A escravidão em Vargem Grande do Sul

Registro em Cartório com dados sobre compra, venda, troca e até libertação de escravos. Foto: Reportagem

Tadeu Fernando Ligabue
Fazer o levantamento histórico da escravidão em Vargem Grande do Sul exige tempo e rigor de pesquisa. Embora muitas pessoas acreditem que ela de fato existiu no município, prová-la através de documentos é muito difícil, pois quase nada mais existe de registro histórico. Para esta reportagem, foi feita uma rápida pesquisa nos cartórios da cidade e nada conseguimos, uma vez que no Cartório de Notas e Protestos de Vargem Grande do Sul, o mais antigo da cidade, localizado na Rua do Comércio, seu primeiro livro de anotações data de 1891 e a Abolição da Escravatura no Brasil deu-se em 13 de maio de 1888.
Assim, em companhia do advogado e escritor Douglas Nonis, que durante muitos anos trabalhou no Cartório de Notas e Protestos, nos dirigimos na manhã de quinta-feira, dia 18, à São João da Boa Vista e conseguimos colher algumas informações junto ao 1º Cartório – Tabelionato Ceschin, cujo delegatário titular, Orlando Ceschin Filho nos recebeu muito bem e nos colocou à disposição os livros da época.
Embora Vargem tenha sido criada quando ocorreu a partilha da fazenda que deu origem ao novo município, no dia 26 de setembro de 1874, a sua emancipação política só viria a ocorrer em 24 de fevereiro de 1922. Até então, era uma vila pertencente ao município de São João da Boa Vista. Neste sentido, a maioria dos atos de compra e venda de propriedades do final do século XIX, consta dos arquivos cartoriais de São João.
Numa pesquisa muito rápida, conseguimos identificar algumas notas sobre a escravidão que remete a Vargem Grande do Sul. Duas escrituras nos chamou a atenção e envolvia cartas de liberdade dos descendentes dos fundadores de Vargem, José Garcia Leal e Joaquim Garcia Leal. No ano de 1840, José Garcia Leal passa uma escritura pública de carta de liberdade a sua escrava de nome Albertina. Já Joaquim Garcia Leal, no ano de 1854, faz publicar uma carta de liberdade ao escravo de nome Lucio.
Outra importante contribuição foi dada pelo sr. Guilherme Rehder Filho, que nos foi apresentado pelo sr. Ceschin. Guilherme tem parentesco com os descendentes da família do ten. João Thomaz de Andrade, fundador das fazendas Fartura e São Bento, grandes produtoras de café na segunda metade do sec. XIX e localizadas em Vargem Grande do Sul.
Pesquisador da história de sua família, ele também garimpou nos cartórios de São João da Boa Vista e conseguiu algumas preciosidades como a escritura pública de venda e compra de escravos feitas pelo então proprietário do que viria a ser a Fazenda São Bento, Tenente João Thomas de Andrade.
Transcorria o ano de 1876, apenas dois anos depois da fundação de Vargem Grande do Sul e na ocasião o tenente adquiriu de João José Cabral de Vasconcellos, os escravos a saber: “Matheus criolo de idade vinte e oito annos, casado, natural de Caldas, filho de Miguel e Francisca, rosseiro, e sua mulher Helena criola de idade trinta annos, natural de Caldas, filha de Jose, e Maria, cosinheira, e seus filhos Gertrudes de idade oito annos, e Felipe de idade seis annos, que os possue livres e desembargados, cujos escravos forão matriculados na Cidade de Caldas, e averbados na Collectoria desta Villa a vinte e dous de Setembro de 1874 sob numeros, o primeiro na ordem da matricula _ 2479, e hum da relação _ a segunda sob numeros 2480, e 2 da relação _ a terceira sob numero 2485, e 7 da relação, e o quarto sob numero 2487, e 9 da relação, conforme a matricula de averbação que me foi presente; que destes quatro escravos assim declarados delles fasia venda ao comprador Tenente João Thomas de Andrade pela quantia de quatro contos e quinhentos mil reis, que ao faser desta recebeo em moeda corrente, de que lhe dava quitação. E por esta forma transfere ao comprador todo o dominio jus, senhorio e acção que nos ditos quatro escravos tinha, para que os possa possuir, vender, e em fim faser tudo quanto lhe parecer, como seus que ficão sendo de hoje para sempre, por ser esta venda a seu contento”.
Outra escritura interessante desta época, trata da barganha de escravos que fizeram o tenente João Thomas de Andrade e Candido de Souza Dias. Este último também deve ter muitas ligações com Vargem, uma vez que uma das ruas da Vila Polar leva o nome de Rua João Cândido de Souza Dias, provavelmente um parente seu.
Na escritura consta que o tenente é possuidor de um escravo de nome Marcolino, cor fula, idade 28 anos mais ou menos, natural do Rio de Janeiro, bom lavrador, com matrículo na Coletoria de São João, em 23 de setembro de 1872 e o outro escravo a ser trocado por ele, era Misael, criolo, cor fula, 45 anos, casado com Balbina, retireiro, também matriculado, pertencentes às filhas de Cândido de Souza Dias.
Prossegue a escritura dizendo: “E por que, sendo Misael casado com huma escrava do outorgante (Tenente João Thomas de Andrade), e não podendo ser separado de seu consorcio, de commum acordo com o dito outorgado seu genro, barganharão a parte que este tinha no escravo Misael, dando o outorgante por ella o escravo Marcolino, que o outorgado logo o recebeo, e fes casar com huma sua escrava á mais de cinco annos, tendo-o em seu poder desde esse tempo, por seu, assim como o outorgante por sua aparte no escravo Marcolino digo Misael: que os escravos Misael, e Marcolino se achão a tempos defeituosos, aquelle está defeituoso de hum pé, e este com cravos de babas incuraveis, e por isso desapreciados em seus valores; ficando o outorgante com a parte que o outorgado tinha em o escravo Misael pelo escravo Marcolino; bem como á tódo o tempo a parte que a finada filha do outorgante tinha em Misael, conteria a mesma no dito escravo, dos quais escravos se achão a muito empossados desta tróca, faltando sómente passarem a presente escriptura”.

