A praga das fake news e os robôs computadorizados

O ex-prefeito Celso Ribeiro administrou Vargem por dois mandatos. Foto: Arquivo Pessoal

Foi-se o tempo que, para se disseminar calúnias, difamações e fofocas, era usado o método boca a boca, ou como nas quermesses com os famosos correios elegantes, que muitas vezes não era nada elegante. Além das paqueras, passavam algo mais para frente. Muitas vezes o meio mais eficaz era varrer as calçadas, encontrar as vizinhas e aproveitar os momentos para passar as intrigas para frente.
Aqui em Vargem se conhecia uma rua, que não sei onde fica, que era apelidada de Rua do Feijão Queimado. Enquanto as mulheres conversavam nas portas, o feijão queimava nas panelas. Longe de querer atribuir às mulheres esse papel, os homens quando se inclinam para a fofoca são muito mais virulentos.
Houve também o tempo da panfletagem, muitas vezes utilizada na calada da noite, para difamar e caluniar os adversários políticos, geralmente na véspera das eleições. Aqui mesmo em Vargem Grande isso aconteceu várias vezes. Não podemos nos esquecer que existiam também os artigos anônimos publicados nos jornais, e também as abomináveis cartas anônimas, enviadas pelo correio. Tudo isto não era saudável, porém era um processo extremamente lento.
Com a chegada da internet, a possibilidade de espalhar notícias falsas aumentou com uma velocidade impressionante. Hoje calcula-se que no Brasil existem dois dispositivos digitais por habitante, incluindo smartphones, computadores, notebooks e tablets. E através destes é possível por seus aplicativos Twitter, SMS, Youtube, Instagram, Facebook e principalmente WhatsApp, disparar em segundos, mensagens de toda a natureza.
Depois das endemias e das pandemias, a pior praga do universo (na minha modesta opinião) são as fake news. Mensagens disparadas por robôs computadorizados, de ideologias de direita ou de esquerda, que tentam destruir reputações de pessoas, são extremamente maléficas. Mensagens disparadas por empresas contratadas, geralmente tem objetivos espúrios. Ninguém mal-intencionado contrata empresas especializadas para enviarem milhões de mensagens boas e corretas. Geralmente são conteúdos com objetivos políticos de toda espécie. Os meios de comunicação são, ou deveriam ser, ferramentas para disseminar, entre tantas coisas, o conhecimento, mesmo que divergentes, mas para o bom debate.
Nas eleições, disparar milhões de mensagens sem o mínimo de controle tornam a disputa eleitoral desigual. Não confundam liberdade de expressão com promiscuidade e desinformação. Tem que haver responsabilidade com o que se passa para a frente. Muitos dizem que os caluniados têm o direito de recorrer à Justiça, pedindo reparação pelos danos, só que muitas vezes essa reparação é tardia e impossibilita que o mal seja reparado.
Os enormes benefícios dos meios de comunicação atuais deveriam ser mais bem aproveitados para difundir entretenimento, educação, uma boa informação e colaborar para o conhecimento e a elevação cultural das pessoas.
Me assusta o que diariamente estou vendo. Me assusto com mensagens de ódio, com conteúdo racistas, intolerantes, extremistas, com a deturpação das verdades. Ninguém é dono da verdade, mas é preciso ser razoável e no mínimo dar o benefício da dúvida…
A maioria do que é hoje publicado é uma antecipação da próxima eleição presidencial. Qualquer divergência que é lançada, muitas vezes sadia, já é motivo de demonização da pessoa que ousou discordar. Isso empobrece o debate. O debate deve ser amplo, plural e democrático.
Pobre da população de um país, com duzentos milhões de habitantes, ver-se obrigada a optar entre poucos nomes que polarizam e se digladiam dividindo as pessoas até dentro de suas próprias famílias. Tenho visto pessoas de uma mesma família não se sentarem juntas à mesa, pelo radicalismo imposto por esta polarização, que muitas vezes acontecem nos grupos familiares de WhatsApp, com a divulgação destas fake news. Espero ter mais oportunidades em 2022, mas com liberdade, sem disparos de robôs computadorizados com mensagens nocivas, nem de um lado e nem do outro. Que tenhamos uma eleição limpa e democrática.
No meu entender, fake news não tem nada a ver com liberdade de expressão. Obviamente que a liberdade de expressão é um direito fundamental e o grande pilar de sustentação da democracia. O direito de se expressar impõe também grande responsabilidade. Para mim, o que não pode haver é a liberdade de difamação e desinformação, que muitas vezes não se restringe à política, atingindo também famílias e empresas. Deve ser combatida por meios legais que proteja o cidadão de seus terríveis malefícios.
Vários países têm criado legislação para controlar a fake news. Na Alemanha por exemplo, uma lei aprovada em junho de 2017 e que entrou em vigor em janeiro de 2018, obriga empresas a retirar conteúdos impróprios de suas plataformas em até 24 horas após notificação. Vários países têm ido nesta direção.
Espero também, que medidas desta natureza sejam implantadas no Brasil, preservando a liberdade de manifestação e combatendo as fake news.
É sempre bom lembrar que se você passar para frente uma calúnia ou difamação comete o mesmo crime de quem a criou.

Celso Ribeiro

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