Safra da batata termina e movimenta mais de R$ 400 milhões

Pedro Marão, presidente da ABVGS, falou à Gazeta

A safra da batata, que teve início em julho de 2021, praticamente chegou ao fim neste mês de outubro, segundo informou ao jornal Gazeta de Vargem Grande o presidente da Associação dos Bataticultores de Vargem Grande do Sul (ABVGS), Pedro Marão. “Ficaram apenas alguns produtores colhendo batata para indústria, tanto chips quanto pré-frita”, afirmou.
Nestes quase cem dias de colheita, a safra deve ter movimentado mais de R$ 400 milhões em Vargem e região onde ela é plantada. Para chegar a este valor, o jornal multiplicou o preço médio da saca de 50 kg, que ficou em torno de R$ 70,00, por uma produtividade estimada em seis milhões de sacas de batata.
Esse valor expressivo tem impacto importante na economia de Vargem Grande do Sul. Indagado a respeito do quanto o município é beneficiado pela cultura da batata, Pedro Marão afirmou que ela é de extrema importância para a cidade e região. “Quando o produtor tem uma rentabilidade satisfatória, ele incentiva, direta e indiretamente, o comércio da cidade. Com relação ao pessoal que trabalha na colheita, a quantidade de trabalhadores que se estabelecem no município é grande, além do pessoal que já reside na cidade. Isso incentiva de forma muito positiva o comércio local, e esse pessoal é de extrema importância para o sucesso do produtor”, avaliou o presidente da ABVGS.

Produção teve queda grande
No início da safra, a estimativa era de colher entre 750 a 800 sacas por hectare, nos 10.000 hectares plantados na região, mas a geada que ocorreu em meados de julho deste ano, contribuiu para uma queda na produção em torno de 30%, o que levou os produtores a estimarem a safra em 600 sacas por hectare, com uma produção de seis milhões de sacas.
Os produtores iniciaram a safra com o preço da saca de 25kg a R$ 20,00, o que sinalizava para uma perda muito grande. Veio a geada e os preços subiram, passando a oscilar muito, mas para melhor, segundo informou o presidente da ABVGS. “O preço oscilou muito nessa safra, conseguimos sair de um valor de R$ 20,00, saco de 25 kg, e chegarmos até em R$ 60,00 (saca de 50kg a R$ 120,00), mas durante a safra ele se manteve entre R$ 30,00 e R$ 40,00 reais o saco de 25 kg”, falou Marão.
Se a geada causou prejuízos a alguns produtores, seu efeito na valorização do preço do produto foi positivo para a grande maioria dos bataticultores, evitando que a safra 2021 fosse um desastre econômico para a categoria, caso se mantivessem os preços iniciais.
Na análise que fez para o jornal sobre o plantio deste ano, Pedro Marão afirmou que para os produtores que fazem o plantio intercalado, durante os meses de abril a julho, e ao longo de toda a safra, pode-se considerar como bom os resultados financeiros deste ano, pois a geada afetou as batatas plantadas no final do plantio, em junho e julho.
Ao ser indagado se a safra deste ano deu prejuízo para a maioria dos produtores, o presidente falou que os produtores que plantaram mais cedo e tiveram boas produções, conseguiram uma rentabilidade satisfatória. “Como cada produtor tem um custo de produção, fica difícil estimar prejuízo ou ganhos”, explicou.

Aumento exagerado dos insumos
Reportagem do portal de notícias do agronegócio AgroemDia destacou notícia sobre a alta dos insumos. “Os custos de produção da batata, neste ano, chegaram a superar 60% em alguns casos. Além do encarecimento de importantes insumos utilizados na bataticultura (como fertilizantes, máquinas e implementos agrícolas, defensivos, entre outros), as geadas ocorridas em julho também tiveram impacto sobre a cultura, reduzindo a produtividade das lavouras e exigindo uma intensificação nos tratos culturais”, informou o texto.
Apontou o portal que a edição deste mês da revista Hortifruti Brasil, publicação do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, afirmou que “das cinco estruturas de custos de produção avaliadas para a edição deste mês da revista, apenas a de grande escala de produção de Vargem Grande do Sul teve uma margem de lucro “mais folgada”. Já no sul de Minas Gerais, a alta do custo foi muito maior que o preço médio recebido pelo produtor”.
Sobre a questão dos aumentos dos insumos, Pedro Marão afirmou que de fato eles vêm ocorrendo a cada dia. “Mas como as compras tinham sido realizadas, em sua maioria, antes desses aumentos absurdos, vários produtores conseguiram fazer a safra com um custo não tão elevado”, explicou. Disse que o que mais pesou no bolso do produtor na safra de 2021, foram os aumentos dos defensivos agrícolas e os corretivos de solo, no caso o adubo.

