Do golpe até a revolução

Edição do jornal A Imprensa de 13 de outubro de 1929 exaltou o comício do Partido Republicano em Vargem pela candidatura de Júlio Prestes. Foto: A Imprensa

O governo de Washington Luís, presidente do Brasil entre 1926 a 1930, enfrentou a grave crise econômica mundial ocorrida em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, e que levou à falência da cafeicultura nacional. O presidente Washington Luís foi contra a continuidade da política do Café com Leite, um revezamento entre paulistas (Café) e mineiros (Leite) na presidência do país e apoiou mais um paulista, Júlio Prestes, para assumir o País. Os mineiros protestaram. Estados como Paraíba e Rio Grande do Sul se uniram a Minas Gerais e lançaram a Aliança Liberal, apoiando o gaúcho Getúlio Vargas.

Prestes vence a eleição, o que não foi aceito pela Aliança Liberal. Em um crime passional, o vice de Getúlio, João Pessoa foi assassinado, no entanto, o crime ganhou contornos políticos e causou a Revolução de 1930. Houve um golpe de estado e Getúlio foi alçado ao poder. Os paulistas exigiam do seu Governo Provisório a elaboração de uma nova Constituição e a convocação de eleições para presidente. Os protestos começam em janeiro a Revolução Constitucionalista é deflagrada em 9 de julho. A revolta foi liderada pelo interventor do estado, Pedro de Toledo. No total, foram 87 dias de combates até 4 de outubro de 1932. São Paulo contou com 200 mil voluntários, sendo 60 mil combatentes, contra 100 mil soldados do governo Vargas.

Em Vargem

Em 1930, o golpe militar de Getúlio Vargas instaurou a ditadura e fechou todas as casas legislativas do país, do Congresso Nacional às Câmaras Municipais, incluindo a de Vargem, à época presidida por Belarmino Peres. Ele convocou sessão extraordinária, realizada em 8 de outubro de 1930, e apresentou uma moção de solidariedade. “A Câmara de Vargem Grande, reunida em sessão extraordinária, revoltada contra o assalto à honra e dignidade do Brasil, pelos estados de Minas e Rio Grande do Sul, por unanimidade, hipoteca, aos governos da República e do Estado, inteira solidariedade e está completamente ao lado dos poderes constituídos para defesa da República e do Estado de São Paulo”.

Em 29 de outubro, a ditadura Vargas impôs o registro da “Ata de Entrega da Câmara Municipal à Junta Governativa, por ordem do ditador Getúlio Vargas”. A primeira junta governativa (29.10.1930 a 1935) era composta por membros do diretório democrático. Fechada a Câmara, foi a vez da Prefeitura ser entregue às decisões dos interventores.

Revolução

Fronteira com o estado de Minas Gerais, Vargem Grande participou da guerra. Soldados e moradores foram ao combate, conforme os estudos feitos por Mario Poggio Junior, estudioso da história do município.

De acordo com artigos de Mario Poggio Jr, Vargem se empenhou na luta com doação de mercadorias, prestação de serviços, apoio à causa, criação de centros de acolhimento, como a Casa do Soldado e, principalmente, adesão de vargengrandenses voluntários, para compor as forças paulistas constitucionalistas. A cidade contou com a cobertura jornalística realizada pelo jornal O Liberal, de propriedade do jornalista Walter Tatoni.

Na ocasião da revolução, o diretor do corpo clínico do Hospital de Caridade, Dr. Gabriel Mesquita, colocou a unidade de saúde à disposição do movimento. O hospital foi ocupado inicialmente pelas tropas da ditadura e depois pelas forças constitucionalistas.

Metralhadora

O prédio onde atualmente funciona a Casa da Cultura também serviu de abrigo para os soldados constitucionalistas.

Mario Poggio também lembrou em suas publicações que foi instalada uma metralhadora na sede da antiga Sociedade Italiana, localizada no cruzamento da Rua do Comércio com a Avenida Regato, onde atualmente se encontra a “Casas Pernanbucanas”. O equipamento era manuseado pelo senhor José de Oliveira Fontão, o “Zé Almofadinha”.

Binóculo

O pai da professora Palmira Fontão Corsi, senhor José de Andrade Fontão, tinha o único binóculo da cidade, o qual emprestava para as forças paulistas. Já Antônio Abdalla Jacob, pai de Helim, Leonor e Yvette Abdalla Ferreira, abrigou soldados no porão de sua residência, localizada na Praça Washington Luiz, altura do atual número 499/503.

Casa do Soldado

Durante a Revolução Constitucionalista, o Capitão Francisco Ribeiro da Costa, o “Chico Ribeiro”, promoveu reunião na Cerâmica Sopil para a fundação da Casa do Soldado, entidade que objetivava cuidar dos Soldados Constitucionalistas. As dirigentes da entidade foram Alzira Rocha Junqueira, a Dona Lota e Maria Cherubina Rocha Ribeiro.

Hino

O maestro Edmundo Russomano, que também combateu na Revolução, deixou sua marca para a história nacional ao compor o hino “Canto dos Bandeirantes”, dedicado aos paulistas e entoado durante a Revolução. Ele foi cantado pela primeira vez no Cine Theatro Glória e no Comício Pró-Constituinte realizado em Vargem em 6 de março de 1932.

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