A rachadinha que pode derrubar o mito

Esta semana a imprensa nacional divulgou que o conhecido esquema das rachadinhas – arranjo no Brasil caracterizado, por exemplo, quando um parlamentar pega para si mesmo parte do salário de assessores nomeados por ele – antes de ter sido amplamente realizado no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, no Rio de Janeiro, conforme o admitido pelo seu antigo assessor Fabrício Queiroz ao Ministério Público, já tinha sido intensamente empregado pelo pai do deputado, o atual presidente Jair Bolsonaro, quando ele era parlamentar em Brasília.
Bastou essa denúncia ter sido amplamente divulgada em todo país, que os apoiadores menos críticos e mais devotos do Bolsonarismo partirem na defesa do presidente, não apenas tentando preservar o político, mas minimizando a prática deste ilícito, que é caracterizado como peculato, com alegações que iam do famoso “todo mundo faz” até “esse dinheiro não é de corrupção”.
Entenda-se o caso, que foi divulgado com base em áudios atribuídos a uma ex-cunhada do presidente. Enquanto deputado, Bolsonaro empregava como assessores pessoas que nunca desempenhavam qualquer função política em seu gabinete, que nunca apareciam para trabalhar, apenas para ficar com parte dos vencimentos desse assessor. Na reportagem do portal Uol, que deu origem a esse escândalo, a fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, afirma que Bolsonaro demitiu o irmão dela porque ele se recusou a devolver a maior parte do salário como assessor.
Ela foi a primeira dos 18 parentes da segunda mulher do presidente que foram nomeados em um dos três gabinetes da família Bolsonaro (Jair, Carlos e Flávio) no período de 1998 a 2018, conforme traz a reportagem.
Os salários desses assessores são pagos com dinheiro público. Dinheiro que vem de impostos pagos pela população e que deveriam ser empregados de uma maneira muito mais adequada do que ir parar nas mãos de políticos.
Mas se o presidente não pode responder sobre este caso, ocorrido antes de sua eleição para presidente – ele irá responder judicialmente, mas não pode sofrer ação de impeachment por isso, por exemplo – qual a importância de mais esse escândalo de rachadinha da família Bolsonaro? A importância de mostrar que Jair Messias Bolsonaro não está livre de escândalos de corrupção, como levou muitos dos seus eleitores a acreditar. O mito de que o presidente não tem relação com atos de peculato, corrupção, pode estar caindo.
Claro que para uma boa parcela desses eleitores, cegos que estão pelo ódio e pela manipulação a que são submetidos diariamente pelas informações que recebem maciçamente em grupos de Whatsapp, nada disso tem efeito. Mas para aqueles que só optaram pelo capitão por acreditarem que seria uma alternativa livre da corrupção que enlameava o Partido dos Trabalhadores, sigla de Fernando Haddad, seu oponente no segundo turno, esse escândalo, somado aos que já foram surgindo relacionados aos seus filhos e também os casos recentes envolvendo membros do seu governo, como na compra das vacinas, só vão derrubando o mito de que o presidente tinha um currículo impecável. Não tinha e está cercado de pessoas que não tem também.
À reportagem do Uol, o advogado Frederick Wassef, que representa o presidente, negou ilegalidades e disse que existe uma antecipação da campanha de 2022. Então que os eleitores prestem atenção a essa antecipação de campanha, para ficarem alertas sobre toda e qualquer tipo de notícia envolvendo corrupção, seja ela atingindo nomes do bolsonarismo, da esquerda, da terceira via. Para que não haja novamente uma disputa de idolatria de políticos no lugar de análise crítica e debate de planos de governo.

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