mais sólida e abraçou com amor verdadeiro o Centrão que tanto criticou. Porém, mantém a sua base sempre animada, criticando muitos políticos, governadores, a Justiça, a imprensa e outros mais.
Isso não é também novidade, mas o que chama a atenção é o teor desse discurso. Sempre com palavras inadequadas e que não condizem com o cargo que ocupa, o presidente vai ganhando entre seus aliados a simpatia de ser um cara comum, que fala “tudo isso aí mesmo”, como se o cargo de presidente da República de um dos maiores países do mundo fosse qualquer coisa.
Muitos políticos que se elegeram em 2018 foram nesse rumo. E usando a imunidade parlamentar como desculpa para espalhar besteiras, vão urrando impropérios no Plenário, nas redes sociais, alimentando seguidores que iludidos pela promessa de uma nova política, não percebem que estão vivendo o mais do mesmo, mas agora recheado com palavrões, expressões chulas e falta de civilidade.
O mesmo Congresso que teve nomes como Ulysses Guimarães e Franco Montoro, precisa tolerar figuras como o deputado federal Daniel Silveira que foi preso após publicar em redes sociais um vídeo com falas criminosas contra o Supremo Tribunal Federal e à democracia. Se suas falas e atos despertam o horror em boa parte da população, em algumas pessoas encontra eco, já que ele foi eleito com mais de 31 mil votos no Rio de Janeiro.
O cargo político, ocupado por uma pessoa do povo e eleita pelo povo, deveria ser algo da maior honra e orgulho para quem foi encarregado dessa missão. E dessa forma, deveria ser tratado não apenas com respeito, mas com educação e reverência. Ser um político respeitoso, educado e que age com polidez não é ser fraco. Muito pelo contrário, mostra que essa pessoa entende a grandeza que é representar o povo.
E exemplos de que políticos muitas vezes perdem a noção dessa honra não é vista apenas no Congresso e nas Assembleias Estaduais. Pode ser encontrada também em Câmaras Municipais onde o nível do embate político pode cair facilmente e o debate de ideias se torna algo secundário.
Assim, ao invés de criticar a velha política é preciso buscar nela exemplos bons a serem seguidos, como os já citados Ulysses Guimarães e Franco Montoro, que sempre pensando no bem comum, nunca deixaram de negociar com parlamentares (algo considerado feio atualmente). O grito e a baixaria só servem para construir muros entre as pessoas. Pois é negociando e dialogando que se constrói pontes, o que mais se precisa atualmente.

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