Márcia Aparecida Ribeiro Iared
O aparecimento do jornal “A Imprensa”, em junho de 1908, aqueceu as discussões e anseios para que nossa vila se tornasse independente de São João da Boa Vista. Mais uma vez, reforçamos o grande papel que os jornais exerceram no avanço das questões políticas e sociais de um povo.
O semanário O Vargengrandense, também criado por Antônio José do Patrocínio, em 1911, ou O Comércio, jornal adversário em 1916, ampliaram a discussão dos homens de bem e políticos da nossa cidade que sonhavam com a transformação de nossa terra em município independente. Nas suas argumentações já diziam que nossa terra tinha mais condições para tal do que outros municípios já instituídos.
Desde 1908 já funcionava o regime de subprefeitura, mas foi apenas em 1921, que o governador Washington Luís sanciona a Lei nº 1804 que cria o município de Vargem Grande. Não foram poucas as lutas para que isso acontecesse. Nossa terra era então denominada distrito de paz de Vargem Grande, ainda um distrito jovem, e os moradores já se preocupavam estabelecer os limites do território para tornar-se autônomo e construir a sua nova história.
Em 1918, o 3º sub-prefeito Belarmino Rodrigues Peres, que também era vereador em São João da Boa Vista, bem como o jornal de oposição denominado “O Comércio”, reacenderam a discussão e claro que os jornais de São João também promoviam calorosas discussões sobre o fato. Não seria fácil encontrar aprovação na Câmara de São João, pois a cidade perderia parte de seu território. Enquanto isso, o sonho da Independência crescia cada vez mais.
Em agosto de 1919, o sub-prefeito Belarmino Peres, juntamente com Cândido Libânio, Capitães Joaquim Otávio de Andrade, João Pinto Fontão e outros, decidem sobre a elaboração de um minucioso relatório que seria enviado à Assembleia Estadual e então convidam mais duas autoridades influentes de Casa Branca e se debruçam sobre a questão, para fazer com que todas as especificidades necessárias ao documento fossem apresentadas ao Congresso Estadual, sugerindo ainda que as fazendas fossem incluídas nas divisas dos territórios.
Finalmente, em novembro de 1921, a Câmara Municipal de São João da Boa Vista se reúne com membros do PRT, entre eles alguns vereadores sanjoanenses e o próprio Belarmino, que acumulava com o vereador naquela cidade juntamente com Quinzinho Otávio, que lá representavam nosso povo, e por unanimidade, aprovaram, mas determinaram que o município fosse restrito ao seu território.
A nova etapa era junto ao Estado, na Assembleia Legislativa. Comandava a sessão o dedicado deputado estadual sanjoanense Theophilo Ribeiro de Andrade, que com grande empenho, num memorável discurso liberalista, destaca a importância dessa aprovação. No mesmo ano, o Estado solicita as providências documentais restantes, que são finalmente levadas ao Congresso.
Os vargengrandenses ansiosos aguardavam a decisão final do governo e foi naquele dia 1º de dezembro, há cem anos, que Vargem Grande explodiu de alegria com a assinatura final do Presidente do Estado de São Paulo, Washington Luís, inclusive com aumento de seu território, anexando parte das terras de Casa Branca e de São João da Boa Vista.
Nosso povo unido, esquecendo as diferenças, explodiu em alegria e após todas as providências necessárias, o município foi instalado com grande festa no dia 24 de janeiro de 1922, sendo seu primeiro prefeito Capitão Belarmino Rodrigues Peres.
Este centenário da emancipação de Vargem Grande, graças a luta de muitos, nos transporta para o grande papel que tem os cidadãos que nela moram e trabalham. Que vestem a camisa no sentido de a exemplo dos conterrâneos de há 100 anos, fazerem o melhor, mesmo diante de todas as dificuldades por que passa nossa terra e o mundo inteiro nesses últimos dois anos por conta deste vírus que morre com água e sabão, mas que ceifou muitas vidas no mundo inteiro.
Que neste centenário, possamos reforçar a consciência de que juntos somos fortes e mais. Mas que nossa ação seja realmente coletiva, para que respeitando a ciência e movidos pela solidariedade, possamos fazer a nossa parte para que esta luta, que anda não terminou, possa nos trazer dias melhores para o futuro.
O mundo sofreu grandes transformações, mas a cada etapa, a certeza é a mesma de que a luta coletiva embasada na esperança, será sempre a maior arma, quer seja salvando a natureza, vencendo o inimigo invisível ou construindo pontes.
Obs: Mais uma vez, não fora fontes de jornais antigos, não seria possível alinhavar os fatos e honrar os que nos antecederam.