“Querido Papai Noel, traga leite bolacha de Natal para meus filhos…”

Tadeu Fernando Ligabue
Recebi esta semana uma cartinha ‘Para Papai Noel’ e resolvi checar até onde era um pedido verdadeiro de uma criança necessitada e que queria ganhar um presente ou era um daqueles golpes que já estão ficando famosos na cidade, onde pessoas se utilizam de nomes de crianças, pedem uma infinidade de brinquedos e distribuem dezenas ou até mesmo centenas de cartas por toda a cidade. Uma injustiça, pois acaba uma criança ou uma família recebendo muitos presentes enquanto outras nada recebem.
Já no início deu para reparar que não se tratava do pedido de brinquedo para uma criança, mas sim de uma mãe que através da humilde cartinha explicava a razão da mesma e do que tratava seu pedido. Disse ‘Maria’ – vou chamá-la por este nome por ser mais apropriado para estes dias de Natal, omitindo o nome e o endereço da verdadeira pessoa – que era mãe de dois filhos, sendo uma menina de três anos e um menino de dois anos, que iria completar nesse mês de dezembro.
Citou na sua missiva que o marido a havia abandonado há um ano e até hoje não ajuda com nenhum real e não paga a pensão. Que por causa da pandemia ela estava desempregada e não recebeu nenhum benefício do governo federal. Que por tudo isso estava passando por muitas dificuldades, faltando leite, fraldas. Que chorava todos os dias ao ver seus filhos lhe pedindo algo e não tendo nada para dar.
Que no momento estava morando de favor nos fundos de uma casa, dividindo com outra amiga o local e pedia o seguinte: “Querido Papai Noel, traga leite e bolacha de Natal para deixar meus filhos mais felizes” e agradecia de todo o coração e pedia a Deus que abençoasse o benfeitor que realizasse seu pedido, dando-lhe tudo em dobro. Por fim, agradecia e desejava-nos um Feliz Natal.
Com o endereço em mãos, fui até o bairro e a rua indicada, perguntei a pessoas próximas se a conheciam, se sabiam de sua história e assim que ela me viu, veio ao meu encontro juntamente com um amigo.
Juntos, fui conhecer onde morava, me mostrou seus dois filhos, mais um monte de crianças que estavam no local, todas pequenas, filhos de vizinhos e da sua amiga que divide a pequena casa dos fundos.
Confirmou tudo que escreveu na carta, disse que pegou dinheiro com alguém e fez umas trinta cópias e distribuiu em alguns bairros da cidade. No começo sentiu-se um pouco envergonhada, mas dado as dificuldades que estava passando, tomou coragem e com ajuda do amigo, deixou a cartinha em vários lares na esperança de ser atendida.
Sem dúvida que julgamos as pessoas. ‘Maria’ tem vinte e dois anos e é mãe de duas crianças pequenas de fato. Podia ter outro futuro, ter estudado e estar trabalhando ao invés de ter sido mãe ainda jovem e de o casamento não ter dado certo. Dá para ver que falta muitos recursos na sua vida e na de seus filhos.
Ter feito trinta cartinhas ‘Para Papai Noel’ não é algo para se incriminar, para se condenar. Ao invés de julgar, ter compaixão e ajudar. “O que a mão esquerda faz, a direita não precisa saber”. Praticar a caridade.
Fiquei sensibilizado e ajudei com um pouco. Disse-lhe que ia escrever a respeito, mostrei o jornal, as matérias, as publicidades, como nós vivíamos e de onde vinha nosso provento através do jornal Gazeta de Vargem Grande. O rapaz que a acompanhava já me conhecia e já tinha realizado um trabalho em casa. Na hora não o reconheci, mas depois me lembrei.
Sempre fica aquela sensação de que não devemos ajudar o próximo, que por serem jovens ainda e não terem tomado os devidos cuidados, o problema era deles e eles que teriam de resolver. Ao mesmo tempo, me questiono com os gastos que a sociedade atual nos impõem, quando dispendemos tanto em alimento com animais de estimação, por exemplo e me cobro que mundo é esse onde uma jovem mãe pede a Papai Noel “leite e bolacha” para seus filhos pequenos e eu fico a divagar se devo ou não ajudar, se é um pedido justo ou se é golpe.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário
Por favor insira seu nome aqui