Conto de Natal: Carolina e as formigas

Esta crônica foi publicada na Gazeta de Vargem em dezembro de 1996. Esta é uma homenagem à querida colaboradora do jornal, Lygia de Freitas, falecida em 2009. Foto: Gazeta

Lygia de Freitas


Ah! Carolina, Carolina! Quando metia uma ideia na cabeça, era difícil, impossível mesmo de movê-la, ainda que fosse absurda. Ela encasquetava o troço e pronto, e até a época de pô-la em prática, ficava tecendo sonhos sobre ela, deliciada antevendo o resultado. Maravilhoso, certamente.
Por exemplo, Carolina adorava o Natal, e quanto mais enfeitado, melhor. Três meses antes começava a confeccionar os enfeites, já fazendo planos para a Lapinha, a distribuição de figuras, a inovação e o arranjo das “rochas”, feitas com folhas de jornais, papel de embalagem, cola e tinta ocre e roxo terra.
Ela e seus irmãos punham todo o seu capricho nisso e o feito era apreciável. O que dava gosto de ver era o carinho, o amor e arte que dedicava àquela doce construção. De fato, os presépios de Carolina eram sempre os mais lindos, verdadeiras obras de arte.
Além do presépio, possuía um sonho: uma grande árvore coberta de enfeites, presentes e luzes. Não pensava noutra coisa. Até parecia já vê-la pronta. Naquele ano juntou tudo o que pudesse ser transformado em adornos de Natal e presentes, sim, presentes de faz de conta só mesmo para enfeitar sua linda árvore.
Comprou papel, fitas, rendas e cola e trabalhou dia e noite na semana do Natal. Na véspera foi com seus irmãos a um sítio fora da cidade para conseguir sua tão sonhada árvore. Como não tivessem experiência disso, arranjaram um tipo de bambu imenso e o trouxeram em um caminhão para casa.
Era tão alto que encostava no forro da sala. Foi necessário cortar uma parte. Encheram de terra uma tina e ali “plantaram” o bambu e o colocaram do lado do presépio. Carolina enfeitou a tina para não parecer o que era e cheia de entusiasmo, no auge da alegria, ajudada pelos irmãos, começou a enfeitar a árvore.
Quando terminaram, o efeito foi encantador. Não podia haver mais linda árvore e uma árvore viva! Carolina não cabia em si de contente. Sentia-se realizada. Resolveu ficar na sala apreciando a árvore, sua obra prima, mas numa certa hora não resistiu e foi dormir feliz.
Amarga surpresa a esperava na manhã seguinte. Ao descer para o café da manhã, encontrou no corredor um carreiro de formigas que vinham da sala de jantar e ali para seu horror, sua linda árvore quedava murcha e sem uma
só folha, com os galhos mortos de onde pendiam os enfeites e os presentes, como se estivessem a pedir socorro, enquanto as formigas cortavam e levavam, impiedosamente.
É! Parece que as formigas nada entendem de Natal.

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