E assim, eu me formei

O jornalista Tadeu Fernando Ligabue, fundador e diretor da Gazeta de Vargem Grande, formou-se bacharel em Direito pela Unifeob, na sexta-feira dia 31 de julho. A solenidade de colação de grau foi on-line, transmitida pelas plataformas digitais Youtube e Facebook da Unifeob, com a participação de dezenas de formandos, além de professores e do reitor da Unifeob, João Octávio Bastos. Parabenizaram Tadeu pela conquista, a esposa Fátima, as filhas Lígia, Helena, Sara e Fernanda, e demais familiares. Foto: Arquivo Pessoal

Tempos bicudos estes de pandemia em que vivemos. Prestes a completar 63 anos, finalmente fui diplomado bacharel em Direito, advogado ainda não sou, pois preciso passar no exame da OAB. Mas, venci mais uma etapa nesta minha longa jornada.
A tão sonhada festa de formatura, acabou não acontecendo devido ao coronavírus. Até uma festa tipo drive-thru estava programada, mas foi embargada pela prefeitura de São João devido a possível aglomeração, e minha diplomação foi através de uma live da UNIFEOB, onde escrevi na tela fria do computador, a palavra JURO, me comprometendo a exercer esta profissão com toda a dignidade e independência, com ética, defender a Constituição, os direitos humanos, o estado democrático de Direito, a justiça social, dentre outros valores que todo brasileiro, independentemente de sua formação, deveria defender e que eu procuro fazer nestes anos todos através do jornal e nas atividades que exerci, públicas ou não.
O tempo passou muito rápido, desde aquele dia, há cinco anos atrás, quando fiz tão somente uma redação e fui admitido no curso de Direito da UNIFEOB. Já havia iniciado o curso pelo menos três vezes em décadas passadas e não fui capaz de concluí-lo por diversos fatores. Se tivesse concluído o mesmo na década de 80, hoje estaria entre os advogados decanos da cidade, mas tudo isso é passado.
Fico feliz também por finalmente ter concluído uma faculdade, pois além do Direito, estudei por quatro anos Administração e Economia e por dois anos História. Concluir Direito também fecha uma etapa de coisas iniciadas e não terminadas na minha vida. Não sei se nesta altura do campeonato vou exercer a profissão de advogado, pois ser jornalista, profissão que de fato exerço sem ter-me formado nela, além de escrever, me seduz cada vez mais.
Os novos tempos e as novas ferramentas de comunicação, como a internet e todas as redes sociais, são os desafios a que me ponho agora. Mas, admito que a vastidão do curso de Direito, todos os ensinamentos que absorvi, certamente me serão úteis, independente da profissão ou cargo que eu venha a ter.
Cercado pela esposa Fátima, as filhas Sara, Lígia, o genro Rafael e o neto Pedro, pude compartilhar com todos a alegria do momento, com direito até a um pequeno discurso de agradecimento à família e tomar um gole de uma champanha que há muito tempo estava na geladeira e acabou servindo bem à ocasião presente.
Sem dúvidas que muitos pensamentos passam pela nossa cabeça numa hora desta, e a figura materna de dona Odila Ferreira Ligabue é presença marcante, pois sempre sonhou com um diploma para todos seus filhos e especialmente para mim que tinha todos os pendores nos estudos e que ela acalentava me ver com o tão sonhado canudo. Pronto mamãe, agora sou um bacharel em Direito. Obrigado por todo o esforço que fez em vida para que eu pudesse estudar. Obrigado meu pai e meus irmãos por tudo que me foram importantes nesta minha vida. Obrigado Helena e Fernanda, filhas queridas, hoje todas as quatro com seus diplomas universitários. Falta a Fátima concluir seu curso, que também foi interrompido para se dedicar à criação das quatro filhas. Quem sabe ela se anima e faça alguma faculdade, apesar de com ou sem diploma, ser uma profissional excepcional na condução da administração do jornal Gazeta de Vargem Grande.
Já que estou agradecendo, devo também agradecer a tantas pessoas que me ajudaram nesta conclusão de curso, aos amigos que me auxiliaram com as necessárias horas de estágios em seus escritórios, ao meu genro Eduardo, também advogado que me ajudou na conclusão do TCC.
Mas, voltando à festa que não houve, não fico frustrado não. São os momentos que vivemos e assim tem de ser, com responsabilidade, com exemplo. Frustro-me sim ao lembrar-me de uma noite em que cansado, estava saindo para pegar o ônibus por volta das 18hs para ir à faculdade e só iria retornar para casa lá pela meia noite e vejo um jovem sentado na calçada, na flor da idade para estudar, fazer uma faculdade, perdendo este precioso tempo entretido com seu celular e sem uma expectativa de vida estudantil ou profissional pela frente. Essa é a realidade de um Brasil tão injusto, que também sofri na adolescência.
Eu, já na idade provecta, tida como de risco, tomando o ônibus para terminar uma faculdade e aquele jovem com todo o potencial para estudar e ter um futuro promissor na sua vida, ali sentado, perdido entre todas as possibilidades virtuais e ilusórias desta nova realidade que engana a todos, vendo o tempo se dissipar. Lembro o tanto que achei injusta aquela cena.
Ele sim que deveria estar tomando o ônibus para concluir seus estudos, e não eu. Mas, aí também entra o destino e a força de vontade e determinação de cada um. Como dizia minha saudosa mãe, cada um escolhe o seu caminho, mas que era injusto eu estar cursando a Faculdade de Direito e ele não, tenho plena convicção.

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