Pe. Denis Crivelari, Paróquia Sant’Ana
Tendo em vista a impossibilidade de ir à missa por causa do coronavírus. Nos próximos dias e semanas, muitos de nós não poderemos participar da missa dominical por causa dessa pandemia. Mas realmente ficaremos sem missa?
A resposta é não. Pode ser difícil para quem está em casa em quarentena (ou até mesmo em um hospital) perder a missa no domingo. Você deseja muito receber Jesus na Eucaristia, mas é fisicamente incapaz de participar da Santa Missa. A boa notícia é que pessoas incapazes de receber a Eucaristia ainda podem participar dela, oferecendo uma oração de “comunhão espiritual”. É uma maneira de expressar seu desejo sincero de estar em união com Deus, embora não seja capaz de recebê-lo sacramentalmente na missa.
Nesse último final de semana, como nos próximos, tivemos a experiência de presidir a missa com o templo vazio. Mas a novidade é que muitos fieis tiveram a graça de nos acompanhar pelas nossas redes sociais como facebook e youtube. Experiência que permitiu que nossa espiritualidade pudesse ser alimentada pela Palavra e Eucaristia. Nesse tempo da Quaresma realmente estamos nessa quarentena vivenciando nosso deserto que nos dará a oportunidade de voltarmos a Deus.
Belíssimas são as demonstrações de fé de nosso povo ao comentar as celebrações e afirmar que tal momento se torna um oásis em meio a aridez existencial que se vem vivenciando nesses tempos. Famílias reunidas ao redor do celular, que outrora afastava, agora se torna momento de união e oração. Pessoas que estão redescobrindo a graça da fé.
Recebi dois textos que gostaria de partilhar, são expressões do que estamos vivendo nesse momento.
Ao presidir a Eucaristia sem a presença do povo, uma mistura de sentimentos, de vazio, mas ao mesmo tempo de que Deus estava comunicando algo novo. Quando começou o canto de entrada, quando entrei e beijei o altar não vi cadeiras vazias, vi uma multidão que estava ali, uma ausência cheia de presença porque a graça de Deus estava naquele lugar alcançando cada pessoa que tinha sede da Eucaristia. Naquela celebração ficou claro o verdadeiro sentido do sacrifício, o abandono de Jesus na hora da dor, mas ao mesmo tempo a alegria de vidas que estavam sendo tocadas. Não, as cadeiras não estavam vazias, você estava ali, elas estavam cheias de sonhos, de esperanças, cheias de uma certeza que gritava dentro do meu coração dizendo que tudo estava passando. Certeza de que a Igreja deslocava do lugar físico e ia até a casa de cada pessoa, fazendo-nos ver que a graça precisa ser sentida de onde estivermos. A cada palavra dita não estava sendo lançada ao vento, estava chegando aos corações. Em cada cadeira enxergava quem chegava tão cedo para cada missa, cada sorriso e cada lágrima derramada, não presidi sozinho, você estava ali, presidi para uma multidão que estava ali presente de coração com o desejo profundo de estar com Ele. Não estamos sozinhos e quando consagrava o que gritava dentro do meu coração era: Você não está sozinho eu estou aqui e através dessa Eucaristia eu posso curar e salvar a todos que estão unidos nesse momento. É hora de intensificar nossas orações e deixar Deus ser Deus.
No século 11, o califa muçulmano Al-Hakim decretou o fechamento de todas as igrejas no Egito por nove anos. Foi um momento de grande angústia para todos os cristãos. Um dia, o califa estava andando pelas ruas onde os cristãos residiam e ele ouviu suas vozes louvando e orando em cada casa. Então ele disse: “Abram suas igrejas novamente e deixe-os orar como bem entenderem. Eu queria fechar a igreja em todas as ruas. Mas hoje eu descobri que quando fiz esse decreto, uma igreja foi aberta em todos os lares.” (Pr. Thaddeus Hardenbrook).
Então, de onde você estiver, junte-se a nós, e, elevemos um grande clamor de nossas casas. Da igreja casa para a igreja comunidade.