Personalidades negras recebem homenagem

Foram 12 personalidades homenageadas nesta primeira edição do troféu Turíbio dos Santos

Com a presença dos homenageados, familiares, autoridades e convidados aconteceu na noite de sexta-feira, dia 19 de novembro, véspera do Dia da Consciência Negra, no auditório da Casa da Cultura, a entrega do troféu “Turíbio dos Santos” às personalidades negras do município que se destacaram nos seus trabalhos e ações, contribuindo para o desenvolvimento de Vargem Grande do Sul.
O evento foi realizado pelo Departamento Municipal de Cultura e Turismo e o Conselho de Cultura de Vargem Grande do Sul, sendo o troféu entregue a 11 pessoas, uma das primeiras ações públicas ocorridas na cidade em que se buscou resgatar e valorizar a importância do negro na sociedade vargengrandense.
Turíbio dos Santos foi o primeiro negro a ser eleito para a Câmara Municipal de Vargem Grande do Sul, na década de 1950, onde exerceu quatro mandatos. Turíbio sempre foi muito atuante nas questões sociais da cidade e se destacou em uma época que o preconceito era maior que nos tempos atuais, o que demonstra sua liderança e só engrandece àqueles que foram homenageados com o seu nome.
A cerimônia foi conduzida pela diretora de Cultura, Márcia Iared e dentre as autoridades presentes estavam o prefeito Amarildo Duzi Moraes (PSDB), o ex-vereador Wilsinho Fermoselli – autor da lei que criou em Vargem, a Semana da Consciência Negra – os vereadores Maicon Canato (Republicanos), Paulinho da Prefeitura (PSB) e a ex-delegada Anna Valéria Annunziata Gabricho.
Dona Márcia lembrou de Zumbi dos Palmares, líder negro cuja morte aconteceu no dia 20 de novembro de 1625, falou aos presentes que não se devia continuar com o pensamento de que o preconceito não existe na sociedade brasileira e da injustiça com a raça negra, que a partir da Abolição, não se criou estruturas no Brasil para dar a devida acolhida aos negros libertados.
Também a diretora falou dos avanços contra o preconceito, das leis aprovadas contra a discriminação racial, com punições severas contra o racismo e dos movimentos em favor dos negros, que estão tendo bons resultados. “Esperamos que um dia não seja mais assim, que acabe este preconceito estruturado, onde não vemos tantos negros em cargos como juízes, em cargos de chefia. Não podemos continuar calados e é pela educação que vamos desconstruir estas marcas”, afirmou Márcia.
Citou que as crianças nas escolas precisam saber dos exemplos de lideranças negras, como o engenheiro Rebouças, líder abolicionista, da líder negra Dandara, que lutou junto ao Quilombo dos Palmares. “À professora não basta falar que o menino negro é uma criança igual a você, não basta teoria, se não tiver atitude”, afirmou a diretora de Cultura.

Prefeito pediu perdão
Ao fazer uso da palavra, o prefeito Amarildo Duzi Moraes (PSDB) pediu perdão aos presentes pelo passado escravagista no Brasil e agradeceu pelo que os homenageados fizeram pelo desenvolvimento de Vargem Grande do Sul.
Fez referência ao punho fechado que o “Troféu Turíbio dos Santos” traz, significando a resistência dos negros. Disse que o mesmo é também um gesto de protesto, que deve acontecer sempre. Também falou que o racismo estrutural no Brasil não pode existir. “Que vocês continuem resistindo, protestando”, afirmou.

Declamação de poesia
Antes da entrega dos troféus, houve a apresentação de artistas negros da cidade, com Leandro José da Silva declamando a poesia “A gente se acostuma”, a jovem Amanda cantando “O bêbado e o equilibrista” e o cantor Felipe fez o encerramento com a música “O canto da cidade”.
O psicólogo Sander Silva fez o cerimonial da leitura das biografias dos homenageados, sendo lido primeiramente o histórico de Turíbio dos Santos. Sua filha, Elza dos Santos, recebeu o troféu que leva o nome de seu pai, que foi entregue pelo ex-vereador Wilsinho Fermoselli, autor da lei que criou a “Semana da Consciência Negra” na cidade. Elza agradeceu as homenagens, disse que seu pai foi uma pessoa que lutou muito por Vargem Grande do Sul.
Após, houve a entrega dos troféus às seguintes personalidades, sendo que algumas foram representadas por familiares: Débora Azevedo Fernandes, Rubens Romildo Sinhá, Sueli de Andrade, Delourdes dos Santos da Silva, Roseli Barão, Celso Acácio Nunes – Cajú Massagista, Benedito Adão, Petronilho dos Santos – Foto Nilo, Antônio Domingos – Toninho Domingos, Eder Donizete Pereira e Benedito Albuquerque – Ditinho Chofer.