Padre dono de escravos
Outra preciosidade histórica que nos apresentou Guilherme Rehder Filho, foi a venda de uma escrava que era de propriedade do padre José Valeriano de Souza. Como relata a história, os padres pertenciam à mais alta camada social num Brasil baseado no trabalho escravo. Era comum, portanto, que os padres fossem donos de escravos, inclusive utilizando-os nos trabalhos domésticos.
Padre Valeriano teve importante passagem na criação do município de Vargem. Segundo descreve o livro História da Câmara Municipal, da bibliotecária e documentarista Maria José Pereira Miranda, “ O processo de divisão e doação de terras foi concluído em 26 de setembro de 1874, data marcada com a celebração de uma missa às margens do Córrego Sant’Ana, em casa de João Carneiro, conhecido como João Boiadeiro. O celebrante, padre José Valeriano, de São João da Boa Vista, teve seu nome dado à rua onde foi rezada a primeira missa de Vargem Grande”.
Conforme relata a escritura que consta do Cartório de São João, em 19 de novembro de 1866, “nesta Villa de Sam João da Boa Vista, em casas de morada do Vigario Jose Valeriano de Souza, onde a chamado fui vindo eu Tabelliam aodiante nomeado, e assignado, ahy presente o mesmo Vigario Jose Valeriano de Souza como vendedor, e como compradores o Tenente Joaõ Thomas de Andrade, e Antonio Fernandes Maciel, aquelle morador nesta Villa, e estes no Municipio da mesma; e pelo vendedor me foi dito em presença de duas testemunhas aodiantes nomeadas, me foi dito que hera Senhor, e legitimo possuidor de huma escrava parda de nome Theresa de idade vinte, e seis annos, casada, natural da Parahyba do Norte, que a houve por compra a Pedro Jose de Carvalho, cuja escrava assim declarada, disse o vendedor, que nesta data fasia della venda aos compradores o Tenente João Thomas de Andrade, e Antonio Fernandes Maciel pelo preço de hum conto de reis, que recebeo ao faser desta, de que lhe dava plena quitação. E por esta forma transferia aos mesmos compradores todo o dominio, jus, Senhorio, e acção que na dita escrava tinha para que a possão possuirem venderem, e finalmente faserem tudo quanto lhes parecerem, como sua que hé, e fica sendo de hoje para sempre, e desde já os dá por impossados no referido dominio, obrigado apenas alhes faser esta venda mança, e de por quando a ella duvida se mova. E pelos compradores, foi dito que asseitavam a presente outorga por ser coherente seus contratos. E pelos mesmos me foi presente o conhecimento da meia Siza de escravos sob numero 14 em que pagárão nesta Agencia da Collectoria os trinta mil reis da meia Siza de escravo pela compra da escrava Theresa, assim como o Sello de hum mil reis sob numero primeiro, tudo nesta data, e agencia. E de como assim o disseram, e outorgárão, faço esta escriptura, que sendo-lhes lida, assignão com seus punhos, em testemunhas digo em presença de testemunhas abaixo assignadas. Eu Francisco Pereira Machado Tabelliam que aescrevy, e assigno em publico, e raso”.
A mesma escrava Theresa, alguns meses depois, em janeiro de 1867, foi através de escritura publica, doada com condicionantes a Leopoldina Cicilia Marques de Araujo e a seu filho Aristides, como está averbado na escritura: “Em quanto viva for Leopoldina Cicilia Marques de Araujo, suas Comadres, ficará esta com o uzo, e fructo de gosar do servisso da escrava Theresa durante sua vida, e por morte della ficará a escrava, e suas produçoens que tiver ao filho dadella digo que tiver, pertencendo ao filho desta doada, de nome Aristides, que então a poderá possuir por toda a sua vida, sem que da escrava possão dispor por maneira alguma, e as suas produçoens; por ser esta doação de suas livres vontades, e caber na orbita que a Ley lhes confere fasel-as; ficando a dita doada, e seu filho com o direito de asseitarem esta doação, visto que se acha ausente, aquella por si, e por seu filho Aristides; mesmo porque se acha a escrava no poder della já…”.

