Polícia Civil prende suspeito de matar Gláucio Donizetti da Costa

Os pertences da vítima foram recuperados em Tatuí pela Polícia Civil. Foto: Polícia Civil

A Polícia Civil de Vargem Grande do Sul prendeu na tarde desta terça-feira, dia 14, o suspeito de ter matado o cinegrafista Gláucio Donizetti da Costa, 55 anos. Jhonatan de Araújo Miranda, tem 19 anos, é pizzaiolo e foi preso em Tatuí, conforme revelou a polícia nesta quarta-feira, dia 15.

A morte do cinegrafista e bancário Gláucio Donizetti da Costa foi causada por um ferimento na carótida, artéria da região do pescoço, que pode ter sido produzido por uma arma branca, conforme atestou o médico legista que realizou a necropsia em seu corpo. Assim, a Polícia Civil de Vargem Grande do Sul tem tratado a morte do cinegrafista como homicídio. Gláucio, 55 anos, era muito conhecido e querido em Vargem. Ele trabalhou durante 32 anos no Banco Itaú e atualmente se dedicava à sua empresa de filmagens, a Prisma Vídeo. Seu corpo foi sepultado no último sábado, dia 4, no Cemitério Parque das Acácias.

Conforme o informado pela Polícia Civil de Vargem, o corpo do cinegrafista foi encontrado na sua casa, à rua Eurico Vilela, 126, no Jardim Pacaembu, às 15h, da sexta-feira, dia 3 de agosto. Ele estava dentro do box de um banheiro, coberto com roupas e objetos. Também foi constatado a presença de sangue dentro do box e uma carta foi localizada em cima do vaso sanitário.

Ouvida pelos policiais, a família informou que deram falta de uma câmera fotográfica, dois celulares, a carteira da vítima, mas não souberam dar certeza de mais coisas.

O corpo já estava em início de decomposição, o que dificultou a constatação inicial de lesão. De acordo com a Polícia Civil, a casa estava em ordem, não havia sinais de que teria ocorrido alguma violência ou briga. Chamou a atenção o fato do chuveiro de um banheiro externo estar ligado e o DVR – equipamento que faz a gravação do circuito de câmeras de segurança da casa – que fica num quartinho, ter sido subtraído e seus cabos, cortados.

Suspeita

Para a Polícia Civil havia desde o início a suspeita de que a cena do crime estava montada, especialmente por conta da carta. Nela estava o relato de um problema familiar ocorrido há muito tempo.

Na residência, os policiais apreenderam alguns objetos que poderiam auxiliar nas investigações, como os HDs de dois computadores e uma sunga estampada, que estava atrás de uma geladeira, na copa da casa.

No sábado, dia 4, o resultado da necropsia feita no corpo de Gláucio constatou lesões em seu antebraço, no ombro e na carótida que foi causado por um instrumento perfuro-inciso, provavelmente uma arma branca. Assim, a Polícia Civil passou a investigar o caso como um assassinato.

Investigação

Amigos e familiares que conviviam com Gláucio foram questionados sobre quem poderia ter passado pela casa naqueles dias. Todos negaram terem ido até o local na semana, mas confirmaram que Gláucio tinha trabalhado durante a Romaria, no dia 29 de julho, e muitos comentaram que ele foi auxiliado por um garoto que aparentava ter pouca idade e que era desconhecido deles.

A polícia apurou que na noite anterior à Romaria, Gláucio e o rapaz tinham ido até uma loja de conveniências de um posto do Centro. Ao analisar as imagens feitas pelo estabelecimento em seu sistema de segurança, foi verificado que eles estavam lá e que inclusive Gláucio tinha feito fotos do rapaz com seu celular, um MotoX, da Motorola.

Ao verificar uma dos HDs dos computadores, os policiais encontraram uma pasta chamada MotX, com a última atualização feita no dia 29 de julho. Na pasta, foram encontradas as fotos feitas na loja de conveniências, fotos de Jhonatan vestindo a sunga encontrada e também brincando com os cachorros de Gláucio. Também foi localizada a imagem de um comprovante de recibo bancário referente a um depósito no valor de R$ 90,00, no dia 25, em nome de Jhonatan de Araújo Miranda. Pelo sistema de identificação de pessoas e pelas redes sociais, a Polícia Civil pode verificar que se tratava da mesma pessoa das fotos.

Outras diligências feitas pela equipe não encontraram mais ninguém que pudesse estar na casa de Gláucio na semana em que seu corpo foi encontrado. Dessa maneira, Jhonatan passou a ser o principal suspeito.

Tatuí

Os policiais também encontraram uma pesquisa feita por Gláucio sobre itinerário de ônibus de Tatuí para Campinas e de Campinas até São João da Boa Vista. Através de informações bancárias, verificou-se que no dia 27, Jhonatan sacou R$ 90,00 em uma casa lotérica de Tatuí por volta das 16h. Também foi levantado pelo Sem Parar instalado no carro da vítima que ele passou com seu carro  pela praça de pedágio entre Vargem Grande do Sul e São João no dia 27, por volta das 23h30, que coincide com o horário do último ônibus que chega de Campinas a São João da Boa Vista.

