2 de abril: Dia Mundial da Conscientização do Autismo

Izaque foi diagnosticado no início da infância e sua mãe destacou a importância da escola em seu dia a dia.

O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, data definida em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU), é celebrado neste sábado, dia 2, com o objetivo de chamar a atenção para a importância de conhecer e tratar o autismo.
O tema da campanha nacional deste ano para o Dia Mundial de Conscientização do Autismo é “Lugar de autista é em todo lugar“, com a hashtag #AutistaEmTodoLugar, para promover uma mensagem inclusiva à sociedade em relação às pessoas autistas.
A ONU estima que uma a cada 44 crianças nascidas são diagnosticadas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), que soma 70 milhões de pessoas com autismo em todo o mundo, sendo 2 milhões somente no Brasil. Estima-se que uma em cada 88 crianças apresenta traços de autismo, com prevalência cinco vezes maior em meninos.
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado por padrões de comportamentos repetitivos e dificuldade na interação social, que afeta o desenvolvimento da pessoa com TEA. Os transtornos começam na infância e tendem a persistir na adolescência e na idade adulta. Na maioria dos casos, segundo os dados, as condições são aparentes durante os primeiros cinco anos de vida.
Não há só um tipo de autismo, mas muitos subtipos, que se manifestam de uma maneira única em cada pessoa. É tão abrangente que se usa o termo espectro pelos vários níveis de comprometimento, uma vez que há desde pessoas com outras doenças e condições associadas, como deficiência intelectual e epilepsia, até pessoas independentes, com vida comum, algumas nem sabem que são autistas, pois jamais tiveram diagnóstico.
A data, desde 2019, faz parte do calendário de Vargem Grande do Sul. O projeto de lei de iniciativa do então vereador Wilsinho Fermoselli (Democratas) foi aprovado pela Câmara e sancionado pelo prefeito Amarildo Duzi Moraes (PSDB). Pela proposta, para marcar a data, a prefeitura deve realizar eventos, seminários, palestras e ações de conscientização dos direitos das pessoas com transtornos do espectro autista.

O dia-a-dia
O vargengrandense Izaque Gabriel Hurzi, de 10 anos, foi diagnosticado com autismo ainda na infância. À Gazeta de Vargem Grande, sua mãe, Laiara Carol Lindolfo Hurzi relatou a rotina da família e como foi receber o diagnóstico.
Ela falou das dificuldades enfrentadas durante a pandemia e como está sendo a retomada das atividades com o filho, que está no 5º ano da escola. “Durante a pandemia a maior dificuldade foi manter a rotina para que isso não afetasse o humor do Izaque. Agora voltando às aulas está sendo bem tranquilo, porque a escola que ele estuda, a Escola Municipal Nair Bolonha, acolhe com muito amor as crianças especiais”, disse.
Laiara comentou como datas como essa ajudam na conscientização sobre o transtorno. “Na minha opinião, essas datas ajudam muito, porque muitas pessoas que não têm convivência com crianças autistas conseguem conhecer melhor esse mundo”, pontuou.
Contudo, o país ainda precisa avançar. “Para isso, acho que é preciso muita preparação de educadores para que todos possam ser especializados”, ressaltou.
A mãe contou como foi a descoberta do diagnóstico. “Descobri que o Izaque tem autismo logo quando ele entrou na primeira etapa da escola, notando os atrasos da fala, estereotipias e falta de atenção. A escola fez um encaminhamento para a fonoaudióloga e na primeira consulta na fono, ela já encaminhou para o neuropediatra”, contou.
Conforme informou, Izaque se encontrou nos desenhos e dobraduras que ele faz todos os dias. Laiara comentou sobre a rotina do pequeno. “Ele é bem tranquilo, vai à escola duas vezes por semana, faz aulas extras com uma especialista em educação especial na escola. Ele é uma criança muito amorosa e educada com todos”, pontuou.
A mãe contou que descobriu recentemente que seu filho mais novo, Arthur, tem um grau leve de autismo e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). “Estou cursando pedagogia na Anhanguera de Vargem Grande do Sul, com o intuito de me especializar em educação especial. Atualmente estou fazendo estágio na Escola Municipal Francisco Ribeiro Carril, onde as crianças especiais são muito bem acolhidas”, contou.

