Praça Capitão João Pinto Fontão: o coração da nossa cidade

Igreja Matriz de Sant’Ana no final da década de 1930

Márcia Aparecida Ribeiro Iared
Anos depois da primeira grande festa na Vila, quando sob a coordenação e grande empenho do dedicado Coronel Mariano Parreira foi inaugurada a pequena Matriz na presença dos moradores e dos visitantes de São João da Boa Vista chegou o momento de planejar a construção da nova Praça da Vila.
No largo onde ipês nativos coloriam o céu de amarelo, delineia-se a linda praça, inaugurada em 29 de junho de 1918, pelo subprefeito Capitão Belarmino Rodrigues Peres.
Uma alvorada anunciava que o dia seria de grande festa, com passeata pelas ruas e bairros, concerto na praça e baile. Anos mais tarde, o logradouro recebeu o merecido nome de Praça Capitão João Pinto Fontão, homenageando assim um dos maiores empreendedores da era cafeeira
A nova praça logo que estruturada e fotografada pelo nosso histórico Virgílio Forlin já passou a ser o ponto de encontros sociais e políticos da pequena cidade.
O belo coreto sobre o lago com seus históricos chafarizes passa então a ser o palco das nossas pioneiras bandas musicais a primeira delas, a banda dos fazendeiros e filhos que estreou no saudoso dia da primeira missa da pequena matriz e que então fazia nos finais de semana o “agito” da cidade que despertava. Sobre a água do lago os marrequinhos faziam a alegria das crianças.
A tradicional praça, com o tempo e o aumento gradual dos moradores, foi tomando um formato que nos tempos que o “politicamente correto” não era discutido, havia uma natural divisão do seu território.
Era um fato absolutamente normal para atender os diferentes grupos de moradores que por si só procuravam o seu espaço nos deliciosos anos 40, como sempre me contaram.
No centro, no entorno do coreto ficavam as famílias com as crianças. Na calçada de cima, na “Rua do Comércio” ficavam o footing das moças solteiras sob os olhares dos paqueras, parados na beira da calçada para os possíveis flertes que se iniciavam com o piscar de olhos dos rapazes.
O constante vai e vem que durou anos só era interrompido por 5 minutos quando o sino batia na igreja no horário da benção, quando todos “congelavam” por 5 minutos.
Na esquina no bico da praça onde é hoje a loja do Samuel, reuniam-se os homens públicos e os fazendeiros para discutir os problemas da cidade. Contava minha mãe Emilinha, rainha do carnaval de 42, que participou de um baile com tablado sobre o lago, no entorno do coreto.
Na calçada do lado direito da praça, incluindo a rua, era reservado ao vai-vem dos namorados. Na calçada e rua em frente à Matriz, passeavam alegremente as famílias negras.
Este esquema perdurou por vários anos no mais absoluto espírito de diversão, quando também no Clube Vargengrandense, centro cultural da cidade acontecia os bailes das elites, na Sociedade Espanhola, o baile dos operários e no Clube 13 de Maio, em frente à estação, o baile das famílias negras.
A convivência entre os grupos era natural, sendo que nos carnavais os cordões carnavalescos visitavam cada um dos outros clubes.
O serviço de alto-falantes na praça da Matriz nos anos 50 tornava possível o oferecimento de músicas para os flertes e eventuais namorados.
Mas no coração da cidade, a praça da Matriz continuou sendo a referência principal, ponto de discussão e apresentação das grandes notícias, dos grandes comícios.
Mesmo com as mudanças de hábitos e maior democratização de costumes. Com o tempo, o esquema da praça foi naturalmente mudando, especialmente nos anos 50 com o advento do Cine Rio Branco.
A Sociedade Italiana, hoje SBB, desponta como um novo clube substituindo a Sociedade Espanhola e com o tempo, sobrepõe o elitizado clube vargengrandense. Aos poucos, o povo em geral passeava na calçada e na rua em frente ao cinema, ansiosos pelos novos lançamentos cinematográficos, enquanto que os namorados disputavam um banco do jardim. Belos anos, belos dias!
Hoje, 2021, há quase dois anos a praça não é mais do povo devido a pandemia da Covid-19 que sacudiu o mundo. Não fora tal catástrofe estaríamos todos lá, como sempre fazemos, aos milhares, em clima de família, nos eventos que marcam nosso Calendário Cultural.
E então haveremos de novo de ver nossa praça se encher de gente e de novo apreciar as manifestações culturais dos nossos artistas da casa.

Aniversário de Vargem terá exposição sobre a Praça Cap. João Pinto Fontão

Vargem Grande do Sul irá celebrar os 147 anos de sua fundação no próximo dia 26 de setembro, um domingo. Para festejar a data, ainda seguindo as medidas de prevenção à Covid-19, o Departamento Municipal de Cultura e Turismo programou eventos especiais para o final de semana do aniversário.
Conforme o apurado pela Gazeta, no dia 25 de setembro, será realizada na Praça Capitão João Pinto Fontão a primeira exposição de fotos ao ar livre na cidade, com o tema “A Praça é do Povo”, contando através de fotos, eventos sobre a Praça Central de Vargem. Haverá também registros da Rua do Comércio, resgatando importantes momentos desta via que marcou o desenvolvimento da cidade, além de imagens das antigas construções da Igreja Matriz de Sant’Ana.
A exposição tem como objetivo apresentar uma bucólica Vargem Grande de outrora, com contornos diferentes de hoje, mas nunca perdendo o diferencial de ser um lugar de convívio e sendo a concentração de grandes eventos e atos importantes. A exposição seguirá até o final do mês.

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