O som nas ruas e as vitrines enfeitadas de luzes anunciam algo diferente. Algo que transcende os olhos humanos; algo que se esconde e deseja ser encontrado. O Natal é a festa do “escondimento” de Deus.
Deus está escondido! Por detrás das luzes natalinas encontramos como luz irradiante a verdadeira Luz, aquela que não é criada pela inteligência e mãos humanas, tampouco manuseada ou manipulada para o benefício próprio. É Luz escomunal, penetrante e inovadora. Haja vista que ao clarear do novo dia, as luzes natalinas apagam-se. Já a Luz verdadeira escondida, continua a iluminar mais do que sol mesmo que as nuvens da vida tentam ofusca-las.
Deus está escondido! Por detrás das árvores e enfeites de natal está a Vida. O pinheiro escolhido tradicionalmente para ser a árvore significativa do natal, traz consigo a força e a beleza da natureza que, em muitas vezes não depende da mão humana para crescer. A Vida se esconde no cuidado, na harmonização e na singeleza de cada pétala despontada ou folhas misteriosamente caídas da copa de uma árvore. Ao ser enfeitado, o pinheiro une-se a fertilidade. Assim são as bolas natalinas e tantos outros similares. A Vida que produz frutos e estes perenes. Deus está escondido! Por detrás do símbolo conhecido do Papai Noel encontra-se a Caridade. O sininho em suas mãos anuncia, como a tradição cristã nos ensina, a presença de Deus. Já no seu famoso saco de presentes a ação humana alapada em dom. Desta figura clássica pode-se alargar a compreensão: a doação de tantos dons sacramentados em alimentos, brinquedos, roupas e mãos estendidas. Uma ação que não se encontra simplesmente o “ser bonzinho” durante o ano para ganhar presente, mas a Caridade escondida em forma de um sorriso ou “um muito obrigado por fazer meu natal mais feliz”. Deus está escondido! Por detrás das imagens figurativas do presépio bíblico se esconde o Amor. Na gruta, na estrebaria ou em qualquer outra manifestação criativa dos presépios está lá, uma pequena manjedoura humilde, quentinha e preparada para acolher o Amor feito carne. No Menino nascido esconde-se o Amor. O amor que é Deus como diz São Paulo ou o amor que é frágil como inspirou Adélia Prado: “O amor é miudezas. Ele é tão miudinho que se a gente não presta atenção, a gente pisa e mata o tempo todo. O amor é tão miudinho que se a gente não abre bem os olhos, a gente não enxerga, a gente não sabe onde está.” É miúdo, é pequeno, é humano, é recém-nascido que pode ser visto apenas com um único gesto: o rebaixar. O Natal é a festa do “escondimento” de Deus. Por mais que se camuflam a sua presença, mais ele se torna revelado. Quanto mais se revela, mais se esconde na singeleza e na humildade das coisas ao ponto do que era escondido se explodir no alto da cruz. Ali, no alto madeiro Deus não se esconde, mas se revela como Misericórdia e Amor pelo ser humano.
Vivamos o “escondimento” de Deus. Busquemos onde Ele se esconde e deixemos que Ele se revele em nós como é, isto é, essencialmente Amor.
Feliz “escondimento” Natal!
Padre Ricardo Alexandre Camargo da Silva
Vigário da paróquia Sant’Ana