Café impulsionou o desenvolvimento da região
O grande impulso no desenvolvimento do Estado de São Paulo foi a produção e comercialização de café. Com esta atividade, o estado acumulou capital para dar o grande salto na sua industrialização. No século XIX e XX, o Brasil tornou-se o maior produtor de café do mundo.
Em Vargem não foi diferente. No livro “Antigas Fazendas de Café” do município, produzida em 2006 pela coordenadoria de Cultura de Vargem Grande do Sul, cuja coordenadora era a professora Márcia Ribeiro Iared, constam cerca de trinta fazendas envolvidas com a plantação e comercialização do “ouro negro”.
O café chegou à região de Campinas em 1815, início do sec. XIX e logo também começa a ser plantado nas terras pertencentes à São João da Boa Vista, inclusive onde viria a ser mais tarde Vargem Grande do Sul. Como cita Zezé Miranda no livro da Câmara, “Vargem Grande privilegiou-se de sua localização nos dois grandes polos produtores de café no século XIX, o Oeste Velho, da região de Campinas, e o Oeste Novo, da terra roxa ao norte de Casa Branca. No início do século XX, já se plantava em Vargem um milhão de pés de café, com uma produção anual acima de 1.000 toneladas”.
O café gerou muita riqueza em Vargem Grande do Sul, que também teve seus “barões do café”, que defendiam o regime de produção latifundiário-escravista. Segundo relato do professor universitário Hélio Santos, mestre em Finanças e doutor em Administração pela Faculdade e Economia da USP, “Nos últimos anos da escravidão, a população negra trabalhava em semanas inteiras, sem sábados e domingos, chegando a 16 horas por dia, no Vale do Paraíba. Os barões do café faziam isto porque sabiam que a escravidão estava com os anos contados, por isso maximizavam a produção, às custas do árduo trabalho escravo. Quando os imigrantes aqui chegaram, principalmente os italianos, já encontraram tudo consolidado”.
Todos os imigrantes que começaram a chegar ao País em meados do século XIX contribuíram para o crescimento de São Paulo, “mas os negros foram os que colaboraram durante mais tempo, sem nada receber. E os italianos, quando os substituem nas lavouras, passam a ser assalariados”, ressalta o professor.
Certamente o que levou os grandes proprietários das fazendas citadas no livro “Antigas Fazendas de Café” de Vargem Grande do Sul a dar o salto econômico, foi sem dúvida a força do trabalho escravo. Com o ganho acumulado nos tempos áureos do café e sem pagar os trabalhadores negros, escravizados, os fazendeiros da época puderam constituir novas fazendas e se prepararam para a chegada da mão de obra imigrante, paga.
Como cita o referido livro em várias passagens, em muitas fazendas haviam centenas de colonos imigrantes que nelas moravam e trabalhavam na colheita do café. Não se sabe quantas centenas de negros escravizados trabalharam nas fazendas de café que existiram em Vargem.
Praticamente nada restou das senzalas construídas e dos objetos que eram utilizados para prender e castigar os escravos negros. Neste sentido, o livro não faz nenhuma referência à mão de obra escrava, a não ser quando trata da Fazenda São Sebastião, do início do sec. XIX, onde se lê: “uma das notícias mais antigas desta propriedade é que havia um muro de pedras que circundava toda a fazenda, trabalho feito pelos escravos”.
Nenhuma outra referência à escravidão é feita em todo o livro. É como se somente os proprietários das fazendas tivessem nela trabalhado e depois os colonos imigrantes, apagando completamente o trabalho escravo nelas realizadas. Certo é que muitas destas fazendas foram construídas após a libertação dos escravos em 1888, mas o capital acumulado pelos seus donos certamente veio da mão de obra escrava.

