A fé em cada centímetro de madeira

As igrejas ficam expostas na Loja de Móveis Santa Terezinha, na Vila Polar. Foto: Reportagem

Neste sábado, dia 25, é celebrado o Natal, uma das mais importantes datas do calendário Cristão. É justamente neste dia que se celebra o nascimento de Jesus, o filho de Deus, em uma humilde manjedoura, em Belém. Ao lado dos animais que dormiam no estábulo, apenas seus pais Maria e José, que mais tarde, receberiam a visita de pastores e dos Reis Magos.
José, considerado Patrono Universal da Igreja, era carpinteiro, profissional que lavra e aparelha a madeira para as construções e um dos mais antigos ofícios do homem, conforme texto publicado pela Confederação Nacional dos Bispos, em março deste ano.
Em Vargem Grande do Sul, um comerciante traz em seu nome, no ofício que é tradição de sua família e também em uma recente produção artesanal, uma relação muito próxima com a igreja. José Donizete Bertolotto, 53 anos, que começou a trabalhar aos 13 anos com madeira, se dedicou nos últimos meses e construir lindas maquetes em pinus e cedro, das igrejas das paróquias de Vargem Grande do Sul.
São verdadeiras construções em madeira, grandes obras de arte, com a maior medindo 1,50 metro de comprimento, por 1 metro de largura e 1,20 metro de altura, pesando facilmente mais de 100 kg.
A história de José com a marcenaria é de família. Seu avô, Primo Bertolotto, tinha uma serraria em Vargem e seu pai, José Bertolotto, era um entalhador muito requisitado na cidade, conhecido pelo trabalho meticuloso e cheio de arte que fazia em detalhes de guarda-roupas e nas camas de madeira, em estilo Luís XV.
Seguindo essa tradição, ele passou a trabalhar aos 13 anos e durante duas décadas também produziu móveis em série. Pensando em mudar a área de atuação, seguiu trabalhando com madeira, mas em uma loja de móveis, a Santa Terezinha, localizada na Vila Polar.
Um pouco tímido para falar de si mesmo, José fica mais à vontade para falar de suas peças. Ele comentou que depois de ter parado de trabalhar diretamente com marcenaria, resolveu comprar alguns equipamentos há alguns anos onde faz os oratórios que vende na loja, e em 2019, se desafiou a montar a primeira igreja.
Ao ver uma antiga fotografia de família, tirada por volta de 1975, em frente à antiga Igreja Matriz de Santo Antônio, decidiu colocar os equipamentos novos para funcionar e resolveu reproduzir em madeira, aquela igreja que estava no fundo da foto em que aparece ele, um menino de no máximo 6 anos, o irmão Celso, a irmã Helena e alguns primos de Campinas.
Em cerca de 20 dias, a igreja estava pronta. Inclusive com a reprodução de um mastro com os estandartes de Santo Antônio, São João e São Pedro que estava ali no canto da fotografia. A esposa Vanessa, que acompanhou essa e todas as outras produções, comentou que José dedicava suas horas livres, muitas delas à noite, e finais de semana na confecção da igreja.
Animado com o resultado, deu início à segunda igreja, a de Santa Terezinha, que fica na Vila Santa Terezinha, próxima ao Poliesportivo Ricardo do Patrocínio Rodrigues. Não à toa, essa foi a igreja escolhida. O casal é devoto de Santa Terezinha a quem sempre recorre e para quem deu nome de sua loja.
A igreja, como a edificada na cidade, conta com uma imagem da santa no alto da fachada. Em seu interior, devidamente iluminado com led, há bancos, o altar e a cruz. Essa foi a única que pintou, pois não ficou satisfeito com o resultado após ter aplicado o verniz. A cor escolhida foi o amarelo, tal como a igreja de tijolos na Vila Santa Terezinha. Outros detalhes são as janelas, que José colou vidros, diferente das demais, cujos vitrais foram reproduzidos em madeira.
A terceira igreja que fez foi a Matriz de Nossa Senhora Aparecida, que inclusive conta com o domo no telhado, construído há alguns anos. A Igreja de Aparecida em Vargem foi inicialmente construída pelo Beato Padre Donizetti Tavares de Lima, que era devoto da Padroeira do Brasil, a quem ele sempre atribuía os milagres.
Em seguida, confeccionou a igreja atual de Santo Antônio e depois a de Santa Cecília. Fez também a Igreja Matriz de São Joaquim e a do bairro Perobá, da comunidade São Sebastião. Cada uma delas, levando cerca de 20 dias para ficar prontas e todos com detalhes que só enriquecem cada uma das maquetes.
Por fim, José teve seu principal desafio, que foi reproduzir a Igreja Matriz de Sant’Ana, a mais simbólica da cidade. Foi no entorno dela que Vargem nasceu, ela foi a primeira paróquia da vida sacerdotal de Padre Donizetti, enfim, uma igreja muito importante para a história do município.
Cheia de detalhes, com uma fachada com arcos e beirais, além de um fundo em formato arredondado, a peça levou de 30 a 40 dias para ficar ponta. É a maior e mais pesada da coleção, que soma oito igrejas em madeira.
A produção da maioria das peças também coincidiu com o período mais difícil da pandemia da Covid-19, com a quarentena e a necessidade das pessoas permanecerem em suas casas. E a última, a da Igreja de Matriz de Sant’Ana ficou pronta há seis meses.
Todas estão expostas na loja de móveis, ocupando um bom espaço do seu interior. José faz questão de mostrar detalhes como o sino no alto da torre e ainda busca acertar alguns detalhes, como os relógios da Igreja Matriz de Sant’Ana.
O trabalho encanta não apenas os clientes da loja, mas já tem atraído muitas pessoas que querem ver de perto cada detalhe das igrejas, como o padre Celso Brás, pároco da Igreja paróquia de Santo Antônio e a diretora de Cultura Márcia Iared, que fez uma selfie com a igreja Matriz de Sant’Ana, para registrar a escala da maquete. Houve quem inclusive propusesse um desafio, com tom de encomenda, pedindo que José confeccionasse uma réplica da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, algo que ele acredita ser muito difícil, mas que ainda não descartou.
José explica que o principal desafio das reproduções é a fachada, sempre rica em detalhes. É preciso cortar, lixar, encaixar e colar corretamente cada pedaço da madeira. Em muitas das frentes desses templos, existem arcos, beirais, torres, o que vai aumentando o nível de dificuldade de sua confecção.
Para não perder os detalhes, antes de iniciar a produção, José vai até o local e faz um desenho da igreja. Segundo explicou, nada muito técnico, mas de um jeito em que já vai imaginando como irá montar a réplica. Em alguns casos, Vanessa ajuda, indo fotografar a igreja e detalhes que servem de modelo para o artesão.
Aliás, se ele quiser continuar a empreitada, só vai precisar arrumar mais espaço em sua loja para exibir as igrejas depois, pois ele ainda pode escolher algumas que ainda não foram reproduzidas, como a de Santa Rita, Santa Luzia, entre as muitas outras espalhadas pela cidade.

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