Documentarista vargengrandense acompanha manifestação indígena

Fernanda e Celia Xakriaba

A 1ª Marcha das Mulheres Indígenas do Brasil aconteceu em Brasília na terça-feira, dia 13, e reuniu cerca de duas mil mulheres de 113 povos indígenas brasileiros e mais de 300 etnias. A manifestação se posicionou contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e em defesa da demarcação de terras indígenas, com o tema “Território: nosso corpo, nosso espírito”.

O protesto foi organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e teve início na sexta-feira, dia 9, com o Fórum Nacional de Mulheres Indígenas. Na quarta-feira, dia 14, a Marcha das Mulheres Indígenas se uniu à Marcha das Margaridas, realizada pelas mulheres do campo desde 2000. A documentarista vargengrandense Fernanda Ligabue fez a cobertura da manifestação pelo Instituto Socioambiental (ISA) e contou à Gazeta de Vargem Grande sobre a experiência. “Eu fui chamada para fazer a cobertura audiovisual da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas e da Marcha das Margaridas 2019. Fui contratada pelo ISA e estou fazendo um filme, que é um produto audiovisual de até cinco minutos contando a história de todas as lideranças indígenas que estiveram lá”, disse.

“Foram mais de 1.800 lideranças indígenas e mulheres indígenas cadastradas no acampamento, que foi muito bonito, em uma Praça da Funarte, em Brasília. Essas mulheres marcharam pelas ruas de Brasília até o Congresso, ocuparam o prédio do Ministério da Saúde, contra a municipalização da saúde indígena na segunda-feira, dia 12 e na terça-feira, fizeram a Marcha das Mulheres Indígenas e a manifestação na frente do Palácio. Elas se juntaram à Marcha das Margaridas, com mais de 100 mil mulheres campesinas, o que foi bem bonito de se ver”, completou.

Para Fernanda, essa foi uma oportunidade única de muito aprendizado por poder ver de perto a luta dessas mulheres. “Fiquei muito contente de estar lá, foi uma oportunidade única de conhecer povos do Brasil inteiro. Foi uma oportunidade de unir muitas pessoas do país, povos de todas as regiões unidos com vários debates, mesas de falas, shows que eles apresentaram, houve várias presenças de políticos participando, como a Jôenia Wapichana (REDE), que é a primeira deputada federal indígena de Roraima”, comentou.

“Foi muito bonito, foi um espaço de muito aprendizado e muita troca e, principalmente, de perceber o quanto elas são guerreiras, fortes e como sempre estiveram em luta, pois são 519 anos de resistência para a sobrevivência das tradições e da cultura desse povo e principalmente, para a manutenção da vida e da terra deles, já que está tudo sendo devastado”, lamentou.

Olhar feminino

Segundo a documentarista, a realização da cobertura do protesto feminino por uma mulher é uma forma de levar seu significado com outros olhos. “É uma situação muito difícil que estamos vivendo com esse atual governo que vai de frente à luta dos indígenas pelo direito à terra, ao bem viver, águas limpas, sem desmatamento de suas terras. O governo está querendo explorar minério nas terras indígenas e cada vez mais tirar os direitos indígenas da terra deles, então esse levante das mulheres é muito importante nos dias de hoje, porque muitas lideranças mulheres estão surgindo e estão tomando a frente da luta, como os casos de Watatakalu Yawalapiti, Alessandra Munduruku, Célia Xacriabá, Célia Tupinambá, Sônia Guajajara e Joênia Wapichana, e é muito bonito de estar envolvida e poder registrar essas mulheres unidas na luta. E ser uma mulher registrando isso, eu acho que leva também um olhar diferente de quem compartilha muito esses ideais”, pontuou Fernanda.

“Eu já estive em muitas aldeias no Brasil e eu vejo crescendo cada vez mais esse movimento das mulheres e essa Primeira Marcha em Brasília é muito simbólica, porque o governo além de atentar contra o direito das mulheres indígenas, também atenta muito contra o direito das mulheres como um todo. Então é uma junção dessas frentes contra o retrocesso de direitos e a opressão. Ainda existe muito preconceito com os povos indígenas. As pessoas ainda não sabem e não reconhecem que existem muitos povos indígenas no Brasil, muitas pessoas que ainda estão isoladas em florestas, e é importante a gente reconhecer que eles são os povos originários, são os verdadeiros donos da terra do Brasil e que eles estão sendo dizimados há muito tempo e precisam ser respeitados nos seus direitos, que estão dentro da Constituição”, disse.

Luta

Fernanda falou sobre a importância de todos se unirem à luta indígena. “Nós precisamos fazer valer esses direitos deles e eu acho que o que precisa hoje em dia é que cada um tente sair desse espaço de ignorância e tente buscar mais referências, conhecimento e entender mais sobre cultura indígena, porque essa invisibilidade que existe dos povos originais brasileiros é que faz com que seja tão fácil dizimá-los, matá-los, tirar os direitos deles e, com isso, desmatar e destruir toda floresta em que eles vivem e que eles protegem, eles são os guardiões da floresta”, relembrou.

“Então eu acho que nós não indígenas precisamos todos nos unir para ajudá-los na defesa do meio ambiente, da natureza e da defesa da existência deles. Precisamos fazer valer e repercutir a voz deles, pois eles têm voz própria, mas precisamos que essa voz seja ouvida em todos os cantos, porque eles não são mostrados na TV, em novelas e jornais. Então, nós que temos que fazer esse esforço ativo para que eles permaneçam vivos na nossa cultura. Eles existem e são muitos e elas existem e são muitas, e é muito bonito de ver”, finalizou a documentarista.

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