A polêmica envolvendo as cirurgias eletivas em Vargem Grande do Sul, com uma grande fila de espera de pacientes que levou o prefeito Amarildo Duzi Moraes a não realizar o carnaval de rua este ano para usar as verbas visando diminuir a fila que tem cerca de 300 pessoas, foi motivo de matéria e manchete da Gazeta de Vargem Grande, na edição de sábado passado.
Após entrevistar o prefeito Amarildo Duzi Moraes (PSDB) e falar de sua ida à Câmara Municipal para expor aos vereadores sobre a questão, que envolve o custo das cirurgias e também o envio de pacientes para realizá-las em hospitais da região, como Divinolândia e Caconde, além do repasse de R$ 1,4 milhão ao Hospital de Caridade, o jornal formulou dois questionários de perguntas ainda na semana passada e os enviou um ao corpo clínico do Hospital de Caridade, presidido pelo médico Valdir Chiavegati Junior e outro ao provedor Vagner Vilela Cipolla, para que os leitores e a população em geral, tomassem conhecimento de como anda a questão junto aos principais envolvidos.
A direção do hospital comunicou que daria uma resposta para esta edição, o mesmo acontecendo com o corpo clínico, mas somente o diretor do Corpo Clínico respondeu, sendo que o hospital afirmou que levou a questão à sua assessoria jurídica e somente na semana que vem responderia às questões.
Corpo Clínico
Ao diretor do Corpo Clínico, a Gazeta questionou qual a função do diretor clínico do Hospital de Caridade, quantos médicos fazem parte do Hospital e respondem à diretoria clínica, quais são os médicos cirurgiões e anestesistas credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar as cirurgias eletivas em Vargem Grande do Sul.
Perguntou também qual a obrigatoriedade dos médicos em realizar ou não os procedimentos, como está aparelhado o Centro Cirúrgico do Hospital para a realização de tais cirurgias e se há tempo ocioso no Centro Cirúrgico.
A Gazeta questionou o valor que os médicos credenciados recebem para a realização das principais cirurgias eletivas do SUS e quais as consequências para o paciente se uma cirurgia eletiva não for realizada em tempo hábil.
Foi perguntado se o Corpo Clínico tinha conhecimento do número de espera de cirurgias eletivas em Vargem e o que impede os médicos de realizar as cirurgias eletivas. Ainda foi questionado o valor que a Prefeitura Municipal se propôs a pagar por cada uma das principais cirurgias.
A reportagem ponderou que em centros menores, como Divinolândia e Caconde, a prefeitura informou que consegue contratar as cirurgias e perguntou por qual razão, não é possível contratar os mesmos procedimentos com os especialistas de Vargem.
Perguntou se o corpo clínico aceitaria que outros médicos realizassem tais cirurgias utilizando o Centro Cirúrgico do Hospital de Caridade.
Questionou se há planejamento para que se possa realizar pelo menos 30 cirurgias eletivas mensais em Vargem, até que a fila seja atendida e a quem pode ser debitado o sério problema de saúde pública que gerou um grande número de pacientes que precisam realizar cirurgias eletivas em Vargem Grande do Sul e não conseguem realizá-las.
Por fim, perguntou qual a importância na carreira dos médicos de Vargem o bom funcionamento do Hospital de Caridade e qual a importância do repasse da prefeitura para o bom andamento das finanças do Hospital.