Consciência Negra
Esta matéria tem por finalidade levar ao conhecimento dos leitores da Gazeta, um pouco da história do município com relação à comemoração do Dia da Consciência Negra, celebrado neste sábado, 20. A data também faz referência à morte do negro Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco. Ele foi morto em 1695, por bandeirantes liderados pelo bandeirantes Domingos Jorge Velho. Zumbi se tornou o símbolo da resistência à escravidão no Brasil.
A reportagem, fala da grande dívida do Estado Brasileiro para com os negros, libertos no dia 13 de maio de 1888 da horrenda escravidão, sem nenhum amparo do Estado, sem nomes devidamente registrados, sem saber escrever, sem ter na sua maioria um lar, um trabalho, ficando a maioria a vagar pela imensidão do Brasil.
A abolição no Brasil, elogiável pela libertação destes seres humanos do regime escravo, não veio com medidas complementares como reforma agrária, mercado de trabalho, acesso à saúde, educação. Sem este aparato, tornou-se uma tragédia, com preconceitos e injustiças, uma chaga que persegue o Brasil até os tempos atuais, com um país branco e rico de um lado e um pobre e negro do outro.
Quando algumas atitudes do Estado são assertivas, como as cotas raciais para estudantes negros, pardos e indígenas nas universidades públicas, o lado rico e branco torce o nariz, prática de um racismo estrutural que impede o Brasil de se tornar uma nação mais igualitária para todos os brasileiros, negros inclusive.

Documentos históricos sobre a escravidão, transcritos do 1º Cartório de São João da Boa Vista

Escriptura de venda, e compra que fasem como vendedor o Vigario José Valeriano de Souza, e como compradores o Tenente João Thomas de Andrade, e Antonio Maciel digo Antonio Fernandes Maciel, como abaixo se declara.

