Aumento dos insumos vai impactar custo da safra de batata deste ano

Área de plantio da batata deve ser mantida neste ano

O que já era motivo de preocupação dos produtores agrícolas brasileiros, os aumentos que vinham acontecendo com os insumos usados nas lavouras, com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia que já ultrapassa os 30 dias, só se agravou. Os valores destes produtos mais que dobraram, principalmente dos fertilizantes que têm na Rússia uma das principais produtoras e o Brasil como um grande importador destes insumos.
Com o plantio da safra de batata deste ano tendo neste final de março e início de abril, os produtores que fazem parte da Associação dos Bataticultores da Região de Vargem Grande do Sul (ABVGS) e também da Cooperativa dos Bataticultores da Região de Vargem Grande do Sul (Cooperbatata), estão preocupados com os custos da produção de 2022 e das consequências que poderão sofrer quando da venda da safra, que deve ocorrer no início de julho deste ano.
A Gazeta entrevistou tanto o presidente da ABVGS, Pedro Marão Neto, como também o presidente da Cooperbatata, Lucas Lemos Ranzani, para saber mais sobre o atual momento que vive o agronegócio da batata na região, que engloba mais de 300 cooperados da Cooperbatata e 140 associados da ABVGS, plantando em Vargem e municípios da região e em Minas Gerais.

Área plantada
Com relação à área plantada, que nos últimos anos tem sido em torno de 10.000 hectares, este ano na previsão de Lucas Ranzani deve ser mantida. A mesma avaliação do presidente da ABVGS, Pedro Marão, que explicou que o planejamento do plantio de semente de batata é feito com dois anos de antecedência, e devido ao clima do ano passado ter ajudado muito, isso antes da geada, as áreas reservadas para semente foram muito boas e produtivas.

Produtores estão
preparados

Segundo apurou o jornal, a maioria dos produtores está bem estruturada através da atuação da ABVGS e também da Cooperbatata. As sementes para o plantio deste ano, que tem um peso grande no custo de produção, já estão preparadas.
Neste sentido, conforme explicou Pedro Marão à Gazeta, a ABVGS através da importação de sementes, desde o final do ano passado já vinha tratando com os fornecedores o suprimento para o associado. “Então, 95% da batata que importamos já está disponível para o associado. Faltando apenas um container para chegar ao Brasil”, disse.
Com relação aos insumos, segundo o presidente Lucas Ranzani da Cooperbatata, “os cooperados estão abastecidos em seus estoques de produtos para tratamento de sulco de plantio e produtos para condução de uma safra normal. Sem eventualidades”. Explicou que como a Cooperbatata é uma referência em Hortifruti-Hf, tem empresas nacionais e multinacionais que são parceiras há 20 anos da cooperativa. “Seus portifólios são negociados pela diretoria e o setor de compras, sempre priorizando melhores condições comerciais para o cooperado. Assim já se tem uma estratégia de volume a ser usado nas safras de Vargem e Minas. As negociações ocorrem antecipadamente a elas”, afirmou.
No plantio da batata basicamente se faz a correção de solo de acordo com a sua análise, descreveu Lucas Ranzani, que também é agrônomo. O uso de adubação de plantio é feito de acordo com a extração da cultura e a recomendação feita baseada na análise dos técnicos. “No tratamento de sulco se usa fungicidas, inseticidas, nematicida, produtos biológicos e fertilizantes”, comentou.
No seu entender, os estoques para a atual safra estão normais junto à cooperativa, pronto para atender a demanda dos cooperados. Explicou que em fevereiro, a Cooperbatata realizou uma feira junto aos seus associados, onde 80% dos produtos para a atual safra foram adquiridos pelos cooperados. Sobre a possibilidade de faltar insumos para a safra deste ano, Lucas disse que existe a possibilidade, porém de alguns produtos específicos ou de uma ou outra empresa multinacional. “Mas, acredito que possa ser substituído por outro produto com os mesmos princípios ativos”, falou. Para ele, o mercado deve se normalizar na segunda metade de 2023.
Já Pedro Marão da ABVGS afirmou que um adubo que sempre foi muito utilizado na região era o 04-14-08, mas com as novas formulações disponíveis no mercado, vários produtores têm adotado adubos mais concentrados em fósforo no plantio. “Além das fórmulas para plantio, as fórmulas de coberturas, concentradas em nitrogênio e potássio, são de extrema importância para o desenvolvimento da cultura”, explicou o presidente que também é engenheiro agrônomo.
Com relação ao estoque destes produtos junto aos produtores, Marão afirmou que vários associados já vinham comprando seus adubos desde o começo do ano, mas a maioria acabou deixando para realizar os pedidos de acordo com a sua colheita de milho e soja, de acordo com os recebimentos.
“Alguns associados conseguiram comprar produtos com uma alta menor do que as que estão sendo oferecidas agora, mas como o espaço físico para armazenagem dos adubos é limitado nas propriedades, vários não conseguiram realizar suas compras antecipadas”, comentou.
Ao ser perguntado se já estava faltando insumos para os associados, Marão afirmou que muitas empresas não estão tendo disponibilidade de fórmulas, lista de preço mudando a toda hora e que as cotações chegam a ter três no mesmo dia. “Então, para dizer o português claro, uma verdadeira bagunça”, desabafou o presidente da ABVGS.