Conscientização
A reportagem também falou com Erilene Lima de Santana, que realiza ações para conscientizar a população de Vargem sobre o autismo, junto com Amanda Desidério. “Comecei a me aprofundar e procurar meios de conscientizar as pessoas através do meu trabalho quando ainda era estagiária, mas onde tudo começou foi através de uma frase no qual minha amiga Amanda Desidério viu no Instagram e dividiu comigo, sendo ‘O que você vai fazer para conscientizar sobre o autismo?’. Então, começamos a pensar em possibilidades e conseguimos levar para o centro da cidade essa temática tão importante para a sociedade”, disse.
“Nesse dia, esclarecemos algumas dúvidas dos cidadãos, como pais, mães, professores e pessoas que tinham curiosidade. Além disso, mostramos possibilidades de materiais adaptados. Desse dia em diante, apresentei trabalhos referente ao tema para alunos da faculdade, da mesma sala que eu estudava, e fui ajudando-os com possibilidades para quem também auxiliava autistas”, completou.
Erilene ressaltou sobre a necessidade de se informar a população. “É importante conscientizar as pessoas, pois quando nos deparamos com uma criança ou um adulto que tem o transtorno do Espectro Autista, podemos ajudá-los através de detalhes simples como barulhos, o tocar e respeitar o momento”, pontuou.
Ela contou que recentemente fez uma viagem e no ônibus tinha uma criança autista, onde a mãe estava cansada de segurá-lo, com insegurança, com medo de alguém ficar incomodado, pois ele não parava quieto. “Logo eu vi que ele era autista e estava sentada bem na frente, ele se aproximou e eu comecei a puxar assunto. Ele prestou atenção em um fone de ouvido que eu estava e acendia luzes coloridas, chamei ele para sentar ao meu lado e expliquei que eu ia colocar o fone nele para que ele pudesse ouvir música”, comentou.
“Enfim, a criança simplesmente acalmou, ficou radiante com aquelas luzes e músicas que estava ouvindo. Minha intenção foi tirar o foco da criança, pois muita gente próxima a ele, barulho dos carros na via, o ônibus parar nas rodoviárias e a demora o irritava completamente”, explicou.
Erilene relatou que depois, a mãe a agradeceu, pois já estava muito cansada e não sabia o que fazer para acalmá-lo. “Eu simplesmente agradeci a ela por ter uma criança maravilhosa como qualquer outra e que fará e já faz a diferença na vida das pessoas. Na minha ele fez, porque a maneira como ele ouvia as músicas e tentava cantar do jeitinho dele, a maneira como ele ficou encantado com as luzes do fone, o sorriso, simplesmente ganhei meu dia. E só consegui ajudar aquela mãe apavorada que só pedia desculpa, porque eu fui conscientizada, porque eu pesquisei sobre o tema e pesquiso até hoje”, comentou.
Conforme informou, pesquisas mostram que o TEA cresce cada dia mais no mundo e datas para conscientizar é um meio que fará com que as pessoas não se assustem com o desconhecido, que não tenham preconceito e saibam conviver com as diferenças. “Assim como uma simples frase fez com que eu e a Amanda buscãssemos novos caminhos e descobertas, poderá fazer com outras pessoas. Não podemos desistir das pessoas, do conhecimento e acima de tudo, de respeitar e ajudar”, disse.
Ela pontuou que esse ano não conseguiram elaborar um projeto maior, porém plantam uma sementinha por onde passam. “E eu sei que essa sementinha é capaz de transformar vidas”, comentou.
Para Erilene, ainda há muitas coisas a serem feitas, principalmente na área da educação. “Acredito que estagiárias como eu poderiam ter um treinamento maior com pessoas especializadas para conseguirem o quanto antes trabalharem com maior precisão e assim ajudar com mais facilidade os discentes”, ressaltou.
Ela comentou que acredita que conscientizar é o caminho mais viável e que possibilita resultados. “Mas aquela mãe implorando e se desculpando, me fez entender o quanto as famílias precisam de ajuda, o quanto precisam ser ouvidas, o quanto poderiam trocar informações através de encontros para se ajudarem. O que mais me preocupou nessa pandemia foi o emocional de ambas as partes, o que mais me preocupa é saber como estão, o quanto lutam e lutaram quando nem podíamos sair de casa. Portanto, se alguém tiver a oportunidade de ajudar, ajude”, disse.
“Tente, você pode estar salvando uma mãe também. Até porque já é possível identificar muitos casos de mães ou responsáveis que cometem suicídio porque não conseguiram emocionalmente lidar com o dia-a-dia, por isso, só de ouvir alguém, você poderá estar aliviando um coração e impedindo acontecimentos inesperados”, finalizou.

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