POR DÔRA AVANZI
Quantas estórias nos conta, romarias de Sant’Ana?
Desde a primeira procissão com a imensa cruz
Alçada em braços erguidos
levada ao outeiro de Nossa Senhora Aparecida?
Ali se ergueu o cruzeiro, beijando-se suas fitas festivas
os caminhantes e cavaleiros
– Christiano, Zé Domingos, Luis Alberto –
E tantos outros apeados desta vida.
(…)
Quantas vidas passam por ti, romarias de Sant’Ana?
Se os mais antigos trouxeram seus filhos,
E seus filhos levaram seus netos
que prosseguem nestas jornadas
Sant’Ana vai à frente, abrindo tantos caminhos
Seguida pelos seu peões, suas carroças e burrinhos
Ah! Se já passam os carros de boi tão lustrosos e mansinhos
Suas rodas gemem saudades dos caminhos mais antigos
Da pequena Sant’Ana da Porteira
que acolhia os tropeiros no pouso
Sussurrando-lhes nos sonhos a edificação da cidade.
(…)
Ah! Por quem tanto esperamos nos domingos azuis de julho
Senão pela longa fila de milhares de cavaleiros?
“Não são dezenas, nem centenas…”, bradava o cônego Davi,
Feliz como um menino ao lado do bispo Tomás Vaquero
Ecoa lá diante, da subida da Quinzinho um berrante vigoroso
– Lá vem, lá vem, lá vem!
Mas antes que a romaria passe uma alegria se adianta
plena como a manhã, tangível e certa como o dorso do boi:
Estamos tão juntos, tão muitos na praça
Que uma graça ali sobrevém –
Um destino de pertencer, permanência de compartilhar
a raiz, o passado, a promessa e o futuro, um sonho talvez
Enquanto a romaria aponta lá adiante
E vem.