Empreendimento embargado compromete casa e família vive momentos de pavor

Cozinha e demais cômodas da casa foram alagados. Foto: reprodução vídeo

A família da professora Adriana, seu marido Paulo Roberto Casagrande e os filhos, que mora na Rua Prof. Henrique de Brito Novaes, nº 132, Jardim Pacaembu, e dá fundos para o Jardim Morumbi, viveu uma madrugada de medo para amanhecer quinta-feira, dia 27 de janeiro, quando sua casa foi invadida por uma enxurrada de água e lama que desceu do empreendimento que o empresário Admilson Coracini está realizando no conhecido morro do Jardim Morumbi. Segundo apurou a Gazeta de Vargem Grande junto ao Departamento de Obras da prefeitura municipal, o empreendimento está embargado e portanto, seria considerado irregular. O empresário nega a situação de embargo e irregularidade.
Um vídeo feito pela família e que está circulando em grupos de troca de mensagens, mostra o desespero dos moradores da casa vivenciado na madrugada de quinta. Era por volta das 3h30, quando com a forte chuva que caiu, a enxurrada invadiu uma edícula nos fundos da propriedade, ameaçando sua estrutura e depois toma conta de todos os cômodos da residência que fica na frente, causando enorme prejuízo e um grande susto em todos.
A Defesa Civil, que já havia interditado a edícula uns dias antes por problemas constatados quanto à obra que o empresário havia feito nos fundos do imóvel – um muro de arrimo – foi acionada ainda na madrugada e por volta das 4h já estava prestando auxílio à família, dando solidariedade e impedindo que algo pior viesse a acontecer.
Cerca de cinco imóveis localizados na Rua Henrique de Brito Novaes e onde está sendo construído o muro de arrimo do empreendimento, também estariam correndo o mesmo risco e os proprietários estavam preocupados com a situação, temendo que com mais chuvas ocorrendo na atual estação, seus imóveis possam sofrer os mesmos danos que ocorreu na casa do vizinho Paulo Casagrande.

Empresário diz que obra não está embargada e não é irregular
Procurado pelo jornal, o empresário Admilson Coracini afirmou que seu empreendimento não está irregular, mas sim parado e que não houve embargo por parte da prefeitura, que recebeu apenas uma notificação para paralisar as obras até que finalize o projeto de loteamento que está providenciando e que dará entrada no Departamento de Obras. A ideia do empresário é fazer um condomínio fechado com cerca de 20 lotes, com uma rua e área verde.
Com relação às infiltrações e trincas causadas no imóvel da família, Admilson afirmou que a edícula atingida foi feita de modo muito precário, parede de meio tijolo, sem a devida impermeabilização. Alegou também que recentemente um forte vento retirou da edícula um rufo que evitava a infiltração de água no imóvel, e que mesmo tendo alertado o proprietário do fato e pedido para que recolocasse o mesmo no telhado, nenhuma providência foi tomada, o que pode ter vindo a produzir as rachaduras e infiltrações junto à edícula.
Afirmou ainda que com as fortes chuvas que caíram nos últimos dias, principalmente na madrugada desta quinta-feira, o excesso das águas criou buracos junto ao muro, penetrando na edícula e saindo na casa de Paulo Casagrande. Que havia paralisado a construção do muro a pedido de Paulo.
Disse que já havia combinado com o mesmo de arrumar um engenheiro, sendo que Paulo se prontificou a fazer um laudo para ver o que era necessário para resolver o problema, impermeabilizando a parede da edícula. Que nenhuma atitude foi tomada e ele notificou extra judicialmente o proprietário do imóvel para que atentasse ao problema e dessem continuidade ao que foi combinado.
Que depois do ocorrido na quinta-feira, contratou uma máquina de esteira para resolver o problema, desviando a água da enxurrada que desce do morro e evitar que elas atinjam as casas junto ao muro de arrimo que está fazendo. Salientou, porém, que as chuvas que estão caindo nestes dias atrapalham e dificultam a realização do trabalho.

