Infectologista explica porque não é possível tratamento precoce

O infectologista Marcelo Galotti esclareceu vários pontos. Foto: reprodução youtube Cãmara

Após um ano vivendo a pandemia da Covid-19, mais de um milhão de pessoas pelo mundo, 280 mil brasileiros e mais de 30 vargengrandenses, remédios sem comprovação científica alguma de serem benéficos e preventivos contra a doença, estão sendo, há meses, motivo de um grande debate político – e não médico, uma vez que não há evidências científicas de que eles efetivamente funcionem como profilaxia.
Na sessão da Câmara de terça-feira, dia 16, o médico infectologista dr. Marcelo Luiz Galotti Pereira, de 72 anos, contraindicou o uso de medicamentos, como cloroquina, ivermectina e azitromicina, que não têm eficiência comprovada contra a doença e que podem provocar efeitos colaterais graves.
Ele esteve presente na sessão, junto a diretora do Departamento de Saúde, Maria Helena Zan. Após um longo esclarecimento a respeito da saúde municipal, o assunto surgiu por meio de uma pergunta da vereadora Danutta de Figueiredo Falcão Rosseto (Republicanos). Ela questionou qual o posicionamento do município em relação ao acolhimento precoce e se a adoção desses remédios é específica de cada médico ou se a cidade pode tomar uma postura diante disse. Momentos antes dessa pergunta, o presidente da Casa, Celso Itaroti (PTB) havia justamente criticado o Departamento Municipal de Saúde por não recomendar esse tipo de acolhimento.
Dr. Marcelo comentou ser desesperador para um médico atender o morador em uma situação pandémica de pacientes potencialmente graves e não ter nada para oferecer. “É angustiante porque o paciente fica com aquela expectativa que ele quer alguma coisa”, observou.
Conforme explicou, no início da pandemia houve alguns equívocos. “Por exemplo, no tratamento de Ebola, na África, se usa ivermectina, que é um remédio para ectoparasitas e observou-se que este medicamento tinha uma ação sobre o Covid. E aí, no desespero de não ter medicamentos, aconteceu isso. A cloroquina é um medicamento usado em várias patologias e é um medicamento fantástico, mas ele não tem ação antiviral”, afirmou, citando os dois medicamentos alvo de embates aclorados em grupos de discussão pelo WhatsApp e Facebook.

Não há medicamentos
“Com exceção de Hepatite C e Aids, a medicina não tem medicamento para vírus”, afirmou o infectologista. “Então, o tratamento precoce e o profilático não existe para a Covid, cientificamente comprovado no mundo inteiro”, ressaltou.
Ele comentou que informações são vistas nas redes sociais a respeito de um médico que tratou pessoas com esses remédios e salvou todas ou que o prefeito de alguma cidade adotou o uso desses medicamentos. Contudo, ele alertou que ciência é uma atividade séria. “Por exemplo, sobre a ivermectina, eu trabalho com fígado, eu trato hepatite e ela dá uma hepative fulminante. Então, na maioria das vezes, você dá ivermectina e não acontece nada, mas imagina se dá uma hepatite mortal em um paciente, sendo que esse remédio não pode ser usado em Covid?”, questionou.
“Aí, o custo-benefício foi horroroso, você matou uma pessoa tomando um remédio que não precisa, tem muitos efeitos colaterais. Então, ou nós somos cientistas, ou não somos. Se você pegar Sociedade Brasileira de Infectologia, Sociedade Brasileira de Pneumologia, de Imunologia, a Sociedade de Liberação de Medicamentos na Europa. Não é que esse tem dúvidas, todos, é unanime, dizem que esses remédios não têm efeito”, completou.

Tratamento
De acordo com o médico, em doenças virais, como gripe, dengue, Covid, o tratamento inicial é o mesmo. “Você vai examinar o paciente, vai ver o que ele tem, se dar assintomático é orientar ele. E a orientação em Covid é clara, se você tiver problema respiratório volta correndo, porque aí você vai encaminhar para a retaguarda. Isso é outra coisa que os pacientes ficam bravos, porque vão no gripário e o médico manda embora, mas não dá para você inventar remédios”, disse.
O especialista relatou que foi procurado por colegas para discutir esse assunto e que entende a dificuldade que é estar na linha de frente, atender o paciente e não ter nada para fazer por ele. Assim, Marcelo comentou que os médicos e profissionais são livres pelo e podem indicar os remédios. Contudo, ele alertou para o Código de Ética da profissão e pontuou que aqueles que os indicam têm sorte de esses medicamentos serem autorizados para outras doenças, porque senão, se trataria de crime.
“Mas como você tem esses remédios, um para imunologia, outro indicado para sarna e o outro você usa em malária, você pode usar. Porém, assuma os riscos éticos e legais. Agora, não dá pra você jogar isso na Secretaria de Saúde e dizer para eles, por favor, preconizarem”, expôs.
Na ocasião, o médico ainda contou que para aqueles que militam pelo tratamento precoce, ele apenas pede para que pesquisem e encontrem algum artigo cientifico sobre a sua eficácia. “Não precisa ser dois, apenas um em que você fez um “duplo cego”, que você fez um trabalho cientifico de categoria e você pode dar esses medicamentos onde for que preconiza que eu dou graças a Deus de ter esses medicamentos. Mas isso é enganação, é tapear o paciente e colocar ele em risco”, pontuou.
A vereadora Danutta agradeceu ao esclarecimento e comentou que a explicação do médico foi muito válida, uma vez que, como o assunto está bem discutido em redes sociais, as pessoas ficam desesperadas querendo tomar algo.
Marcelo pediu que os médicos assumam os riscos ao indicar os medicamentos. “Você é médico, tem diploma, tem CRM, se você acha que é bom, faça. Se der errado, existe Ministério Público e recursos para ele. Mas cientificamente não. No dia 12, o Conselho Nacional de Farmácia, que era o último que não tinha se pronunciado, fez um estudo que essas drogas não funcionam”, informou.

Desencontros
O vereador Antônio Sergio da Silva, o Serginho da Farmácia (PSDB), comentou sobre o desencontro de ideias do Ministério da Saúde, do Presidente da República e dos médicos. “Falando sobre ivermectina, ibuprofina, tem médico receitando isso de ponta a ponta, então eu acho que há um desencontro da Saúde”, disse.
Ele comentou achar interessante que o médico infectologista Marcelo faça uma transmissão online sobre o assunto para a população vargengrandense. “Porque hoje a gente vê que a população tá com medo de chegar no hospital, de ir no gripário e até no PPA e vão na farmácia. Diante dos sintomas, orientamos eles, mas estão com medo. Então pelo desencontro médico que tá acontecendo, a população não está sabendo em quem confiar, já que tem gente que fala que o tratamento é bom e tem gente que fala que não. Então seria muito importando um esclarecimento do senhor, junto a diretora de Saúde Maria Helena, para a população”, completou.
O médico informou que teve a oportunidade de ir na Convenção Municipal de Saúde, em que foi feito uma palestra de mais de uma hora e meia sobre isso. Além disso, ele também contou que faz participações semanais em rádios da região para discutir sobre essas situações.
“Tem umas rádios que em cada semana eu faço discussão na região sobre situações, por exemplo, apareceu um remédio, que é um medicamento que você trataria Covid e até então não tinha. Você tinha vacina, no paciente internado grave você tem anticoagulante e corticoide e no paciente prévio você não tem, então cada vez surgem fatos novos. Há dissociação entre alguns médicos e outros, mas se você pegar os maiores caras da ciência brasileira, você não encontra um” , explicou.

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