“Conversa de peão em céu azul de Romaria”

Dôra Avanzi no palanque da Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana de 2016. Foto: Arquivo Gazeta

Tadeu Fernando Ligabue

O título acima é de autoria da jornalista Dôra Avanzi, cuja matéria foi escrita no jornal A Tribuna, na edição publicada no dia 25 de julho de 2009. A Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana vai se desenrolando no tempo e paralelamente, vai  construindo outra história, a dos que dela não mais participarão.

No evento deste ano, não estará presente dentre tantos outros ilustres romeiros, a jornalista Maria Auxiliadora Avanzi Nunes, mais carinhosamente conhecida por todos nós como Dôra Avanzi, falecida em novembro do ano passado, aos 63 anos de idade. Uma das mais importantes jornalistas de Vargem Grande do Sul, Dôra era escritora e também poetisa. Ela era formada em jornalismo pela Cásper Líbero e em publicidade e propaganda pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).

O próprio nascimento do jornal Gazeta de Vargem Grande teve em Dôra Avanzi uma das incentivadoras na época. Havia pouquíssimos jornalistas vargengrandenses e o então fundador do jornal, Tadeu Fernando Ligabue recebeu suas primeiras noções sobre jornalismo através dos ensinamentos da profissional que na época residia em São Paulo, mas sempre estava presente na cidade.

Desde as primeiras edições do jornal Gazeta de Vargem Grande ela colaborou com este semanário, enriquecendo suas páginas com seus textos bem construídos, sua erudição e profissionalismo, contando suas histórias baseadas na boa pesquisa histórica, quando se tratava de retratar dados como a Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana, por quem ela nutria especial interesse jornalístico.

Seus escritos ajudaram a manter viva a memória da cidade e também sua luta por um município melhor, através das matérias por ela escrita no jornal A Tribuna, da qual foi editora e proprietária durante alguns anos.

Nesta edição da 44ª Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana, a Gazeta de Vargem Grande faz sua homenagem à jornalista Dôra Avanzi que muito contribuiu para a preservação e a tradição da romaria através de importantes e bonitas matérias.

Em “Conversa de peão em céu azul de romaria” ela cita alguns dos primeiros romeiros que já faleceram e “lá em alguma ponta do céu, eles viam a longa romaria cá embaixo, avolumada lá no Poli e fluindo em fila já pelas ladeiras da Vila Santana”.

“Era o Ditão Ranzani, o Cidão Benaglia, João do Banespa, o Salim, o seu Artur, o Tião Capitão, Olinto, Luizão, o Pedro Sagiorato, mais Mateus, Laércio da Conquista, Miltão Gambaroto, João Bobo, Chiquinho Ligabue, Milica e Tilica e muito mais”.

Hoje, certamente para ilustrar as histórias destes romeiros no céu, lá está Dôra Avanzi com sua fina pena a contar a vida de cada um na lida com os animais e a religiosidade que a todos entrelaçava.

Outros se juntaram a eles, como os ex-prefeitos Huber Bráz Cossi, Homero Correa Leite, dona Beatriz e mais recentemente também o Rubão. No bonito colóquio que se dá entre os muitos cavaleiros que já partiram e estão lá de cima vendo a romaria passar, Dôra Avanzi consegue dar vida e o significado que a procissão tinha para cada um.

Misturando vida, morte, sonho, realidade, descreve como atônitos os velhos romeiros se veem também participando do cortejo. “Vige, viramos assombração! Tô te vendo lá, Ditão”, grita o Milton. “Tô te vendo também, Salim”, grita o outro. “E mais o Artur, o Laércio, o João, o Tião, o Pedro, nóis tudo!”, diz mais um.

“Gente, ou nóis tamo lá achando que tamo aqui, ou tamo aqui atrapaiado com as saudades, sonhando com a romaria!”, diz o Cidão Benaglia, tão confuso quanto os demais.

“Monsenhor Celestino sorriu e disse assim, meio emocionado:- “Vocês se veem lá com os olhos de sua fé, com a saudade de quem nunca os esquece”.

“Um grande silêncio – desses que se precisa pra sentir como a alegria vai entrando por dentro da gente com aquele calorzinho benfazejo – reinou naquelas ditas pontos do céu, onde a peonada se entreolhava feliz, com aquele ar de “Ah! Então é isso”. E sem desgrudar os olhos da romaria, que já ia para o seu finzinho, dispersando após a segunda volta na praça”, finaliza o texto.

Neste domingo, numa manhã clara, quando os primeiros romeiros apontarem na Praça Capitão João Pinto Fontão, vindos do largo da Igreja São Joaquim, não será somente a multidão a olhar e se extasiar com a procissão. Em alguma pontinha de nuvem no céu de Vargem Grande do Sul, lá deverá estar a jornalista Dôra Avanzi junto com os demais romeiros que já não estão mais presentes entre nós, a observar com os olhos da saudade, mais uma romaria acontecendo na cidade.

Dôra Avanzi no palanque da Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana de 2016. Foto: Arquivo Gazeta

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