Diretora de Cultura
Criar um prêmio para os destaques de personalidades negras que tiveram a diferença em nossa cidade foi uma sugestão que abraçamos, nascendo daí o projeto desta honraria que foi o troféu Turíbio dos Santos, cuja entrega tanto emocionou todos os presentes na noite do dia 18, no auditório da Casa da Cultura.
Apesar dos avanços da Legislação que criminaliza a injúria racial no Brasil e do bem sucedido sistema de cotas nas universidades públicas no Brasil, ainda há muito o que fazer. A emoção de todos na leitura das biografias, a confraternização posterior não é suficiente.
Nós brasileiros, cujo número de afros descendentes já alcança 54% da população, já usufruímos desta rica cultura impregnada em nossos costumes, temos que comemorar a Lei nº 10.639 que torna obrigatório o estudo da cultura Afro no currículo escolar, a fim de que conhecendo a riqueza cultural em tantas áreas desperte a merecida admiração com a auto estima em nossas crianças.
Como sempre na história, a Educação é o grande veículo de transformação da sociedade. Aproveitamos o ensejo para agradecer as famílias presentes, aos nossos artistas Leandro José, Amanda e Felipe que se apresentaram lindamente. Agradeço ainda ao prefeito Amarildo e aos vereadores Paulinho e Maicon pelo apoio.

Troféu Turíbio dos Santos: quem são os homenageados

Toninho Domingos

Antônio Domingos era filho de dona Pedra e Alcides Domingos, irmão de Cristóvão e Rita. Com pouco mais de 12 anos já trabalhava na Coletoria Estadual e se dedicava aos estudos. Após terminar o colegial na Escola de Comércio, se formou em Contabilidade na Unifae. Trabalhou durante muitos anos no escritório contábil de José Acácio Mesquita e depois montou o Escritório Controller Contabilidade. No futebol Toninho também se destacou, como dirigente do Juá FC, várias vezes campeão, ou promovendo campeonatos no município. Faleceu em março de 2020

Benedito Adão

Benedito Adão, natural de Alvorada do Sul (PR), nasceu em 1951, veio para Vargem em 1964, morou na fazenda Barreirinho, trabalhou com fotografia, depois em escritório de contabilidade com Agenor Atine e no escritório de Paulão Ferrari, foi fiscal e turmeiro na Dedini. Foi eleito vereador para a 10ª legislatura, onde atuou na elaboração da Lei Orgânica do Município. Tinha dois filhos, Paulo Alessandro e Charles Henrique, netos e também o irmão Nilson Adão. Faleceu em 2019.

Débora Fernandes

Débora Azevedo Fernandes nasceu em 1971. Filha de Eulário Dias Ferraz e Maria Azevedo Ferraz. Viúva, mãe de cinco filhos: Antônio, Richard, Caroline, Gabriele e Gabriel. Cursando o magistério engravidou muito nova. Necessitando amamentar seu primogênito, com a conivência de sua professora Márcia Iared, levava pelos fundos da escola seu bebê na sala de aula, que em um colchãozinho no canto da sala era acomodado. O mesmo aconteceu com seu segundo filho. Formada em Pedagogia e está cursando Pós-Graduação em Letramento. Débora costuma falar para seus filhos, alunos e netos, a Educação é algo que pode transformar a vida de qualquer pessoa.

Ditinho Chofer

Benedito Albuquerque nasceu em 1905, veio de Tambaú, trabalhou como motorista a vida toda, inclusive muitos anos na prefeitura com a ambulância, depois trabalhou na autoescola vargengrandense e como chofer de praça. Dedicado avô, chegou a assumir a guarda de 4 deles aos 75 anos. Religioso assíduo nas procissões de São Cristóvão, seu Ditinho, passou pela revolução de 1932, quando era ainda jovem e já dirigia, levando as pessoas, época em que muito se abateu com as dores e sofrimento dos feridos que transportava.

Eder Pereira

Eder nasceu em Vargem, em 1981, filho de Maria Conceição Pereira e Arlindo Pereira. Começou a cantar no grupo de jovens na igreja de São José incentivado por amigos com quem cantou por 4 anos na igreja de São Joaquim. Sempre fez parte de pequenas bandas de pop rock, uma delas com a sua irmã Adriana. Casado com Patrícia D. Lima, tem 2 filhos, Júlia e Mateus. Firmou parceria com Dell Ribeiro, cantando em diversos tipos de eventos, por mais de 10 anos. Em 2017 foi convidado para fazer parte do grupo de Cantores da Cultura. Eder tem apurado ouvido musical, ajudando nas divisões que evidenciam cada timbre de voz e tonalidade, além de Ativista Cultural.

