A ascensão da negritude

Gabi Lourenço
Não, o racismo não acabará como em um passe de mágica, e assim como ainda vemos pessoas antiquadas, pessoas mal-educadas e com demais adjetivos depreciativos, as pessoas racistas continuarão orientando seus filhos para que nutram tal sentimento e continuem tentando atrasar uma evolução natural. Em conversa com minha mãe, uma vez ela me contou que há 40 anos havia uma separação nítida entre brancos e pretos aqui em nossa cidade, tanto que naquela época era muito difícil presenciar uma miscigenação entre as raças como acontece na atualidade. E tanto é verdade que vivenciamos novos tempos, que recentemente em uma conversa com um amigo de mais idade, nascido e criado em São João da Boa Vista, ele me contou que, em um passado não tão distante, um famoso clube social da cidade não aceitava que negros fizessem parte do seu quadro societário, e na ficha de interesse que deveria ser preenchida, havia um campo onde era questionada a cor ou raça da pessoa, e através dessa informação era feita as primeiras triagens de quem deveria ser aceito ou não como sócio do clube. O engraçado é que há alguns anos aluguei a sede social desse clube algumas vezes para eventos corporativos, e nas ocasiões, os dados bancários da empresa valiam mais do que o meu tom de pele, ou seja, vivenciamos novos tempos.
Mas não posso deixar de mencionar que vivemos em uma luta constante para que o racismo diminua cada vez mais e para que vivamos em um mundo etnicamente igualitário, porém, essa luta não pode se tornar política, sobretudo porque é dever de todos, principalmente dos cidadãos de bem e independente de ideologia política ou classe social, lutarmos contra o racismo ou qualquer tipo de discriminação que ocorra e que prejudique pessoas, sobretudo em relação ao trabalho, que é a base para a dignidade de todos nós.
E por falar especificamente sobre o trabalho, uma vez estava participando de um grupo e falei sobre uma ideia que levo comigo e que não foi bem aceita na ocasião: eu disse a eles que a ascensão da negritude não pode ser terceirizada aos brancos, e que sim, nós podemos ir além se fizermos mais por nós mesmos ao invés de ficarmos lamentando e esperando que a politicagem vai mudar alguma coisa nesse sentido em nosso país. Hoje não é difícil encontrarmos grandes empresários negros, pessoas que empregam centenas de pessoas e contribuem para fazer girar a economia do país, ou seja, se existe exemplares de pessoas negras que conseguiram mudar as estatísticas apesar de todas as adversidades, é porque é possível.
Então, neste dia em que é comemorado o dia da consciência negra, eu gostaria de propor para que não seja um dia de lamentações por tudo o que ocorreu desde a escravidão, mas para que seja o dia de pensarmos em como mudaremos o que ainda precisa ser mudado, ou como faremos a diferença e deixaremos o nosso legado por aqui. A escravidão foi algo terrível e muito cruel, mas fez de nós descendentes de um povo forte, e é essa força que nos leva para onde quisermos desbravar e alcançar. O que você quer ser? Com o que deseja trabalhar? O que você pode fazer para alcançar o que deseja com as condições disponíveis hoje? Quem está te impedindo de ir em busca do que deseja? Já batalhou muito e está com dificuldades de conseguir um novo emprego? Nesse caso você tem dois caminhos: lamentar ou criar o seu próprio trabalho. Ele pode ser do tamanho das suas possibilidades e poderá resultar em uma grande empresa. Lembre-se, somos descendentes de um povo forte e batalhador, e hoje, ninguém pode nos impedir de nada, a não ser os vestígios imaginários das correntes que um dia já foram realidade em nosso povo. Busque sempre o topo, é lá que vamos nos encontrar. Sucesso!

Gabi Lourenço é especialista em Liderança e Gestão de Pessoas

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