Diretor de Obras confirma que empreendimento foi embargado

Desde agosto do ano passado a prefeitura já tinha conhecimento da movimentação de máquinas que o empresário Admilson Coracini estava realizando no alto do morro do Jardim Morumbi. A obra segundo apurou o jornal, teria sido embargada na ocasião. Porém, o jornal apurou que o local continuou sendo aplainado, pontos foram aterrados, árvores foram suprimidas e o empreendedor iniciou o muro de contenção com pedras nos fundos das casas da Rua Henrique de Brito Novaes, sem a devida autorização da prefeitura, segundo destacou o Departamento de Obras.
Desde então, passaram-se quase seis meses do trabalho de terraplanagem no local, até que na última quinta-feira, dia 27, acontecesse o ocorrido que teve de ter a intervenção da Defesa Civil. Matéria realizada pelo jornal Gazeta de Vargem Grande em agosto, com o título “Expansão Urbana da cidade prossegue sem Plano Diretor”, mostrava o solo sendo preparado no alto do morro do Jardim Morumbi por uma máquina de esteira para alojar o futuro loteamento.
Em entrevista ao jornal, o diretor de Obras, Ricardo Bisco afirmou que em agosto quando o empresário começou a movimentar o terreno com uma máquina de esteira, ele foi notificado pela prefeitura. Que mesmo assim, conforme afirmou o diretor, o empresário continuou com os trabalhos e então a obra foi embargada por estar irregular, sem que nenhum projeto foi dado entrada no órgão responsável junto à prefeitura municipal.
Disse que então o empresário parou de movimentar o solo e que o departamento de Obras teve então conhecimento que ele estaria construindo um muro de arrimo, que foi feito uma vistoria no local, o empresário foi notificado para apresentar um projeto. O empreendedor então apresentou um projeto da construção do muro, porém divergente do que ele estava construindo. Foi então solicitado um projeto de acordo com o que ele estava construindo, segundo destacou Bisco. O projeto apresentado antes tratava-se de um muro de concreto, mas na realidade o muro que estava em construção era de pedra.
Disse o diretor que com intervenção que o empresário fez no local, mudou toda a capacidade de absorção de água pluvial do terreno. Antes as árvores e o terreno de maneira natural absorviam as águas que desciam pela encosta do morro, só que agora não consegue mais, o que acaba proporcionando infiltrações e inundações nas casas abaixo da encosta, como o ocorrido na madrugada de quinta-feira. “Criou-se um problema seríssimo, pois não sabemos como essa água será escoada agora”, preocupou-se o diretor.

Moradores se queixam

GCM e Defesa Civil instalaram tubulação para fazer a drenagem da água e evitar maiores prejuízos. Foto: Reportagem

Na entrevista que concedeu ao jornal, Paulo Casagrande disse que as obras no morro já vinham preocupando os moradores da Rua Henrique de Brito Novaes desde que os trabalhos começaram a ser feito pelo empresário Admilson Coracini. Que quando começaram a aparecer as rachaduras e infiltrações em sua casa, ele chamou o empresário para lhe mostrar a situação e que Admilson esteve no local no dia 29 de novembro de 2021. O empresário teria lhe dito que precisava ver com um engenheiro o que precisava ser feito e que as conversas não prosperaram e nada foi realizado por parte de Admilson, cujas intervenções no terreno era de fato o causador do problema.
Com o aumento da intensidade das chuvas nos últimos dias, as rachaduras e infiltrações começaram a afetar a estrutura da edícula, com o piso cedendo, reboco caindo, portal entortando e com medo de que o imóvel pudesse ruir, Paulo solicitou a presença da Defesa Civil que pediu um laudo do engenheiro da prefeitura para ver quais as atitudes que deveriam ser tomadas.
No laudo realizado no dia 18 de janeiro, o engenheiro da prefeitura Felipe Guimarães Arten, constatou que “A pressão que o novo muro exerce sobre o imóvel vistoriado somados à falta de impermeabilização e falta de drenos para conduzir em locais adequados as águas pluviais, colocam em risco a estabilidade da edícula existente nos fundos do imóvel vistoriado”.

Defesa Civil

A Gazeta conversou com Rogério Bocamino, diretor Desetran e coordenador da Defesa Civil de Vargem. Ele explicou que há alguns dias a Defesa Civil foi acionada para vistoriar a casa da família. Foi verificado que no muro de arrimo construído pelo empresário faceando a parede dos fundos da casa havia deixado esta parede torta e com trincas.
Dessa forma, a Defesa Civil solicitou a visita de um engenheiro da prefeitura para avaliação e elaboração de um laudo técnico, no qual foi constatado a existência das rachaduras e da irregularidade na parede, conforme o relatado pelo coordenador do órgão.
Assim, a Defesa Civil interditou a edícula existente aos fundos da casa e notificou o empresário responsável pelo empreendimento sobre o ocorrido.
No pedido consta que a Defesa Civil resolveu interditar o local e desta forma preservar a integridade e segurança de vidas humanas. “O local deverá permanecer interditado com total restrição a entrada de pessoas, até que o problema seja solucionado, serão também realizadas vistorias periódicas, priorizando a segurança e o acompanhamento da situação”.
No entanto, a forte chuva da madrugada do dia 27, a água acabou entrando aos fundos da residência pelas rachaduras da parede, comprometendo a edícula, invadindo a casa da família, danificando móveis e assustando os moradores que passaram a madrugada tentando conter danos.
O empresário foi informado e ciente do ocorrido pode tomar as devidas providências.

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