A Covid-19 trouxe uma série de crises que estão se sobrepondo e desafiando a capacidade do poder público em todas as esferas de gerir e solucionar cada uma delas. Há a crise da saúde, a crise da economia e a crise social. Pacientes internados, moradores que se recuperaram, mas que enfrentam as sequelas da doença, pessoas que perderam seus empregos, autônomos que viram seca a fonte de renda, trabalhadores que morreram pelo novo coronavírus e suas famílias ficaram sem o sustento… Enfim, não há uma família que não tenha sofrido em seu dia a dia, a força destrutiva da Covid-19.
Neste momento tão crítico da pandemia, a crise de saúde está em seu estado mais arrasador. São mais de 300 mil mortos em todo país, apenas em Vargem Grande do Sul, 40 famílias já choraram a morte de uma pessoa querida, vitima da Covid-19. Nas últimas semanas, o Hospital de Caridade tem trabalhado sempre no limite com as internações em decorrência da doença e não há vagas de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na região.
De acordo com o prefeito Amarildo Duzi Moraes (PSDB), a espera para um leito desses é de 72 horas. São três dias. Quantos pacientes conseguem aguentar tanto tempo sem este suporte? Quantas pessoas poderiam ter se recuperado mais rapidamente se não tivessem que aguardar tanto tempo por uma UTI?
A vacina caminha rápido no município e 12% dos moradores de Vargem já receberam, pelo menos, a primeira dose. Mas a presença da nova variante na região, mais transmissível e mais agressiva se tornou mais um desafio à gestão pública, que tem como arma apenas a imunização e as medidas de restrições e isolamento. Não há remédios para este vírus até o momento.
A ciência já demonstrou que qualquer medicação receitada como prevenção funciona tanto quanto um placebo. E em alguns casos, pode causar reações adversas. Porém, toma quem quiser. Desde que siga usando máscara, evitando sair de casa, mantendo a distância entre as pessoas e higienizando as mãos, se quiser tomar ivermectina, dipirona, vitamina D, biotômico Fontoura, a pessoa pode tomar. Mas não se pode usar isso como desculpa ou pretexto para parar de se prevenir e mais, não deve incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo. Quer seguir o vídeo que recebeu no WhatsApp e não o que a Sociedade Brasileira de Infectologia, Instituto Nacional de Saúde, Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo dos Estados Unidos preconizam? Não há nenhum empecilho legal. Mas a pessoa deve fazer por sua conta e risco.
Se esse é o panorama atual da saúde, há ainda as suas consequências econômicas e sociais. E famílias de Vargem Grande do Sul têm sentido na pele e no vazio das despensas o impacto mais dolorido desta crise social e humanitária: a falta de recursos até para colocar um prato de comida na mesa.
Segundo a diretora de Ação Social da prefeitura, Eva Vilma da Silva Rodrigues, em reportagem publicada no último sábado, dia 27, pela Gazeta, a procura por cestas básicas na prefeitura aumentou 200%. E o poder público já informou que não conseguirá atender essa demanda sozinho. Será preciso que a comunidade vargengrandense se una em mais esta causa.
E são nesses momentos de maior dificuldade, que o lado mais bonito do ser humano se ilumina: o da solidariedade. Não precisou um grande chamamento público. Muitas pessoas já percebendo a vulnerabilidade de seus vizinhos, de amigos, colegas de trabalho e familiares, iniciaram uma mobilização enorme.
São iniciativas individuais, de associações, de grupos de amigos, de comunidades religiosas e de muitas outras redes, que organizaram arrecadação de alimentos, doação de produtos de higiene para serem revertidos a quem mais precisa. Um exemplo foi a da moradora Sônia Campos, que sugeriu à prefeitura incentivar a doação de alimentos nos pontos de vacinação contra a Covid-19. O morador que vai se vacinar, caso assim deseje, pode levar um quilo de alimento. A ideia foi adotada pela municipalidade e proporcionou a arrecadação de muitos produtos.
Assim, se chega neste final de semana à Páscoa, a data mais importante do calendário cristão, que marca a morte e a ressurreição de Jesus. O filho de Deus que entregou sua própria vida para salvar a humanidade, mostrando que o amor ao próximo deve ser incondicional.
Que todos sigam esse mandamento, o de amar ao próximo. Prevenir a propagação da doença e evitar que seus irmãos e irmãs em fé não se contaminem é exercer esse mandamento. Da mesma maneira que colaborar com um quilo de alimento e ajudar a levar comida para a mesa das famílias que precisam. Vargem sempre foi solidária e neste momento de tantas crises acontecendo de uma só vez, é preciso ser ainda mais.