Provedor destaca importância de ações solidárias

Jair é provedor do Hospital. Foto: Arquivo Gazeta

Em entrevista à Gazeta de Vargem Grande, o empresário Jair Gabricho, atual provedor do Hospital de Caridade, falou sobre a importância de eventos como a Live do Bem, assim como outras ações solidárias, para amenizar a crise financeira do Hospital de Caridade. No entanto, reforçou que a situação da entidade, agravada pela crise da Covid-19, segue com muita dificuldade.

Gazeta: O que o valor arrecadado com a Live do Bem representa para o dia a dia do Hospital? Foi um recurso que vai causar impacto positivo nos custos da entidade?
Jair Gabricho: Sim, sem dúvida alguma. Toda e qualquer doação causa impacto positivo e é muito importante para o hospital, pois mais de 80% de seu atendimento é via SUS e o SUS nos remunera com um valor muito inferior do que na realidade o hospital gasta para fazer esses atendimentos. Então, toda doação é muito importante e causa um impacto positivo na entidade, em especial essa live foi extremamente importante pois no mês de junho nós tivemos nosso pior momento de Covid. Só no mês de junho nós tivemos mais internações e atendimento com diagnóstico de Covid do que o ano de 2020 todo e toda a verba federal que foi enviada para tratamento de Covid em maio de 2020 se esgotaram em fevereiro de 2021. Então não temos mais verba extra para tratar Covid, somente o repasse mensal de R$ 176 mil do SUS. Esses 180 atendimentos de Covid no mês de junho nos geraram um custo de cerca de R$ 696 mil.

Gazeta: Como avalia a adesão do público nesta ação solidária?
Jair: No meu ponto de vista foi simplesmente formidável, muito além das minhas expectativas, foi algo que nos encheu de alegria, de força, porque foi uma adesão muito grande, muitas pessoas doando todo valor. Para nós, foi muito gratificante, nos enche de força porque não foram só as doações, mas as pessoas que mandaram palavras e mensagens de incentivo. Foi muito bacana, muito importante. Acho que estamos conseguindo de alguma forma passar o quanto o hospital é importante para a cidade, principalmente para as pessoas que precisam dele, que não têm condição de ter um plano de saúde ou pagar um hospital particular.
Mesmo essas pessoas que podem, muitas vezes o primeiro atendimento tem que ser no nosso hospital. Não adianta ter um convênio com o Einstein, o Hospital Sírio Libanês, Oswaldo Cruz. Se tiver um infarto, o primeiro atendimento é em nosso hospital. E quando ele chega em nosso hospital, temos que ter lá em estoque, no mínimo, uma ampola de Metalyse, por exemplo, que nós pagamos mais de R$ 8 mil. É o protocolo, chegou com infarto, tem que aplicar essa ampola para estabilizar o paciente, senão ele vai morrer e o SUS nos repassa R$ 400,00. Então, às vezes, mesmo essas pessoas que têm condição de ir para um hospital, “ah, eu não preciso desse hospital, posso ir pra um maior”, se tiver um infarto, um AVC, o primeiro atendimento é em nosso hospital. E muitas vezes, pessoas que tratam doenças graves e as vezes não tem mais como, o último atendimento, a acolhida final, também é no nosso hospital e tudo isso custa muito dinheiro, muito mais que o SUS nos remunera. Algo em torno de 4, 5, 6 vezes mais. Por isso o hospital sempre vai precisar de ajuda. Por melhor que seja a administração, por mais competente que seja a equipe de administração, a mesa administrativa, o conselho, a equipe de funcionário, sempre vai precisar de ajuda.

