A difícil missão

A difícil missão. Foto: Arquivo Pessoal

A ordem havia sido expedida e era bem clara. A árvore de Natal é por tua conta. Poderia ser uma tarefa bem simples, bastaria ir a uma floricultura, ver o tamanho dos pinheiros e o quanto o bolso poderia pagar e pronto. Levaria a árvore símbolo para casa e missão cumprida.
Mas os tempos são outros, os pinheiros pequenos e o bolso mais ainda. A fim de cumprir a determinação, após sair no sábado bem de tardezinha da festa de aniversário de um amigo, tomei o rumo da estrada de São Roque e comecei a buscar um pinheirinho, algo que eu pudesse cortar com o pequeno serrote que já tinha deixado dentro da caminhonete.
Estava uma tarde linda, ameaçando chover, muitas nuvens carregadas, o que me deixava também um tanto melancólico. Porém, nada de avistar algo que se parecesse com uma árvore de Natal.
Um sentimento familiar me tomou conta quando deixei o asfalto da sinuosa estrada de São Roque e entrei numa estrada de terra que ia dar na antiga Tulha de Pedra, lá pelos lados da fazenda da Família Amaral e onde meus familiares paternos, os Ligabues, tinham terras e plantavam café.
Comecei a imaginar meus bisavós, avós e também meu pai ainda pequenino com seus irmãos fazendo aquele trajeto, quem sabe numa carrocinha ou num trole que meu bisavô Vitório Ligabue possuía e meu pai tanto falava.
O tempo nublado contribuía com aqueles pensamentos, buscava na solidão da minha mente, referências para sonhar um pouco com a vida que meus antepassados levavam, as alegrias de viverem num lugar de serra, de matas, de tantas lutas para sobreviverem. A todo instante me perguntava como seria o dia a dia daquelas famílias italianas que deixaram a Europa para enfrentar o que de novo a América oferecia.
Como seria o Natal deles, naqueles idos de 1920, época em que meu pai nasceu e tão precocemente perdeu a sua mãe. Lembrei muito de meu pai, minha mãe, doces lembranças me invadiram.
Mas, nada de árvore de Natal. Sentei então debaixo de uma frondosa mangueira, bem no meio do caminho para saborear uma manga de vez, como dizíamos quando meninos, após apanhá-la com várias pedradas que lancei.
O tempo só fazia escurecer, a chuva ameaçava cair a qualquer momento. A natureza parecia estar em fúria, como meu Tio Chicuta falava. Fiquei ali absorto, deixando vaguear os pensamentos, uma comunhão com o passado, com meus antepassados, só cortada pela acidez da manga que não estava prontamente madura.
A chuva veio mansa e tomei o rumo de casa. A missão ainda não estava cumprida, faltava a árvore de Natal e o tempo corria contra, pois já estava quase na semana natalina. Às vezes buscamos tanto na vida, vamos tão longe e a resposta pode estar bem próxima de nós.
No quintal de casa, olhei para o pinheirinho que cresce tranquilo num canto perto da horta. Cortá-lo não seria uma boa opção e as filhas certamente iriam me cobrar. Ele era fruto de natais passados, pois serviu de árvore de Natal e foi replantado. Seus galhos, porém, poderiam servir. Cortei vários deles, sem danificar a planta. Juntei-os e coloquei num vaso grande. Amarrei bem com arame, linha de pesca, ergue daqui, puxa dali, a árvore foi tomando forma e a Fátima e a Sara puderam enfeitá-la e finalmente nossa árvore de Natal ficou pronta.
Nestes tempos modernos, fotos de todo lado foram feitas da nossa engenhosa árvore. As filhas compartilhando, achando tudo lindo e o Espírito Natalino foi tomando conta da casa e da família.
A árvore de Natal não ficou uma “brastemp”, mas está lá cumprindo seu papel, nos lembrando que breve haverá o nascimento de Jesus e tudo que ele significa para a humanidade. Eu fiquei também mais tranquilo, pois cumpri com minha missão mais uma vez. Algo que acontece há mais de trinta e seis anos e é sempre uma aventura cumprir. Um bom Natal a todos.

Tadeu Fernando Ligabue

 

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