Crise hídrica
A falta de chuvas a cada ano vem impactando o cultivo da batata na região sudeste. Sobre esta importante questão, ao avaliar qual o principal fator a prejudicar o plantio este ano e como atingiu os bataticultores filiados à ABVGS, cerca de 150, Pedro Marão explicou que os produtores vêm vindo de dois anos de déficit hídrico, que afetaram muito a região de cultivo, que se estende por vários municípios próximos a Vargem Grande do Sul. “Isso impacta diretamente nos nossos reservatórios, pois é a água que utilizamos para a safra considerada de inverno. Então, a falta de água, juntamente com as geadas, foram os fatores que mais impactaram a produção esse ano”, afirmou o presidente da ABVGS.
A questão da geada
Indagado sobre quais as lições que a geada deste ano traz aos produtores, Marão explicou que nunca o plantio da batata deve ser realizado em apenas uma determinada época do ano. “O plantio tem que ser espaçado e contínuo, pois a geada chegou a trazer mais de 60% de perda em algumas áreas”, falou. Para ele, como a geada atingiu as lavouras plantadas do meio para o final da época de plantio, o seu impacto ajunto a estes produtores foi grande, pois havia batata em todos os estágios de desenvolvimento.

Safra 2022 é uma incógnita
Com o término da safra da batata deste ano, os associados da ABVGS se dedicam principalmente ao plantio de soja e de milho. Com relação à safra de batata de 2022, o presidente Pedro Marão disse que não está muito claro o que vai acontecer. Os aumentos dos insumos devem levar os produtores a pensarem duas vezes antes de tomarem suas decisões. “A safra de 2022 é uma incógnita, pois com o grande aumento do custo de produção para o próximo ano, a rentabilidade pode ficar muito comprometida”, afirmou Marão.
Finalizando sua entrevista disse: “Esse ano, já tínhamos um problema de falta de água para o desenvolvimento da cultura, já estava difícil de tratar da batata com tudo que ela necessita para sua plena produção, aí vem a geada, que é uma adversidade climática que não temos condições de fazer absolutamente nada, apesar de tentarmos minimizar o seu efeito, o impacto sobre a cultura é muito grande e não conseguimos estimar, pois com o congelamento da planta, ela simplesmente para de se desenvolver, e dependendo do estágio que ela foi atingida, a perda pode ser total. Então a nossa produção agrícola tem que ser mais valorizada, pois no mesmo dia que tudo está ótimo, uma adversidade climática pode colocar tudo a perder”, disse.

Condomínio pretende diminuir contratação de imigrantes

Lenoir comentou sobre o trabalho durante a safra. Foto: Gazeta

A reportagem da Gazeta ouviu também o administrador do Condomínio dos Bataticultores, Lenoir dos Santos e este afirmou que foi um ano tranquilo, apesar da fiscalização que houve por parte do Ministério Público do Trabalho, da Fiscalização do Trabalho, que com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, estiveram em Vargem Grande do Sul no dia 23 de agosto, realizando diligências em empresas e lavouras da cadeia produtiva da batata.
“O tipo de fiscalização que recebemos foi muito agressiva, impactante, mas conseguimos reverter a situação através do diálogo. Houve uma boa conversa com os fiscais que tinham informações que não correspondiam à realidade do trabalho realizado pelos trabalhadores imigrantes que vêm do Nordeste trabalhar há mais de décadas nas safras de batata de Vargem e região”, afirmou.
Lenoir disse que foram constatadas algumas irregularidades e que as solicitações feitas e adequações requisitadas foram ou estão sendo atendidas pelo Condomínio. Ele falou que o que mais chocou foi a presença de policiais armados, mas, conforme reportagem realizada pela Gazeta de Vargem Grande na época, a presença de agentes fortemente armados neste tipo de ação de fiscalização é necessária, pois não são em todos os locais de fiscalização que as equipes da Procuradoria do Trabalho são recebidas de maneira tranquila, como a que ocorreu em Vargem.
Centenas de trabalhadores nordestinos já deixaram Vargem com o final da safra e para o ano que vem, segundo Lenoir, o Condomínio está pensando em contratar o mínimo possível de trabalhadores imigrantes, até que toda a situação envolvendo estes trabalhadores e os produtores de batata evolua para que não se repita as ações envolvendo a Fiscalização do Trabalho.
Ele explicou que o Condomínio não traz mão de obra de fora. “Há décadas estes trabalhadores deixam seus estados e vem trabalhar nas lavouras do sul e do sudeste. Onde moram não tem trabalho suficiente e estes trabalhadores procuram a nossa região na época da safra da batata. Depois, voltam para suas casas e vão para outros estados a procura de serviço, como nas safras de café de Minas, ou outras lavouras do Paraná. Onde tiver serviço, eles vão”, citou.
Para a safra do ano que vem, se estes imigrantes voltarem, no entender do administrador do Condomínio dos Bataticultores, todas as adequações deverão ser feitas conforme a legislação determina, para poder empregá-los. Mas, como explicou, há uma forte tendência entre os responsáveis pelo Condomínio em contratar menos imigrantes e buscar a mão de obra necessária junto aos trabalhadores locais.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário
Por favor insira seu nome aqui