Gazeta: Pelos boletins divulgados pela prefeitura a respeito da pandemia da Covid-19 na cidade, ao que tudo indica, felizmente houve uma redução na quantidade de pessoas internadas. Isso vem de fato ocorrendo? Como está ainda o impacto da pandemia no hospital?
Jair: Em relação ao número de atendimento sim, por conta da decisão adequada de fazer essa restrição de circulação de pessoas, porque o vírus se transmite através da circulação de pessoas, do contato. Por isso a importância, enquanto não tivermos mais de 70% das pessoas vacinadas com a segunda dose, é muito importante as regras não farmacológicas. Quais são? Distanciamento, uso de máscara, higienização, evitar aglomerações. Nós sabemos o quanto é difícil, o quanto está sendo sacrificante e para alguns segmentos, muito mais, esse tipo de decisão, mas que infelizmente é necessária. Porque não adianta colocar mais dinheiro, abrir mais leitos, não se tem mais pessoas, não se tem mais medicamentos.
O hospital teve uma situação tão grave em junho. Foram um total de 180 atendimentos com diagnóstico Covid-19, sendo 82 internações e 98 ambulatoriais. Foi tão grande o uso de oxigênio, que nós tivemos que trocar o tanque de oxigênio, aumentar a capacidade dele. Nós chegamos a ficar com um dia apenas de estoque de sedativo, que são usados na intubação e pra manter a pessoa intubada. Inclusive, nós não conseguimos fazer as cirurgias eletivas por falta de medicamento, nós tivemos que guardar os sedativos que são usados também em cirurgias eletivas, mantivemos apenas as de urgência e emergência e paralisamos todas as eletivas e um dos motivos foi a dificuldade de se encontrar no mercado anestésicos. Anestésicos inclusive que pagávamos antes da Covid algo em torno de R$ 3,00 ou R$ 4,00 e hoje custa R$ 35,00. Então “porque não aumenta leito?”, porque não tem mais capacidade. O hospital não tinha mais capacidade, nós tivemos que ampliar leitos clínicos para suportar e graças a Deus nós conseguimos, todos que chegaram ao hospital foram acolhidos, nós chegamos a ter mais de 35 pessoas lá dentro num único dia e toda a equipe exausta. É importante ressaltar o trabalho espetacular, incessante e humano, respeitar e agradecer todos os funcionários do hospital.

Gazeta: Além da pandemia, o Hospital de Caridade segue com uma situação financeira ainda deficitária? Como a provedoria tem trabalhado para amenizar essa crise?
Jair: Sim, ainda é deficitária e sempre será deficitária. É muito importante frisar isso. Enquanto não mudar a tabela do SUS, não houver uma remuneração justa, que cubra os custos efetivos em medicamentos, materiais, honorários médicos, enquanto não houver essa remuneração justa, ou seja, que realmente pague os custos reais, sempre será deficitária. Nesse momento ela piorou enormemente, de forma, assim, assustadora. Para se ter uma ideia, nós tivemos no mês de junho, um déficit que recai, falando em mês de competência junho e fluxo de julho, em R$ 400 mil, ou seja, faltou R$ 400 mil reais, já contando o repasse da prefeitura de R$ 300 mil. A prefeitura nos repassou R$ 300 mil, recebemos do SUS R$ 176 mil e ainda nos faltou R$ 400 mil para pagar as contas. Como nós fizemos isso? Vieram muitas doações, graças a Deus, principalmente com a Live e ainda não está totalmente fechado, ainda nos falta para fechar o mês de julho, nós temos que arrumar esse dinheiro até o dia 30 de julho desse mês, se nós não pagarmos os fornecedores de medicamentos, oxigênio, etc, eles simplesmente param de fornecer e nós não temos como continuar atendendo, mesmo com todas essas doações que foram muitas, graças a Deus, agradeço muito a todos que puderam doar, ainda nos faltam R$ 150 mil.