Alta dos preços
assusta produtores

Houve aumentos em todos os setores, com alguns itens subindo entre 20% até 200%, dentre defensivos e adubos, explicou Lucas Ranzani da Cooperbatata. Para ele, a reação é unânime entre os cooperados, que se preocupam com o futuro próximo, pois é inserto a precificação final da batata em natura. “Um investimento muito alto é a única certeza…”, desabafou o presidente, que prevê um aumento dos custos por hectare de R$ 25 mil para R$ 50 mil hoje, uma média de 100%, no seu entender.
Indagado como os associados estão se portando em relação ao aumento dos insumos, o presidente da ABVGS afirmou que eles estão tentando, de alguma forma, diminuir os custos, mas que chega um determinado momento que não tem mais de onde cortar, pois começa a prejudicar a produção.

Preço é uma incógnita
Se os preços dos insumos subiram absurdamente – um produtor consultado pelo jornal disse que houve em alguns produtos, aumento de 400% – nenhum produtor pode prever quanto será vendido o saco da batata no início da colheita, que deve acontecer em julho.
“Como sempre é uma situação de incógnita, pois tem muita semente, custo muito elevado e o cenário de consumo completamente bagunçado”, explicou Pedro Marão. Para ele, o custo já é certo que estará mais alto. “E não temos garantia nenhuma qual os preços que vamos vender nossa mercadoria. Diferente de milho e soja, que podemos travar os preços de venda, batata é um produto perecível, e isso prejudica demais a cadeia”, explicou Marão que também é produtor. Lucas Ranzani também tem o mesmo raciocínio. “O aumento dos insumos provoca um aumento no custo de produção inevitavelmente. Porém, é a lei da oferta e procura que dita o mercado e a precificação final do preço da batata”, afirmou.

Entidades ajudam seus cooperados
A região de Vargem Grande do Sul produz cerca de 60% da safra de batata de inverno do país. Nos últimos anos tem sido plantado algo em torno de 10.000 hectares em Vargem e nos municípios vizinhos. No ano passado, apesar da geada, a safra foi boa para a maioria dos produtores, chegando a movimentar mais de R$ 400 milhões.
Todo o sucesso de cultivo que ao longo dos últimos anos vem permeando a safra de batata na região de Vargem, se deve além dos trabalhos dos bataticultores e todos os envolvidos no plantio, à existência da ABVGS e também à Cooperbatata, que dão o devido suporte aos seus associados e cooperados. Perguntado sobre a estrutura da Cooperbatata para ajudar seus cooperados Lucas Ranzani disse que a entidade que preside vem trabalhando os menores custos dos insumos usados no plantio de hortifruti-HF. “A cooperativa vem investindo em silos para armazenagem e comercialização de cereais que ajuda na capitalização do cooperado. Assim ele pode investir em produtos através do “Barter” – negociação realizada entre produtores rurais e empresas de insumo”, explicou.
Outra contribuição aos cooperados, segundo Lucas, é a comercialização de óleo diesel através do seu Transportador Revendedor Retalhista (TRR). Além disso, afirmou que a cooperativa presta serviços de assistência técnica por agrônomos que não tem a obrigação de vender produtos e sim recomendar o melhor tratamento, melhorando o atendimento e reduzindo os custos dos cooperados. “Temos o laboratório que faz as análises de viroses e foliares que também ajudam os produtores na tomada de decisão”, acrescentou.
Foi da união dos bataticultores através da ABVGS, que se deu a criação da Cooperbatata. Palco das discussões dos problemas que afetam diretamente o plantio da batata, hoje uma das principais funções da associação consiste na compra das sementes para o plantio da batata, que conforme explicou o presidente Marão, já estão 95% asseguradas para o plantio deste ano.
Indagado se está tendo algum tipo de contribuição por parte do governo federal para amenizar a situação dos preços dos insumos, Marão falou que a ministra da Agricultura Tereza Cristina tem tentado achar alternativas de importação dos produtos, vindo de outras localidades que não seja das regiões de conflito. “Então temos que torcer para que possam chegar alternativas que possam baratear os custos no futuro”, pontuou. “Gostaríamos que essa situação possa ser resolvida o mais rápido possível, para que possamos produzir alimentos com ainda mais qualidade do que já produzimos, e com preços de venda justos, para não prejudicar o consumidor final com esse aumento tão abusivo dos custos”, finalizou o presidente da ABVGS.
Também finalizando sua entrevista, Lucas Ranzani afirmou que a Cooperbatata é um patrimônio conquistado com muito trabalho, empenho e dedicação dos cooperados. “O cooperativismo move um grupo de pessoas, cidades e estados. Nossa missão é zelar para que os nossos cooperados tenham sucesso em suas atividades e que continuem cuidando da cooperativa com toda fidelidade e respeito que sempre mereceu”, disse, desejando ótima safra a todos.

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