Saibam quantos este publico instrumento de escriptura de venda, e compra virem, que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos, e sessenta e seis, aos desenove dias do mes de novembro do dito anno, nesta Villa de Sam João da Boa Vista, em casas de morada do Vigario Jose Valeriano de Souza, onde a chamado fui vindo eu Tabelliam aodiante nomeado, e assignado, ahy presente o mesmo Vigario Jose Valeriano de Souza como vendedor, e como compradores o Tenente Joaõ Thomas de Andrade, e Antonio Fernandes Maciel, aquelle morador nesta Villa, e estes no Municipio da mesma; e pelo vendedor me foi dito em presença de duas testemunhas aodiantes nomeadas, me foi dito que hera Senhor, e legitimo possuidor de huma escrava parda de nome Theresa de idade vinte, e seis annos, casada, natural da Parahyba do Norte, que a houve por compra a Pedro Jose de Carvalho, cuja escrava assim declarada, disse o vendedor, que nesta data fasia della venda aos compradores o Tenente João Thomas de Andrade, e Antonio Fernandes Maciel pelo preço de hum conto de reis, que recebeo ao faser desta, de que lhe dava plena quitação. E por esta forma transferia aos mesmos compradores todo o dominio, jus, Senhorio, e acção que na dita escrava tinha para que a possão possuirem venderem, e finalmente faserem tudo quanto lhes parecerem, como sua que hé, e fica sendo de hoje para sempre, e desde já os dá por impossados no referido dominio, obrigado apenas alhes faser esta venda mança, e de por quando a ella duvida se mova. E pelos compradores, foi dito que asseitavam a presente outorga por ser coherente seus contratos. E pelos mesmos me foi presente o conhecimento da meia Siza de escravos sob numero 14 em que pagárão nesta Agencia da Collectoria os trinta mil reis da meia Siza de escravo pela compra da escrava Theresa, assim como o Sello de hum mil reis sob numero primeiro, tudo nesta data, e agencia. E de como assim o disseram, e outorgárão, faço esta escriptura, que sendo-lhes lida, assignão com seus punhos, em testemunhas digo em presença de testemunhas abaixo assignadas. Eu Francisco Pereira Machado Tabelliam que aescrevy, e assigno em publico, e raso.

Em ttº – – de Verdade

Francisco Pereira Machado

Pr Joze Valeriano de Souza

João Thomas de Andrade

Antonio Fernandes Maciel

Thomáz de Aquino Junior

Ilegível Ilegível Ilegível

Escriptura publica de venda e compra que fasem como vendedor João José Cabral de Vasconcellos, e como comprador o Tenente João Thomas de Andrade.

Saibam quantos este publico instrumento de escriptura publica de venda e compra virem, que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos e setenta e seis, aos cinco dias do mes de Agosto de mil oito centos e setenta digo de agosto, nesta Villa de São João da Boa Vista, em meu cartorio comparecerão como outorgante João Jose Cabral de Vasconcellos, e como outorgado o Tenente João Thomas de Andrade, moradores neste Termo, que os reconheço pelos proprios de que dou fé. E por elle outorgante me foi dito em presença de duas testemunhas abaixo assignadas, que he senhor e legitimo possuidor de quatro escravos, a saber Matheus criolo de idade vinte e oito annos, casado, natural de Caldas, filho de Miguel e Francisca, rosseiro, e sua mulher Helena criola de idade trinta annos, natural de Caldas, filha de Jose, e Maria, cosinheira, e seus filhos Gertrudes de idade oito annos, e Felipe de idade seis annos, que os possue livres e desembargados, cujos escravos forão matriculados na Cidade de Caldas, e averbados na Collectoria desta Villa a vinte e dous de Setembro de 1874 sob numeros, o primeiro na ordem da matricula _ 2479, e hum da relação _ a segunda sob numeros 2480, e 2 da relação _ a terceira sob numero 2485, e 7 da relação, e o quarto sob numero 2487, e 9 da relação, conforme a matricula de averbação que me foi presente; que destes quatro escravos assim declarados delles fasia venda ao comprador Tenente João Thomas de Andrade pela quantia de quatro contos e quinhentos mil reis, que ao faser desta recebeo em moeda corrente, de que lhe dava quitação. E por esta forma transfere ao comprador todo o dominio jus, senhorio e acção que nos ditos quatro escravos tinha, para que os possa possuir, vender, e em fim faser tudo quanto lhe parecer, como seus que ficão sendo de hoje para sempre, por ser esta venda a seu contento, obrigado apenas a lhe faser ella mança e de por quando a ella duvida se môva. E pelo comprador me foi presente o tallão de meia siza de escravos sob numero quatro em que pagou na Collectoria desta Villa a quantia de cento e vinte mil reis das meias sizas dos escravos Matheus criolo, casado com Helena criola, e seus filhos Gerturdes e Felipe que comprou ao outorgante Vasconcellos; bem assim cinco mil reis de sello proporcional á compra, sob numero tres, tudo em data do primeiro de Agosto corrente, e na mesma Collectoria. E pelo comprador foi dito que aceitava a outorga retro e supra por ser coherente seu contracto. Assim o disserão e outorgárão, lavro esta que sendo-lhes lida, e achada a contento, assignão com seus punhos e com as testemunhas abaixo assignadas, todos deste Termo, de que dou fé – Eu Francisco Pereira Machado Tabellião aescrevy e assigno em publico e raso.