Diretor do Corpo Clínico
Atendendo às indagações feitas pela Gazeta de Vargem Grande do Sul, o diretor clínico Valdir Chiavegati Júnior fez o seguinte relato:
Em resposta a algumas questões formuladas por esse jornal a mim encaminhadas como Diretor Clínico do Hospital de Caridade de Vargem Grande do Sul, informo que a função do Diretor Clínico de um Hospital é dirigir e coordenar o Corpo Clínico da instituição; supervisionar a execução das atividades de assistência médica da instituição, comunicando ao diretor técnico para que tome as providências cabíveis quanto às condições de funcionamento de aparelhagem e equipamentos, bem como o abastecimento de medicamentos e insumos necessário ao fiel cumprimento das prescrições clínicas, intervenções cirúrgicas, aplicação de técnicas de reabilitação e realização de atos periciais quando este estiver inserido em estabelecimento assistencial médico; zelar pelo fiel cumprimento do Regimento Interno do Corpo Clínico da instituição; supervisionar a efetiva realização do ato médico, da compatibilidade dos recursos disponíveis, da garantia das prerrogativas do profissional médico e da garantia de assistência disponível aos pacientes; atestar a realização de atos médicos praticados pelo corpo clínico e pelo hospital sempre que necessário;
Atualmente o nosso Corpo Clínico é composto por 26 médicos membros efetivos, 11 médicos membros eventuais e 3 médicos membros honorários.
Médicos não são credenciados pelo SUS como muitos pensam. Quem é credenciado pelo SUS são os hospitais que possuem um Corpo Clínico composto por médicos que não são celetistas, nem contratados, portanto profissionais liberais.
Não existe nenhuma obrigatoriedade do profissional médico realizar qualquer procedimento cirúrgico eletivo, diferentemente dos profissionais que estiverem na escala de plantão para atendimentos de urgência/emergência.
Quanto a dificuldade na realização das cirurgias eletivas do município, isto se deve a baixa remuneração praticada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como já foi explicitado na matéria da semana passada, onde numa cirurgia de hérnia por exemplo, renderia R$ 73,48 para o cirurgião, R$ 36,74 para o auxiliar e R$ 36,74 para o anestesiologista. Houve sim a tentativa de se pagar três vezes o valor da referida tabela, porém o valor total oferecido limitou a continuidade do acordo devido ao custo médio de cada procedimento.
Sabemos que a prefeitura se prontificou aumentar o repasse anual ao hospital no ano de 2019, sendo acordado entre as partes que 150 mil reais deveriam ser destinados a realização das cirurgias eletivas das pessoas que estavam na fila de espera, quantidade essa estimada em trezentos casos. Porém, através do levantamento de custos realizado pelo hospital no decorrer do ano, concluiu-se que cada cirurgia está ficando em média R$ 1.525,00, portanto sendo possível a realização de apenas 98 cirurgias com o referido valor, do qual já foram feitas sem maiores problemas.
Não existe nenhuma objeção por parte dos médicos do Corpo Clínico que outros profissionais atuem aqui no hospital, desde que promovam o atendimento completo aos seus pacientes. Muito pelo contrário, gostaríamos e convidamos constantemente colegas para que venham somar seus trabalhos a entidade.
Dados do relatório anual das atividades realizadas no Hospital de Caridade de Vargem Grande do Sul no ano de 2018, demonstrou 27.951 atendimentos no pronto socorro (urgência/emergência), sendo 10.646 pelo SUS (38%); 3.738 internações hospitalares sendo 2.406 pelo SUS (64%); totalizando 31.689 atendimentos (PS + Internação), sendo 13.052 através do SUS (41%).
