Pescando e dançando no Rio Mutuca, no Amazonas

O esportivo tucunaré açu pego por Tadeu

Tadeu Fernando Ligabue
Aprendi a apreciar a pesca do tucunaré com isca artificial e sempre que posso ou surge uma oportunidade, vou atrás dos vorazes bocudos. Desta feita, um amigo não pode ir a uma pescaria no Rio Mutuca, Amazonas, e fui no seu lugar. Não pude fazer o devido planejamento e ainda como já relatei, trinquei a mão esquerda durante o trabalho dias antes da partida, o que certamente esfriou um pouco meus anseios de pescador. Mesmo assim, o desafio foi colocado e lá fui eu.
Fomos em cerca de 20 pescadores e ficamos alojados na Pousada Rio Mutuca, de propriedade de Raimundo Passos. Construída recentemente, ótima cozinha – delicioso tambaqui assado – uma piscina que era uma delícia nas tardes quentes amazonenses e tive a felicidade de ter a companhia de excelentes companheiros. Alguns já velhos conhecidos e também a oportunidade de fazer novos amigos.
A aventura começou no sábado, dia 25 de setembro, com a ida até Manaus de avião, onde pernoitamos e no dia seguinte, pegamos uma lancha que saiu do Porto do Ceasa em Manaus, atravessou o Rio Amazonas e nos levou até a cidade de Careiro da Várzea, onde de ônibus, por uma estrada asfaltada, chegamos depois de umas duas horas de viagem à Comunidade Novo Céu, já às margens do Rio Mutuca, onde outra embarcação nos levou até a pousada.
A travessia pelo Rio Amazonas deu para mais uma vez apreciar o encontro das águas do Rio Negro e Solimões e ainda numa pequena comunidade flutuante no rio, pescar pirarucu num cercado. Aí a adrenalina subiu a mil. Imagina amarrar uma sardinha numa linha e com uma vara dura, jogar no meio de um cardume de pirarucus vorazes, alguns chegando perto dos 100kg.
Levantar por volta das 5h da manhã, apreciar o sol nascer, cercado por densa mata amazônica, cantar de passarinhos e a expectativa de um tucunaré açu explodir na isca de superfície, é uma sensação que todo pescador esportivo carrega consigo e só quem já compartilhou algo parecido consegue entender.
Mas, nem tudo é como sonhamos. A cheia dos rios amazônicos este ano foi uma das maiores desde 1902 e ainda podíamos ver as marcas das águas nas árvores vários metros acima. O efeito ainda persistia e o Rio Mutuca mesmo estando em final de setembro, continuava com suas águas muito acima, adentrando nas matas ciliares e os peixes nelas se escondendo. Nesta época, setembro/outubro, em anos anteriores, o Rio Mutuca já estava em sua caixa, facilitando a pesca dos tucunarés. Infelizmente, o rio ainda estava cheio e a pesca foi muito difícil.
Eu particularmente peguei uns 15 tucunarés, sendo o maior, um paca-açu de 58 cm. Houve companheiros que pegaram uns de quase 80 cm, sendo o maior deles fisgado pelo Edelcio Santos, que levou o troféu de maior peixe. Foram poucos. A maioria dos pescadores ficou na faixa de 10 a 20 peixes durante os cinco dias de pesca. Alguns com boas ações na isca de superfície, com belos estouros e não conseguindo tirar o troféu. Pescaria é assim mesmo. Como diz meu companheiro Valezin, um dia é porque o rio está cheio, outro porque tem pouca água, um dia porque esfriou e assim vai. Um dia é da pesca, outro do pescador.

Lógico que o pescador vai atrás do peixe, mas outras coisas também fazem de uma pescaria algo especial. O principal deles é a companhia dos amigos. Não vou citar todos, mas como fiquei no quarto e pesquei com os companheiros Marcos Castro, Corvacho e o Luciano, faço questão de citá-los pela boa convivência que tivemos nestes dias de pescaria. Impagáveis os dias no barco com o Marcon, as conversas fiadas, as boas risadas, iscas enroscadas e por aí vai. Nunca vou esquecer a soneca de quase uma hora que eu e o Luciano tiramos por volta das 10h, debaixo de umas árvores, dentro do barco, dado o calor que fazia e a paz que o lugar irradiava. A gentileza e educação do Corvacho, suas tiradas espirituosas, também vou guardar sempre na memória.
A boa acolhida de Raimundo, proprietário da pousada, do pessoal da cozinha que se esmerou nos pratos – alguns típicos do local – da gentileza dos piloteiros, de poder conhecer a comunidade indígena Sissaíma, do povo Mura, junto com os quais dancei durante uma apresentação que fizeram para nós, me marcaram muito. Além de conhecer parte da floresta amazônica, da sua exuberância e também da necessidade de preservação destas riquezas. O projeto de poder pescar nas comunidades indígenas e de Raimundo contratar os piloteiros da comunidade, oferecendo-lhes trabalho, é uma maneira de preservar e de expandir o ecoturismo da pesca e contribuir com o desenvolvimento do local.
A volta no sábado, dia 2 de outubro foi tranquila, o mesmo trajeto. A despedida dos companheiros foi um momento de reflexão também. Com alguns ainda vamos continuar pescando, outros não mais. O advento da internet faz a gente se aproximar mais e os grupos que se formam trocando fotos e mensagens ajudam a consolidar algumas amizades que vão perdurar por um longo tempo.
Assim espero. Alguns novos amigos que tenho hoje, são frutos das pescarias que fizemos juntos. Pessoas que nunca tinha visto na vida e que se tornaram parceiros, até confidentes. A pesca esportiva tem esse condão de nos aproximar, unidos num sentimento bom, de congraçamento de algo comum, o que não é pouco nestes tempos de isolamento em que vivemos.

Apresentação de dança dos descendentes da tribo Mura
Os companheiros da expedição Rio Motuca 2021, na pousada Rio Motuca
Marcão e um belo paca-açu
Edelcio Santos fisgou o maior exemplar

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