Sérgio Moro, ex-ministro da Justiça, que pediu demissão na sexta-feira, dia 24, caiu atirando. Na entrevista coletiva em que comunicou sua decisão, o ex-juiz da Operação Lava Jato foi cristalino em expor suas motivações e o resultado não foi nada bom para o presidente Jair Bolsonaro.
Moro deixou uma carreira de 22 anos como juiz federal. Atingiu a notoriedade ao sentenciar as principais ações da Operação Lava Jato. Determinou a prisão de políticos, empresários, agentes financeiros. Mostrou o peso da lei a quem se achava acima dela.
Em 2018, foi convidado por Jair Bolsonaro a compor sua equipe de governo. Teve como promessa carta branca para suas ações. Acreditando no compromisso firmado, aceitou a missão de comandar o Ministério da Justiça. Logo nos primeiros meses de gestão, teve sua primeira derrota. O pacote anticrime que desenvolveu e apresentou foi aprovado no Congresso com severas alterações, como a retirada do excludente de ilicitude, a possibilidade de execução da pena após segunda instância e o acordo de “plena bargain”.
A troca do superintendente da Polícia Federal do Rio, Ricardo Saadi, também não foi bem digerida por Moro. Saadi saiu após muita pressão do presidente. Bolsonaro aventou a possibilidade de tirar ministério a pasta de Segurança, o que diminuiria o poder do ministro, que já teve retirado da Justiça o Conselho de Controle de Atividades Financeiras pelo Congresso, entre outras derrotas.
Ao anunciar sua saída, Moro afirmou que o presidente gostaria de ter no comando da PF alguém a quem poderia ter acesso a relatórios de segurança e informações de inteligência. O uso de indicação política para nomeação do diretor da PF foi a gota d’água. “Não são aceitáveis indicações políticas”, disse. Para Moro, isso se tratou de “violação de uma promessa que me foi feita inicialmente de que eu teria uma carta branca”.
Em sua decisão de proteger a autonomia da Polícia Federal, lembrou aos jornalistas que nem nos governos do PT, os presidentes em exercício feriram essa autonomia.
Com a saída de Moro, Bolsonaro perdeu não só um ministro que fazia parte de imagem que construiu junto ao eleitor, o de combatente da corrupção e antipetista, como teve abalada a confiança daqueles que ainda o apoiavam apesar de tantos tiros no pé. Embora os bolsonaristas extremistas já tenham feita a narrativa própria de que Moro foi um traidor e abandonou o presidente em um momento delicado, o da crise causada pelo novo coronavírus, o fato é que Jair Bolsonaro não tinha entregado uma carta tão em branco assim para Moro.
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