Por fim, gostaria de deixar bem claro que ser médico não é exatamente um sacerdócio, como sugerem alguns, transferindo-nos todas as responsabilidades e culpas pela falta de resolutividade do poder público. Ser médico é algo simples, singelo. Sabe que o paciente tem nome, história, família e uma construção de vida. Entende que ele não é um número de quarto ou de carteirinha de plano de saúde. Em geral, assim é o médico brasileiro; reverencia o paciente, pois gosta de pessoas, pois ama sua arte e ainda porque possui os pés no chão e quer o mesmo tratamento humano para si e os seus: ele tem consciência de que também é paciente, e amanhã estará do outro lado. Claro que enfrentamos problemas gigantes diariamente; o Sistema Único de Saúde é subfinanciado e está sucateado, fruto amargo da gestão ineficaz e da corrupção; não há leitos em muitos hospitais, faltam medicamentos, e, diga-se a verdade, alguns colegas nem sempre ajudam. Mas ser médico também significa superar obstáculos quase intransponíveis e dar o melhor para o bem do paciente, enquanto vai à luta para reverter as mazelas do cotidiano. E elas não são poucas. “O profissional de Medicina dedica anos de sua vida e considerável investimento à formação profissional, já sabendo que seu ofício terá percalços de todos os gêneros. Mesmo assim, segue em frente por acreditar no Juramento de Hipócrates. Quando vai para a linha de frente do atendimento, principalmente na rede pública, conhece de antemão as adversidades. Mas se apresenta porque deseja servir, da melhor forma possível, àqueles que necessitam de assistência em saúde.”
Nós médicos e hospital, estamos à disposição da população e seus governantes para o que precisarem, desde que as negociações e a transparência entre as partes envolvidas sejam pertinentes. Prova disso, se faz através dos longos anos mantendo nosso hospital de portas abertas, com atendimento de qualidade e eficiente, recebendo honorários aquém do esperado pela categoria.
Perguntas formuladas ao provedor do Hospital de Caridade
A Gazeta ainda aguarda a manifestação do Hospital de Caridade por meio de seu provedor Vagner Vilea Cipolla. As perguntas enviadas foram: Qual o compromisso que o Hospital de Caridade assumiu com o Poder Público Municipal com relação à realização de cirurgias eletivas no município? A diretoria do Hospital tem conhecimento do número de pacientes aguardando para realizar uma cirurgia eletiva?
Também perguntou quais são os médicos cirurgiões e anestesistas credenciados pelo SUS para realizar as cirurgias eletivas em Vargem, qual a obrigatoriedade dos médicos em realizar ou não os procedimentos, como está aparelhado o Centro Cirúrgico do Hospital e se há tempo ocioso no Centro Cirúrgico.
Questionou quanto o Hospital de Caridade recebe do SUS ou da Prefeitura Municipal para cada cirurgia realizada, qual o valor que o SUS paga pela realização das principais cirurgias eletivas e quanto a prefeitura se propôs a pagar aos médicos por elas. Perguntou se caso os médicos credenciados se neguem a realizar os procedimentos, como a direção do Hospital pretende agir para que as cirurgias sejam realizadas.
Ainda perguntou o que impede os médicos locais de realizarem estas cirurgias no Hospital e se o Hospital de Caridade tem como realizar 30 cirurgias eletivas mensais para colocar fim na fila de espera.
Valores
A Gazeta apontou que a prefeitura, no ano de 2019, repassou R$ 1,4 milhão ao Hospital de Caridade e o convênio vence agora em abril de 2020. Segundo apurou o jornal, foi repassado recentemente para que pudesse ser realizadas 30 cirurgias mensais, um aporte de R$ 150.000,00 pela prefeitura ao Hospital, mas as cirurgias não foram feitas. Assim, questionou o que a provedoria tem a falar sobre a questão.
A reportagem pontuou que o prefeito afirma que se não houver a realização de um número de cirurgias que coloque fim à espera dos pacientes, cerca de 300 pessoas, não poderá aumentar o repasse do convênio para 2020. Dessa forma, perguntou como a provedoria vê esta situação.
Questionou também se está nos planos da provedoria contratar outros médicos para realizar as cirurgias eletivas em Vargem e receber mais dinheiro da prefeitura. Lembrou ainda que em centros bem menores, como Caconde ou Divinolândia, a prefeitura afirmou que consegue fazer as cirurgias eletivas, por um valor ainda menor. Assim, a reportagem perguntou por qual razão as cirurgias não são realizadas pelo Hospital de Caridade de Vargem Grande do Sul que passa por dificuldades financeiras e precisa de verbas.
Mais tempo? E fácil pedir tempo quando não se tem dor.