Não ao Marco Temporal

Tadeu Fernando Ligabue

Das poucas vezes que mantive contato com indígenas brasileiros, me chocaram duramente ao ver as condições a que foram relegados, às margens da nossa sociedade dita avançada. A tristeza que presenciei nos olhares das crianças nas barrancas do Rio Paraguai, em Porto Murtinho-MT, hão de me perseguir por toda a vida.
O cantar triste do indígena Tiauí, descendo o Rio Araguaia em uma noite escura, sozinho em sua canoa, ainda repercute em meus ouvidos e os indígenas que encontrei em Canarana-MT, sem a altivez que o seu povo sempre teve e nos foi dito em nossas aulas nos grupos escolares, me levam a refletir sobre o que a civilização ocidental provocou nestes seres humanos, filhos de Deus.
Sem contar a tristeza de vê-los embriagados, nos becos, menosprezados e sem que alguém os reconheça como iguais ou próximos. Para completar minha angústia, quando penso nos indígenas brasileiros e o que realmente deveriam ser, na altivez e liberdade que sempre tiveram em nossas matas, vem também em minha mente os jovens indígenas que se suicidam em suas aldeias ou nas periferias das cidades para onde foram expulsos, porque perderam o sentido de viver, de existir.
O Brasil, lindo e majestoso, com suas matas, suas praias, seus animais, era todo deles, antes de nós aportamos por aqui. Aos poucos, fomos retirando destes povos tudo que lhes pertenciam e expulsando-os do sul, do sudeste, do nordeste e o pouco que lhes restam na exuberante Floresta Amazônica, também está sendo dilapidada, basta ver a triste história de destruição causada pelo garimpo ilegal no povo Yanomami e outras povos amazônicos.
No entanto, os povos indígenas do Brasil são os grandes responsáveis por manter os biomas e as florestas em pé no nosso país, com suas tecnologias de plantio, de convívio em sociedade e com a natureza, de forma harmoniosa e não predatória.
Será que não seria isso que o planeta Terra está precisando para reverter a destruição que se avizinha. Basta acessar os institutos de estudos de desmatamento no Brasil e comprovar que as áreas de maior preservação da natureza, são as áreas de terras indígenas demarcadas.
Escrevo estas poucas linhas neste espaço dedicado ao Editorial do jornal, por ser o mesmo sentimento e alinhamento deste meio de comunicação junto aos seus leitores. Somos contra a tese do Marco Temporal, os povos indígenas têm todo o direito de reivindicar suas terras ancestrais, dentro da legalidade, dos estudos necessários e do que está determinado na Constituição Brasileira.
Que todos os indígenas brasileiros, todos os povos originários, possam ter o sagrado direito ao seu solo, assim como todos os brasileiros tem o sagrado direito às suas propriedades privadas, às suas fazendas, seus sítios, suas casas, seus terrenos.

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