Caminhoneiros contam as principais mudanças na rotina após mais de um ano de pandemia

Pedro Henrique é caminhoneiro há 9 anos. Foto: Arquivo Pessoal
Luthi falou da dificuldade para comer e tomar banho no início da pandemia . Foto: Arquivo Pessoal

Passado mais de um ano da pandemia da Covid-19, a Gazeta de Vargem Grande procurou saber quais foram as principais mudanças na rotina de quem vive pelas estradas do país e conversou com alguns caminhoneiros. Luís Antônio Cândido, conhecido como Luthi, percorre as estradas brasileiras há 20 anos. Ele, que viaja para todos os cantos do país, contou que o que o motivou a ser motorista foi seu sonho de infância.
Para ele, o maior obstáculo enfrentado foi no início da pandemia. “Porque em viagens longas quase não tinha locais abertos na beira da rodovia para se alimentar e tomar banho. Depois com o passar do tempo, tudo foi se normalizando, mas ainda com os cuidados de higiene, como lavar as mãos, usar álcool em gel e em todo lugar o uso obrigatório de máscara”, disse. O caminhoneiro contou que o apoio que teve da população em geral foi muito importante. “No começo, várias pessoas nos apoiaram levando marmitas, frutas e bolachas em pontos na beira da rodovia, até que os restaurantes voltassem a funcionar. Posso dizer que tivemos bastante apoio da população nesse sentido”, disse.
Luthi comentou sobre o medo de contrair o vírus. “Apuro mesmo não passei por nenhum nessa pandemia, mas o maior medo é quando estou em algum Ceasa, pois o fluxo de pessoas é muito grande e não são todos que respeitam as normas de distanciamento e o uso de máscara”, completou.
Afinal, embora não tenha pego a doença, o caminhoneiro perdeu alguns amigos para o vírus. “O Governo deveria ter disponibilizado vacinas para os caminhoneiros logo que começou a vacinação. Acho que deveriam ter dado prioridade para nós caminhoneiros, olhado para nós como linha de frente, porque quando todos pararam nós continuamos e se nós tivéssemos parado, teria sido um caos total”, finalizou.

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Preconceito ainda é uma das principais dificuldades

Pedro Henrique é caminhoneiro há 9 anos. Foto: Arquivo Pessoal

Pedro Henrique de Souza Rodrigues, de 28 anos, está há 9 anos na profissão e também conversou com a reportagem do jornal sobre as dificuldades que vêm enfrentando na pandemia.
O caminhoneiro que roda o Brasil e já foi a inúmeros lugares como Acre, Pará, Rondônia, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, contou que durante todo este período está sendo bem complicado para a classe de motorista rodoviário.
“Foi muito difícil, principalmente no começo e no meio, quando deu o pico, não tinha o que comer, eram poucos os lugares que serviam comida e era só pra pegar marmitex e não podia consumir no local. Para tomar banho era aquela fila e dificuldade porque não podia aglomerar, muitos lugares nem tinha o que comer”, disse.
Ele relatou que apenas agora a maioria dos lugares está abrindo direito, mas no começo era necessário levar comida no caminhão para não passar fome. “Nós chegávamos para abastecer e estava só o posto funcionando, a lanchonete e o restaurante não”, contou.
Entre os receios, o de contrair a doença estava em primeiro lugar. “O medo de pegar o vírus e levar pra dentro de casa é muito grande, porque não sabemos quem tá com o vírus ou não tá, onde o vírus tá ou não, então esse é o medo maior do motorista de caminhão”, comentou.
Para o caminhoneiro, esta é uma fase muito difícil que o motorista está passando, principalmente devido ao preconceito que acontece até os dias atuais. “Às vezes você chega em um lugar pra comer ou comprar algo e a pessoa que está de carro a passeio olha como se fosse a gente que trouxe o vírus pra nação brasileira, é bem constrangedor”, disse.
Pedro pontuou que ninguém vê as dificuldades que os caminhoneiros vêm enfrentando ao longo da pandemia. “Mais da metade do Brasil parou e a classe de motorista de caminhão não. Foi a única que não parou nunca no meio de transporte rodoviário, porque ônibus parou, aeroporto parou e todos os outros, mas motorista de caminhão não”, relembrou.
Sobre a vacina, ele opinou que a prioridade tinha que ter sido motorista de caminhão. “Porque se pararmos, o Brasil para, falta coisa na mesa do consumidor final, as prateleiras dos mercados vão ficando com falta de produtos, até mesmo remédio, oxigênio hospitalar e todo o resto”, falou. “Então acho que motorista de caminhão carrega o Brasil nas costas e quase ninguém vê. Somos vistos como monstros, pois passa e vê um caminhão tombado ou que bateu já fala que o motorista estava louco, que só anda correndo, mas é complicado”, completou.
O motorista contou que o que o motivou a começar a trabalhar com caminhão foi seu pai, Marco Aurélio Rodrigues, que sempre foi caminhoneiro. “Já começou de berço, eu nasci dentro de um caminhão, fui criado dentro de um caminhão e tudo que meu pai pôde dar para mim, minha mãe e minha irmã na época que eram casados, veio através do caminhão. Fui pegando gosto, fui me interessando e é uma paixão”, disse.
Para ele, o caminhão não é pra quem quer e precisa por necessidade. “Pra ser motorista de caminhão você tem que gostar, tem que nascer com isso, tem que amar, tem que correr diesel nas veias como dizem os mais velhos. É o sonho de qualquer moleque e criança e, graças a Deus, hoje estou servindo a esta profissão”, finalizou.

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