A próxima quinta-feira, dia 22, será uma data histórica em Vargem Grande do Sul. Neste dia, será celebrado o centenário da emancipação política da cidade, quando o município deixou de ser administrado por São João da Boa Vista e passou a construir sua própria trajetória.
No livro que conta a história da Câmara Municipal, Zezé Miranda e Dôra Avanzi escreveram detalhadamente sobre o ocorrido. Em reportagem publicada em dezembro do ano passado, quando completou-se um século da assinatura do decreto estadual que criou o município vargengrandense, a Gazeta de Vargem Grande também publicou reportagem especial contando como foi a luta dos políticos e líderes da comunidade na época, que reuniram grande quantidade de dados que foram enviados à Assembleia Legislativa na época e que subsidiou o projeto de lei assinado pelo governador Washington Luís.
Ainda enfrentando a pandemia da Covid-19, não será possível celebrar o centenário com os mesmos festejos que o povo vargengrandense comemorou sua emancipação política. No entanto, a data será motivo de sessão solene no Legislativo no dia 26, haverá uma missa em ação de graças. Já o Departamento de Cultura irá promover um show on-line ao vivo, que além de músicas, contará com trechos da história de Vargem Grande.
Preparativos
Pouco tempo depois do Distrito de Santana de Vargem Grande ser elevado à categoria de Vila, em 1908, ainda no governo do Cel. Lúcio Bernardino da Costa, começou o movimento para a emancipação política.
Já sob a direção do vereador Cap. Belarmino Rodrigues Peres, a criação do município envia ao Congresso Estadual, atual Assembleia Legislativa, uma primeira representação assinada pelos políticos locais solicitando a criação do município de Vargem Grande. Como foi avaliada a necessidade de incorporação de terras dos municípios vizinhos, as discussões sobre a emancipação foram adiadas.
Antevendo a separação necessária, Cap. Belarmino iniciou várias obras preparando a mudança de vila para município. Assim, em 29 de junho de 1918, inaugurou o edifício da sub-prefeitura (onde hoje se encontra a Câmara). Houve na ocasião com grandes festejos, bênçãos do padre Donizete Tavares de Lima e a instalação de fotografias em reconhecimento aos grandes benfeitores da terra: Cap. João Pinto Fontão, Cap. Belarmino Peres, Cap. Joaquim Otaviano de Andrade (Quinzinho Otávio) e Dr. Cândido Libânio. O orador foi o professor Benjamin Bastos, que poucos meses depois faleceria, vítima da Epidemia de Gripe Espanhola de 1918. Na mesma data foram inaugurados os Jardins Públicos, a atual Praça da Matriz e Praça da Sub-Prefeitura, que posteriormente seria Praça Municipal e, logo depois, Praça Washington Luís.
Divisão
Em 16 de agosto de 1919, iniciou-se a discussão das divisas do novo município. Vários proprietários de terras de Casa Branca, que faziam divisa com Vargem Grande assinaram uma moção endereçada à Assembleia. Na moção, ressaltavam a importância da emancipação e sugeriam a inclusão, na área do novo município, de todas as fazendas, sítios distantes até 12 km da Vila de Vargem. No início, de 1921, o deputado sanjoanense Dr. Theophilo Ribeiro de Andrade leva ao Congresso Estadual a representação vargengrandense e passa a ser o seu maior defensor na tribuna daquela assembleia. Em 27 de novembro de 1921, após passar por três discussões e três votações, o projeto finalmente foi aprovado. Em 1º de dezembro de 1921, o presidente do Estado de São Paulo, Dr. Washington Luís Pereira de Souza assina o Decreto-Lei nº 1804, que cria o município de Vargem Grande.
Instalação do município
A instalação do município ocorreu no dia 24 de fevereiro de 1922. Entre as celebrações, houve alvorada, missa celebrada pelo Padre Donizete, banquete, baile, etc. Neste mesmo dia, ocorreu a solenidade da posse da primeira Câmara.
Foi eleito presidente Joaquim Otávio de Andrade e vice-presidente Francisco Thomaz de Andrade. Cap. Belarmino Rodrigues Peres, o vereador que ocupava o cargo de sub-prefeito, foi escolhido para ocupar o cargo de prefeito. Ainda compunham a primeira legislatura Maj. Eustáquio Ferreira Lima, Joaquim Maciel de Godoy e Antônio de Oliveira Fontão.
A festa da emancipação
Mario Poggio Junior, em colaboração publicada originalmente na edição de 2 de dezembro de 2000, escreveu que a instalação do município de Vargem Grande foi comemorada com uma grande festa, planejada por comissão especialmente constituída (seu principal membro era o Major Corrêa).
Nesta data, os vargengrandenses esqueceram a dissidência política (a disputa era tão acirrada que havia dois clubes, duas bandas, etc., uma para cada facção política) e todos participaram do acontecimento.
Durante a madrugada as Corporações Musicais “Carlos Gomes” (regida pelo Edmundo Russomano) e “Sete de Setembro” (regida pelo Alcebíades Ferreira Lima), desfilaram pelas ruas, ornadas com arcos multicores, bandeiras e dísticos alegóricos, despertando o povo com seus belos acordes.
Às 10h, chegou a comitiva de São João da Boa Vista, tendo à frente o deputado estadual Teófilo Ribeiro de Andrade e o Juiz de Direito da Comarca, Dr. Nélson de Noronha Gustavo. Às 13h, no salão nobre do edifício do Paço Municipal, sob a presidência do magistrado, foi instalada a Câmara Municipal. A seguir, discursaram José Osório de Azevedo, em nome do diretório político; Antônio de Oliveira Fontão, em nome dos vereadores empossados; Dr. Teófilo Ribeiro de Andrade, propugnador da causa perante o Congresso; Dr. Antônio Cândido Oliveira Filho, em nome da Câmara Municipal de São João da Boa Vista; Aleixo Lentino, Delegado em São João da Boa Vista; e Alvino Lima, vargengrandense e um dos primeiros jornalistas de Vargem, na qualidade de Prefeito Municipal de Casa Branca.
Finalmente, à noite, realizou-se banquete oferecido às autoridades, no salão do Centro Recreativo “Carlos Gomes”, atual Clube Vargengrandense, seguido de partida dançante, abrilhantada pela orquestra de São José do Rio Pardo, e em paralelo baile popular na Sociedade Hespanhola, atual Escola de Música.
Dívida até 1945
Mario Poggio Jr ainda lembrou que por ocasião da emancipação política e administrativa, Vargem foi obrigada a assumir dívida consolidada com o município de São João da Boa Vista, do qual se desmembrou, no montante de CR$ 320.000,00 (trezentos e vinte mil cruzeiros), com juros de 8% (oito inteiros por cento) ao ano, para pagamento da primeira parcela em setembro/1922 (CR$ 50.000,00 – Cinquenta mil cruzeiros) e a última em 1945 (Cr$ 10.000,00 – dez mil cruzeiros).
Porém, em 1943, o então prefeito Edmundo Dante Calió, verificando a possibilidade de quitação antecipada da dívida, apresentou projeto de lei, aprovado pela Câmara Municipal, antecipando pagamento das duas últimas parcelas (no total de Cr$ 20.000,00 – vinte mil cruzeiros), com redução de dois anos e meio de juros, concretizando-se a liquidação do débito em 20 de junho de 1943.