Gazeta: O que tem sido planejado para os próximos meses, no sentido de sanear as contas do Hospital? Haverá mais eventos beneficentes?
Jair: É importante dizer que sanear não saneia, jamais irá. Só existe uma forma de sanear as contas do hospital, que é aumentando a remuneração do SUS, porque ele sempre será deficitário, não tem como você prestar um serviço que você gasta R$ 10 mil e o SUS remunera R$ 1 mil, sempre vai ser deficitário. Que a forma que buscamos melhorar isso? Minimizar esse déficit. De que forma? Falando de uma forma bem simplista, diminuindo despesas e aumentando receitas. Pra isso, nós temos que buscar dentro do hospital qual é o potencial dele. O que poderia chamar gente? O que o hospital poderia fazer? Nós entendemos que o hospital tem como força o Centro Cirúrgico e o Centro Obstétrico, então essas duas fontes nós vamos tentar fazer crescer.
Nós temos dois caminhos, ou diminui o hospital, vira um hospital pequeninho e começa a mandar todo mundo pra fora ou faz o hospital crescer pegando os potenciais dele que na nossa visão seria o Centro Cirúrgico e o Centro Obstétrico, trazendo mais médicos porque não adianta ter o hospital, a parte física, se não tem médico. Temos que arrumar uma forma de conseguir mais médicos que possam vir a trabalhar aqui dentro, que queiram vir pra trabalhar, o que é muito difícil em uma cidade pequena. Às vezes eu converso com médicos e eles dizem que preferem ser o 33º em São João da Boa Vista que o primeiro em Vargem Grande do Sul. Já ouvi muito isso. Graças a Deus não são todos que pensam dessa forma, mas existe.
Outra é integrar a saúde do município, não pode ter a básica que é do município e a secundária, que é o hospital, isso tem que estar integrado. Esse vai ser o grande trabalho nosso, integrar as duas pontas para que tenha maior agilidade, menos custos, diminuição de custo no atendimento e maior resolutividade, se resolver rápido, com menos custo, e isso tá dentro dessa unificação da saúde, esse é o principal ponto. Dentro disso, buscar os dois focos principais e sempre estar mostrando através do nosso site oficial pra onde vai o dinheiro, porque precisamos de tanto dinheiro sempre, mostrando nosso trabalho, o que fizemos de atendimento, cirurgias, quantas vidas salvamos, quantas pessoas nós acolhemos, tratamos, curamos, e através disso buscar recurso no município, no estado, no Governo Federal e doações de empresas e pessoas físicas.
Isso é um pouquinho da nossa ideia de visão de futuro, falando de uma forma bem simples. Em eventos também, estaremos buscando eventos quando melhorar a situação da Covid. Acredito que basicamente é isso. Trabalhar incansavelmente em projetos que possam diminuir custos e aumentar receita. Dentro desses projetos temos dois que são grandes, sendo a geração de energia fotovoltaica e a geração de oxigênio dentro do próprio hospital, que um está diretamente ligado ao outro, porque o oxigênio é produzido através da energia. Então existe um projeto e estamos buscando recursos para viabilizar o projeto para instalação dessa usina de geração de energia fotovoltaica e em seguida geração de oxigênio, que já seria um grande avanço nessas duas despesas tão importantes dentro do hospital. Existe também um projeto imobiliário que está bem prematuro ainda, mas seria com relação ao fundo do hospital, achar algum parceiro que possa fazer uma construção e aquilo se reverta em um aluguel e torne-se uma receita para o hospital.

Gazeta: Quais são suas considerações?
Nas minhas considerações finais eu diria que o hospital, sem dúvida nenhuma, é uma entidade extremamente importante. Essa entidade é feita de pessoas que trabalham ali há muitos anos, que se dedicam incessantemente. Eu passei por várias empresas, já estive em muitos lugares durante esses anos da minha vida e ali realmente eu sinto o quanto aquilo é transformador, e é transformador pelas pessoas que ali estão, que se dedicam a ajudar as outras pessoas que mais precisam no momento. Ali não tem idade, cor, sexo, gênero, se é rico ou pobre, todos são acolhidos e tratados com a maior dignidade possível e para tudo que isso seja feito, infelizmente essas pessoas não são muitas vezes reconhecidas, esses funcionários, muitas vezes até o próprio corpo clínico, e que para fazer isso são mal remunerados.
Mas eles nunca, em nenhum momento, me questionaram, vieram pedir aumento, nada disso, discute-se muito que as vezes vejo algumas pessoas desinformadas que não querem se informar, que falam que precisa mudar, mas não, são pessoas que estão lá há muitos anos e que eu aprendo muito com eles e são extremamente importantes, por isso tantos provedores passaram por lá e essas pessoas permaneceram, tanto administradores, tantos prefeitos e essas pessoas permanecem porque elas têm valor. Eu peço nessas considerações finais que as pessoas procurassem entender um pouco mais o hospital, a entidade, as pessoas que estão lá dentro, o que elas realmente fazem, o quanto é caro a medicina, o quanto custa, quanto é grande a estrutura, são 24 horas por dia todos os dias, Natal, Ano Novo, Carnaval, Páscoa, Réveillon. Todos os dias tem que estar aberto com uma equipe pronta para atender as pessoas que precisarem disso.
E que o hospital vale a pena, o hospital, ao contrário do que alguns dizem, não é algo que não tem solução, que é um funil de dinheiro. Não. O hospital vale a pena, a medicina é cara, mas todo mundo que poder doar, doe, como nós da Mesa Administrativa também estamos doando nosso tempo, Conselho Deliberativo, Conselho Fiscal. Doe tempo, dinheiro se necessário, porque essa doação salva vidas. O hospital precisa de dinheiro porque ele é mal remunerado.

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