Esses dados levantados colocaram Gláucio e Jhonatan juntos nos dias 27, 28 e 29 de julho. Com estes fortes indícios, no dia 7 de agosto, a Polícia Civil representou pela prisão temporária por 30 dias de Jhonatan, que foi decretada pela Justiça no mesmo dia. Foi levantado possíveis endereços do suspeito em Tatuí e a equipe foi até o município, a cerca de 275 km de Vargem. Com apoio da Polícia Civil de lá, a equipe diligenciou atrás do suspeito, mas ele não foi localizado. No entanto, os trabalhos prosseguiram, até que na terça-feira, dia 14, a Polícia Civil de Tatuí o encontrou.

A equipe de Vargem foi até lá e descobriu que Jhonatan havia retornado no dia 1º, mas que não havia voltado para a casa de sua mãe onde residia, e sim para a de uma amiga, onde foram encontradas seis malas com os pertences levados da casa de Gláucio, como uma câmera, sapatos, roupas, inclusive roupas novas, eletrônicos, dois celulares, inclusive o MotoX, notebook, projetor, relógios, binóculos, entre outros.

Crime

Questionado pela polícia, de início ele negou qualquer envolvimento, mas diante de tantas evidências, ele acabou confessando quando foi ouvido na Delegacia de Vargem, na madrugada de quarta-feira, dia 15.

Jhonatan relatou que conheceu Gláucio pela Internet e passaram a conversar também pelo Facebook e pelo Whatsapp. Até que o cinegrafista o convidou para ajudá-lo nas filmagens da Romaria e que inclusive seria remunerado para isso. Para tanto, Gláucio fez o depósito do dia 25 e foi pegá-lo na rodoviária em São João. Confirmou ainda que esteve com Gláucio e dormiu na sua casa nos dias 27, sexta-feira, sábado, dia 28, domingo, dia 29 e segunda-feira, dia 30. Inclusive fizeram um churrasco somente os dois no dia 30.

Jhonatan relatou que na noite de segunda-feira, foram dormir e durante a noite tiveram um desentendimento, que para a polícia a motivação ainda deixa dúvidas, e que desferiu um golpe com uma faca de cozinha serrilhada no pescoço de Gláucio.

O cinegrafista caiu entre a porta do quarto e do banheiro. Jhonatan informou que ao perceber que Gláucio estava sem vida, arrastou seu corpo até o box do banheiro. Disse ainda que não conseguia parar de olhar para a vítima, por isso o cobriu até onde pode. A pilha de roupas e objetos alcançava quase o final do box.

O crime teria ocorrido antes das 23h e Jhonatan disse que passou toda a madrugada e parte da manhã limpando a casa e tomou banho no banheiro de fora, onde o chuveiro foi encontrado ligado. Lavou a sunga que vestia e a colocou para secar atrás da geladeira, onde a esqueceu. As roupas e panos sujos com o sangue de Gláucio e a faca que utilizou no crime, jogou em um saco juntamente com o DVR e deixou em uma lixeira na casa da frente.

Ele relatou aos policiais que a partir daí teve a ideia de levar tudo o que conseguisse carregar. Enquanto procurava o que ia subtrair, encontrou a carta, leu brevemente seu conteúdo e pensou que pudesse dar margem de que o que estava relatado poderia ser relacionado à morte de Gláucio, pensando em uma maneira de não ser ligado ao crime e sim outras pessoas.

O rapaz inclusive alimentou os cachorros de Gláucio antes de ir embora. Ele ainda pegou a chave do carro da vítima e as chaves da casa, trancando tudo e ainda disse que olhou no interior do veículo para se certificar de que não havia esquecido nada, deixando a residência por volta das 10h do dia 31, carregando as seis malas com dificuldades.

Jhonatan disse aos policiais que sua intenção era seguir até a Rua do Comércio, onde procuraria um táxi. Como começou a chover, ele foi abordado por uma pessoa que ofereceu ajuda, mas ele recusou. Pouco depois uma segunda pessoa também ofereceu auxílio. Dessa vez, ele aceitou e pediu que fosse chamado um táxi, que o levou até a rodoviária. Lá, esperou até às 16h por um ônibus até Campinas. De lá, seguiu para Sorocaba, onde dormiu em um hotel. No dia seguinte, foi para Tatuí.

Prisão

A Polícia Civil tinha poucas dúvidas que o suspeito tinha agido sozinho. Mas precisava se certificar que ele realmente tinha chamado um táxi. No entanto, na quarta-feira a equipe encontrou a pessoa que ofereceu ajuda e chamou o motorista para o suspeito. Ela confirmou que naquela manhã encontrou com o rapaz na chuva e sem suspeitar de nada, o ajudou a conseguir um táxi.

No dia 6 de agosto, a Polícia Civil já ciente de que o caso se tratava de um homicídio, solicitou um exame complementar no local com um produto conhecido como “luminol”, que reage com vestígios de sangue e foi possível verificar e ter noção de como ocorreu a morte de Gláucio e comprovar que o suspeito limpou toda a cena.

De acordo com a Polícia Civil, Jhonatan está com a prisão temporária decretada e está recolhido à Cadeia Pública de São João da Boa Vista. Ainda serão realizadas algumas diligências, mas a expectativa é que o inquérito seja relatado até o final do mês. Jhonatan foi indiciado por latrocínio e pode pegar de 20 a 30 anos de reclusão.

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