Psicóloga destaca importância do Setembro Amarelo

A psicóloga Elisângela Cândido Eugênio falou à Gazeta
A psicóloga Elisângela Cândido Eugênio falou à Gazeta

A campanha brasileira de prevenção ao suicídio, Setembro Amarelo, foi criada em 2005. É uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O mês de setembro foi escolhido para a campanha porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.  A ideia é promover eventos que abram espaço para debates sobre suicídio e divulgar o tema alertando a população sobre a importância de sua discussão.

A Gazeta de Vargem Grande contatou a psicóloga Elisângela Cândido Eugênio para falar sobre suicídio, tema da Campanha Setembro Amarelo, realizada durante todo este mês.

A psicóloga pontuou os sinais de depressão, principalmente nos jovens, que são a faixa etária com mais casos no mundo. Segundo ela, este fato pode estar relacionado à fase da adolescência, que é marcada por um período de desenvolvimento e transição, que refletem em alterações físicas, psíquicas e sociais, onde as relações podem vir acompanhadas de conflitos, dúvidas e angústias.

“Tendo em vista esses fatores, a ideação suicida na adolescência pode ser subestimada com relação ao comportamento autodestrutivo, a mudança e a construção dos ideais de vida. Nessa fase, o adolescente entra em conflito consigo mesmo a partir do momento em que não se identifica mais como criança, porém também ainda não possui habilidades sociais e psíquicas necessárias para a resolução de problemas complexos da vida adulta. Por isso, na adolescência é comum a manifestação de sentimentos ambivalentes e comportamentos autodestrutivos”, disse Elisângela.

De acordo com ela, o primeiro grupo social ao qual o sujeito pertence é a família e, através dela desenvolve laços afetivos que o amparam diante dos conflitos característicos durante a fase da adolescência e que favorecem a elaboração de estratégicas de enfrentamento.

“Esse dado é apresentado também pelos autores Abasse et. al (2009), ressaltando o vínculo com a família como uma das ferramentas de prevenção ao suicídio, portanto pode se compreender que a inexistência ou enfraquecimento destes laços afetivos deixam o adolescente vulnerável, desenvolvendo maior chance de passagem ao ato suicida”, comentou a psicóloga.

“Uma vez que o adolescente executa o ato, o impacto da ação suicida, mesmo quando não efetivado, reflete não apenas no próprio indivíduo mas nos familiares, amigos e demais pessoas que socialmente o acompanham, gerando consequências tanto materiais quanto psicológicas, ou seja, não é somente a pessoa que produz o ato que sofre (Wenzel; Brown; Beck, 2010). Devido a isso, os mesmos autores enfatizam ainda que o acompanhamento realizado ao paciente com ideação suicida deve ser estendido também aos familiares ou acompanhantes, pois a falta de informações a respeito do risco de ocorrer uma nova tentativa e também, a importância de verificar comportamentos que podem ser destrutivos como isolamento social, ideias de autopunição, verbalizações sobre o desejo de morrer, tristeza acentuada e desesperança são fatores que podem levar o sujeito a efetivação do suicídio ou a uma nova tentativa (Wenzel; Brown; Beck, 2010)”, completou.

Elisângela ainda falou sobre o desafio de compreender que não se pode atribuir à depressão apenas ao resultado de falta de força ou de vontade, igualmente a uma falha moral ou espiritual, ou ainda a uma forma de chamar atenção.

“A depressão não é sentimento passageiro, é uma doença e como tal precisa de cuidados com medicamentos antidepressivos prescritos pelo médico, associando a psicoterapia que vai trabalhar com o individuo auxiliando-o a entender e a resolver seus conflitos. Eu sigo a linha da Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) que utiliza-se de técnicas diretivas e objetivas, baseadas na co-participação entre terapeuta e paciente para a identificação de pensamentos disfuncionais, ela possibilita o empoderamento deste sujeito na resolução dos seus conflitos. Porém também há outras linhas de pensamentos que podem ajudá-lo. Estudos também comprovam que a atividade física e atividades culturais podem auxiliar no tratamento”, pontuou.

Segundo a profissional, entre os principais sintomas da depressão estão irritabilidade, ansiedade, angustia, desânimo, cansaço fácil, necessidade de esforço para fazer as coisas, diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer, desinteresse, falta de motivação, tristeza, problemas de memória e concentração, alterações do humor, falta de apetite, autoestima baixa, alterações do sono, ganho ou perda de peso e choro.

Elisângela comentou que pensamentos e sentimentos depressivos estão relacionados às experiências e crenças passadas ou situações recentes que não foram superadas como traumas ou perdas, e que geram sentimentos de desamor, desamparo e desvalor.

”Algumas características suicidas muitas vezes são percebidas pela fala ou pelo comportamento do individuo, como nestes exemplos de fala ‘eu só dou trabalho’, ‘eu sou um peso’, ‘eu não mereço ser feliz’, ‘eu sou um lixo’, ‘eu não aguento mais’, ‘nada mais faz sentido’, ‘as pessoas não gostam de mim’ e ‘ninguém me ama’. Estas são falas que carregam uma visão negativa de si mesmo. Vale ressaltar que esses pensamentos são comumente encontrados por pessoas que apresentam um quadro depressivo, mas que não necessariamente estão pensando em suicídio”, explicou.

Campanha

De acordo com Elisângela, a Campanha do Setembro Amarelo é importante, pois falar de morte em si já é um tabu e falar em morte por suicídio costuma ser ainda mais, por tocar em um assunto que gera desconforto, lida com crenças, escolhas e barreiras sociais, por isso, neste sentido muitas vezes o tema não é debatido ou discutido.

“No Brasil, o suicídio é considerado um problema de saúde pública e sua ocorrência tem aumentado muito entre jovens. Por meio da Campanha, buscamos conscientizar a população sobre os fatores de risco para o comportamento suicida e orientar para o tratamento adequado dos transtornos mentais, que representam 96,8% dos casos de morte por suicídio”, disse.

A psicóloga ainda comentou que, segundo a Associação Catarinense de Psiquiatria, a cor da campanha foi adotada por causa da história que a inspirou:

“Em 1994, um jovem americano de apenas 17 anos, chamado Mike Emme, tirou a própria vida dirigindo seu carro amarelo. Seus amigos e familiares distribuíram no funeral cartões com fitas amarelas e mensagens de apoio para pessoas que estivessem enfrentando o mesmo desespero de Mike, e a mensagem foi se espalhando mundo afora. O carro era um Mustang 68, restaurado e pintado pelo próprio Mike. Os pais de Mike, Dale Emme e Darlene Emme, iniciaram a campanha do programa de prevenção do suicídio “fita amarela”, ou “yellow ribbon”, em inglês.

 

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