Em TT – – de Verdade

Francisco Pereira Machado

João José Cabral de Vasconcellos

João Thomas de Andrade

Emerenciano Vilella Junqueira

Candido de Souza Dias

Dei o traslado 1º em 25 de ilegível 77 Maxº

Escriptura publica de doação condicional que fasem o Tenente João Thomas de Andrade, e Dona Maria Candida da Silva, e Antonio Maciel de Barros digo Antonio Fernandes Maciel, e sua mulher Dona Francisca Paulina da Silva, a Leopoldina Cicilia Marques de Araujo, e a seu filho Aristides, como abaixo se declara.

Saibam quantos este publico instrumento de escriptura publica de doaçam condicional virem, que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos, e sessenta, e sette, aos vinte e hum dias do mes de Janeiro do dito anno, nesta Villa de Sam João da Boa Vista, em casas de morada do Tenente João Thomas de Andrade, nesta Villa, onde eu Tabelliam a chamado fui vindo, e sendo ahy estavam presentes como doadores o Tenente João Thomas de Andrade, e sua mulher Dona Maria Candida da Silva, e Antonio Fernandes Maciel, e sua mulher Dona Francisca Paulina da Silva, todos desta Villa, e reconhecidos pelos proprios de que tracto, e dou fé; e pelos ditos doadores foi dito em presença de duas testemunhas aodiantes nomeadas; e assignadas, que herão senhores, e legitimos possuidores com livre, e geral administração de huma escrava parda de nome Theresa de idade, vinte cinco, á trinta annos, casada, que a houverão por compra ao Vigario Jose Valeriano de Sousa, de cuja escrava assim referida, disserão elles outorgantes, que della fasiam doação condicional pela forma seguinte. Em quanto viva for Leopoldina Cicilia Marques de Araujo, suas Comadres, ficará esta com o uzo, e fructo de gosar do servisso da escrava Theresa durante sua vida, e por morte della ficará a escrava, e suas produçoens que tiver ao filho dadella digo que tiver, pertencendo ao filho desta doada, de nome Aristides, que então a poderá possuir por toda a sua vida, sem que da escrava possão dispor por maneira alguma, e as suas produçoens; por ser esta doação de suas livres vontades, e caber na orbita que a Ley lhes confere fasel-as; ficando a dita doada, e seu filho com o direito de asseitarem esta doação, visto que se acha ausente, aquella por si, e por seu filho Aristides; mesmo porque se acha a escrava no poder della já. E pelos doadores, foi-me apresentado a guia de sello seguinte – Vão o Tenente João Thomas de Andrade, e sua mulher, e Antonio Fe rnandes Maciel, e sua mulher, pagarem o Sello proporcional de hum conto de reis, pelo qual preço fasem doação da escrava parda de nome Teresa a Leopoldina Cicilia Marques de Araujo, condicionalmente, como se vae declarar na escriptura. Sam João vinte e hum de Janeiro de mil oito centos, e sessenta, e sette. O Escrivam Machado. Numero hum – hum mil reis. Sam João vinte e hum de Janeiro de mil oito centos, e sessenta, e sette. O Agente Andrade. Nada mais se continha no dito tallão. E de como assim o disserão, e outorgarão, faço esta escriptura, que sendo-lhes lida, e achada a contento assignão na forma abaixo, perante as testemunhas tam bem abaixo assignadas. Eu Francisco Pereira Machado Tabelliam que aescrevy, e assigno em publico, e raso.

