Uma obra rica com a história das mais de quatro décadas da Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana. Este é o resultado do documentário “Cavaleiros de Sant’Ana”, da cineasta Juliana Bologna, apresentado recentemente na Casa da Cultura. Presentes no evento, várias pessoas que fazem parte da organização da romaria, personagens do documentário, convidados e também familiares e amigos da cineasta, que em entrevista ao jornal Gazeta de Vargem Grande, contou um pouco sobre sua obra.
Indagada sobre o que a motivou retratar a história da Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana, Juliana disse que alguns de seus objetos de pesquisa são linguagens experimentais no audiovisual e rituais místicos e festas religiosas. Ela comentou que estava definindo o assunto para um projeto de mestrado em Antropologia Visual e da Midia, na Freie Universitat Berlin, em 2013 e revendo passagens na biblioteca da fazenda da família, deparou com um álbum de fotos antigas da Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana.
Os familiares de Juliana são de Vargem Grande do Sul, onde ela passou parte de sua infância e juventude e a realização da romaria dos cavaleiros na cidade já era do seu conhecimento. “Naquela mesma noite sonhei com a primeira vez que vi a Romaria passar, aos 8 anos, cruzando a Praça Nossa Senhora Aparecida na diagonal, cerimônia do Beija-Fitas. A praça, os cavalos, o som dos cavaleiros passando, as fitas, a menina, ficaram em mim”, falou.
Conta que foi assim que saiu o projeto de mestrado “Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana: resistindo e se renovando através do tempo”, que consiste em uma etnografia da Romaria (algumas conversa gravadas somente em áudio, outras áudio e vídeo) e um texto audiovisual experimental. O documentário é o desdobramento desse projeto, afirmou.
Juliana disse que ao longo do processo sentiu necessidade de incluir as falas das pessoas e começou um novo filme. “Parti com a ideia de uma investigação antropológica da manifestação da fé Mariana na Romaria. O assunto foi se apresentando de uma outra maneira, então decidi fazer outro filme, numa linguagem mais tradicional. Senti uma preciosidade enorme nas histórias contadas pelas pessoas que precisavam ser inseridas em vídeo, então o novo recorte foi baseado nas falas das pessoas”, disse.
Para ela, o documentário se reveste de um agradecimento às pessoas que colaboraram com o projeto. “Essa gente maravilhosa de força e fé que são as Amazonas e Cavaleiros de Sant’Ana”, ressalta.
Produção
A produção do documentário teve inicio em 2013, e segundo ela, desdobrou-se em dois projetos diferentes. A pesquisa para o mestrado, que iniciou em 2013 com as famílias Avanzi, Ranzani, Ribeiro e pessoas como Soraia Souza, Cris e Lourdes Santamaria e as realizadas na Casa da Cultura, nos jornais A Tribuna, junto à jornalista Dôra Avanzi e com a Gazeta de Vargem Grande, junto à jornalista Lígia Ligabue, que segundo ela “gentilmente desceu todo o precioso arquivo da Gazeta sobre a Romaria numa segunda de manhã”.
Explicou que as gravações para a pesquisa aconteceram em 2013, completando para o documentário em 2016 e que as imagens da Romaria do projeto de mestrado foram as de 2014. “Quando decidi fazer o novo recorte, abri o projeto para patrocínio, tendo Miguel Halla e Café Pacaembu, Bia Bologna e Agro CRV como patrocinadores do projeto”, falou.
A estrutura do novo corte foi baseada nas falas das pessoas, explicou a cineasta, que lamentou as cenas e conversas que queria muito, mas não conseguiu inserir no documentário. “Houve surpresas encantadoras, como os vídeos da Luísa Ranzani no Rancho Bisturi, que só veio a ideia de inserir na montagem. Alguns assuntos surgiam iguais outros complementares. Como deixei muito espaço para o acaso, sem respostas induzidas, a obra foi praticamente construída na montagem”, afirmou Juliana.
Para a realização do documentário, foram captadas imagens de três romarias, as de 2014, 2015 e 2016. Disse que como em 2014 o primeiro enfoque era o Beija-fitas, ela concentrou-se na saída e na cerimônia que acontece na Praça Nossa Senhora Aparecida, conhecida como o Beija-fitas. Ato realizado pelos romeiros em louvor à padroeira. Na de 2015, foram gravadas as primeiras imagens aéreas. “O ‘céu azul da romaria’ faltou, então fiz outra tentativa em 2016. Na montagem acabei inserindo imagens de todas”, explicou, dizendo que as conversas ela gravou sozinha. A cineasta tinha como premissa uma equipe mínima, somente luz natural, com o som captado na câmera.
Cerca de 20 pessoas foram ouvidas no documentário
Para a pesquisa e documentário foram ouvidas 20 pessoas, segundo Juliana Bologna. Foram elas: Alessandra Lodi, Antônio Carlos Ranzani, Antônio Cossolin, Célia Ranzani, Cris e Rubão, Cristina Mazeto, Dôra Avanzi, Pe. Edson, Fábio Henrique de Oliveira, Isa Lemos Ranzani, João do Deco, José Luis Avanzi, José Olímpio (Seu Olímpio Carreiro), Lúcia Osseti, Leandro Palaoro, Miguel Halla, Soraia Souza, Vanderlei José Gonçalves, Vô Dito e Vô Vicente.
Também foram ouvidas três famílias de iniciadores das Romaria em Vargem, Avanzi/Ranzani, Ribeiro, Souza, através de Rubens Ribeiro (Rubão), Benedito Ranzani (Ditão) e José Carlos de Souza (Zé do Olinto). Também alguns membros e presidentes da Comissão Organizadora atuais e do passado, como João do Deco (pesquisa), José Luís Avanzi (pesquisa), Padre Edson, Padre Adilson (pesquisa) e Seu Olímpio Carreiro.
Sobre algumas das pessoas que aparecem no documentário e que faleceram antes de sua conclusão, Juliana afirmou que foi muito emocionante trabalhar o material e o registro histórico importantíssimo por eles deixados. “Queria que tivesse dado tempo de todos assistirem. A partida de cada um me fez aumentar as falas no documentário, tornando-o mais longo”, afirmou.
Futuro
A cineasta explicou que depois da primeira exibição, são projetos para o documentário torná-lo disponível no YouTube – link no grupo dos “Cavaleiros de SantAna” no Facebook e que pretende fazer algumas sessões no cinema de Vargem. Sendo certo que estará disponível na Casa da Cultura e que pretende realizar algumas exibições na televisão ainda sem data prevista.