Nilo Fotógrafo

Nascido em 1934 em São José do Rio Pardo, Petronilho dos Santos se mudou para Vargem em 1954, quando tinha 20 anos de idade. Ele se casou com Maria de Lourdes Daniel dos Santos, de quem é viúvo e com quem teve as filhas, a professora aposentada Regina Célia dos Santos e a psicóloga Ana Maria dos Santos, já falecida. Desde sua juventude ele já fotografava. Era músico e durante muitos anos tocou na orquestra Melodia, de São José. Em seus 65 anos trabalhando como fotógrafo na cidade, Nilo registrou várias festas, batizados, casamentos, além de realizar a cobertura de visitas oficiais de governadores, deputados, etc

Roseli Barão

Roseli Barão tem quatro filhos e nasceu em Vargem, em 1966. Filha de Maria Iraci Barão, sua mãe biológica, foi adotada aos 7 anos de idade pela família do Sr. Antônio Sordili. Cursou o ensino primário no Benjamin Bastos e na Escola D. Pedro II. Ajudou em meados dos anos 80 junto com a bibliotecária Zezé Miranda, no Museu Prof. Henrique de Brito Novaes e na Biblioteca Lima Barreto. Em 1986 escreveu o livro “O doce lado de um Bonequinho de Sal”. Morou na Argentina, Angola (África) e Itália. No Brasil morou entre comunidades carentes, onde conheceu as pessoas invisíveis para a sociedade. Em 1999 mudou-se para Bertioga, onde desenvolveu projetos ligados à Cultura. Participou de peças teatrais e em 2014 atuou na novela Escrava Mãe.

Sueli de Andrade

Sueli nasceu em Vargem, solteira, é técnica em enfermagem há mais de 30 anos. Trabalhou no Hospital de Caridade e na Santa Casa em São João. Desde março de 2020, Sueli trabalhou incansavelmente na linha de frente, lutando com muita coragem contra a pandemia da Covid-19.
Viveu a fase das intubações diariamente, presenciou a difícil hora de informar os familiares de quem precisava ser transferido, cuidou de quem precisava respirar. Também comemorou as vitórias, quando os pacientes internados recebiam alta, voltando para suas casas.

Cajú Massagista

Celso Acácio Nunes nasceu em 1962, em São Sebastião da Grama. Viúvo, pai de 3 filhos e há 28 anos mora em Vargem. Massagista de profissão que exerce há mais de 20 anos e é um apaixonado pelo seu trabalho. Organiza a Festa de Cosme e Damião há mais de 24 anos, levando alegria a muitas crianças. A festa começou com sua mãe Aparecida de Oliveira Nunes, a dona Doca, e seu pai Benedito Nunes Carrero.

Delourdes

Delourdes dos Santos da Silva, nasceu em 1952, em Tapiratiba, filha de Joaquim Brasilino dos Santos e Francisca de Paula. Aos 14 anos, ingressou na congregação das irmãs Oblatas de Santa Úrsula, como aspirante a vida religiosa. Em 1970 deixou o convento pois seus pais precisavam de ajuda. É mãe de Olga Aparecida, João Francisco já falecido e Mariângela Rute. Começou seu trabalho junto ao Monsenhor Décio Ravagnani. Foi uma das fundadoras do Grupo de Oração nas ainda Capelas Santa Luzia e Nossa Senhora Aparecida. Foi catequista, sacristã na Igreja de Santo Antônio, ingressando mais tarde no Caminho Neocatecumenal. Participa da 3ª comunidade do Caminho Neocatecumenal e também das Canarinhas de Jesus, no Grupo dos Adoradores e faz parte do Coral Ângela Copic.

Rubens Sinhá

Nasceu em 12 de abril de 1946, na Fazenda Três Barras. Filho de Benedito Sinhá e de Dona Sebastiana Rosa Sinhá, Rubens foi casado com Maria Helena de Lima Sinhá, e teve duas filhas: Valéria e Vanessa. Concluiu o técnico em contabilidade em 1970 e concluiu a faculdade de Ciências Econômicas em 1975. Assumiu como secretário da Escola de Comércio, hoje Escola Dom Pedro II, em 1964. Foi contador da instituição por décadas. Mesmo aposentado, continuou trabalhando na Escola Dom Pedro II, até as vésperas de sua morte, em 2018. Foi também secretário do Clube Vargengrandense, do Clube das Mães, do Centro Comunitário Três Vilas, Membro do Conselho da Vargeana, CPDEX , além de trabalhar na Rádio Cultura.

Veja as fotos das homenagens:

Fotos: Prefeitura de Vargem

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