Em TT – – de Verdade

Francisco Pereira Machado

João Thomas de Andrade

Maria Candida da Silva

Antonio Fernandes Maciel

Asino a Rogo de D. Francisca Paulina da Silva

Ttª Custodio Jozé Barbosa Sandeville
Tª Joaqm Jose dos Reis

Escriptura de venda e compra que fasem como vendedora Dona Prudenciana Umbelina de Azevedo e Paiva por seu bastante procurador Francisco Machado Barbosa, e como comprador o Tenente João Thomas de Andrade.

Saibam quantos este instrumento de venda e compra virem, que no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos e setenta e oito, aos des dias do mes de abril do dito anno, nesta Villa de Sam João da Boa Vista em meu cartorio comparecerão como vendedora Dona Prudenciana Umbelina de Azevedo e Paiva representada por seu procurador e filho Francisco Machado Barbosa, aquella hoje moradôra em Santa Anna do Sapucahy, e este no Districto do Pinhal, e como comprador o Tenente João Thomas de Andrade morador neste Termo que os reconheço pelos proprios de que dou fé. E pelo procurador bastante da vendedora me foi dito em presença de duas testemunhas adiante nomeadas e assignadas, que pelos poderes da procuração transcripta na escriptura retro, e da licença tão bem transcripta na mesma, que fica fasendo parte desta escriptura, que sua Mae e constituinte he Senhora e possuidôra dos escravos de nomes Candida de idade vinte e nove annos, cor preta solteira matriculada no dia 31 de Agosto de 1872 nesta Collectoria com os mumeros 139, e 26 da relação _ Cressencio filho da mesma Candida idade nove annos, matriculado na mesma data sob os numeros 141, e 28 da relação _ Paula cor preta filha de Candida, idade des annos matriculada na mesma data com o numero 140, e 27 da relação _ e Belisario criolo de cor preta, idade vinte e tres annos solteiro, matriculado na mesma data com o numero 120, e 7 da relação; os quaes escravos tócarão a sua Mae e Constituinte na terça deixada por seu finado marido Capitão Jose Maria Barbosa como consta do inventario respectivo, e que delles tem o uzo e fructo durante sua vida, que alcansou licença para venda delles como consta da licença na escriptura retro; que dos escravos assima ditos delles fas venda ao comprador Tenente João Thomas de Andrade pela quantia de cinco contos e dusentos mil reis _ que ao faser desta recebeo em moeda corrente de que lhe dava quitação. E por esta forma transferia por sua Constituinte Mae todo o dominio jus Senhorio e acção que em ditos escravos tinha, para que os póssa possuir, vender e faser o que lhe parecer como seus que ficão sendo de hoje para sempre, por ser esta venda a contento de sua constituinte, que fica obrigada a lhe faser ella mansa e de por quando a ella duvida se mova. E pelo comprador me foi presente o talão de meia Siza de escravos sob numero 45 em que pagou na agencia da Collectoria desta Villa a quantia de cento e cessenta mil reis pelas meias Sizas dos escravos Candida e seus filhos Crecencio, Paula, e Belisario criolo comprados a outorgante vendedora, em data de hoje, bem como o sello de seis mil reis proporcional sob huma estampilha de igual valor, inutilisada nesta data por mim tão bem nesta data. Em tempo disse mais o procurador da vendedôra, que junto a escrava Candida acompanha Luisa filha da mesma que seu finado Pae a alforriou na pia. E pelo comprador foi dito que acceitava a outorga retro e supra por ser coherente seu contracto. Assim o disserão e outorgárão lavro esta que lida e achada conforme, acceitávão e assignão com as testemunhas abaixo assignadas de que dou fé. Eu Francisco Pereira Machado Tabellião aescrevi e assigno em publico e raso.

Em ttº – – de Verdade

Francisco Pereira Machado

Francisco Machado Barboza

João Thomas de Andrade

Joze Affonço de Oliveira

Joze Nogrª de Andrade

o 1º em 29 de abril 1878 Maxº

Fotos das escrituras originais falando sobre as transações envolvendo escravos, duas delas com membros da Família Garcia Leal

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário
Por favor insira seu nome aqui