Ciclovias seguem apenas no papel em Vargem Grande

Ciclistas disputam espaço com demais veículos na Av. Bolonha

Leitor da Gazeta de Vargem Grande, o empresário José Maurício Cavalheiro esta semana enviou alguns questionamentos ao jornal após ler a matéria “Área próxima ao Rio Verde deve ganhar mais investimento público”, publicada na edição do dia 21 de maio, que trata da construção da nova avenida que o prefeito Amarildo Duzi Moraes (PSDB) pretende fazer na margem esquerda do rio, paralela à Av. Aurora Fernandes Bolonha, cuja área já foi desapropriada.
A preocupação do empresário é com relação à mobilidade urbana e a dificuldade do poder público municipal em criar ciclovias no município para incentivar o uso de bicicletas. “Vamos pensar pra frente, em São Paulo estão ‘matando’ uma pista de várias ruas para fazer ciclovia. Em Fortaleza, fizeram isso na Av. Beira Mar, só para ficar em dois exemplos e são centenas de casos”, escreveu à editoração do jornal.
Para José Maurício, a palavra de ordem hoje é ‘mobilidade urbana’. “Vias urbanas só para carros, motos e caminhões, o Maluf já fazia”, lembrou o leitor ao se referir ao ex-governador e prefeito da cidade de São Paulo que construiu avenidas, minhocões (viadutos) e túneis na cidade quando a administrou. Obras que hoje são contestadas, como é o caso do famoso “Minhocão”.
Prossegue dizendo: “Enquanto isso, Vargem Grande do Sul está construindo várias vias novas, como Av. Alice Buosi, Av. Aurora Bolonha, Av. Parada Otero, Av. Manoel Gomes Casaca, e não é capaz de fazer um metro de ciclovia, sendo que quando está fazendo a obra, fica mais barato e melhor e cá entre nós, nestes locais tem espaço de sobra”.
O leitor e também cidadão vargengrandense, que se preocupa com os rumos e o futuro da cidade, ainda enviou alguns recortes de jornais onde matérias falam sobre investimentos que vários países do mundo estão fazendo para incentivar os deslocamentos sustentáveis, como em Paris, onde estão previstos 250 milhões de euros em infraestrutura para bicicletas nos próximos anos, com a previsão de mais de 180 km de ciclovias até 2026.
Também é o caso de Nova York, que pretende transformar 25% do seu espaço viário em áreas caminháveis, vias para bicicletas, faixas de ônibus e áreas verdes até 2025. A cidade de Milão também tornou público o compromisso de construir 750 km de ciclovias até 2035, com a pretensão de zerar a emissão de gás carbônico até 2050.
Na extensa matéria publicada, afirma que nas cidades, pedestres e ciclistas ficam em segundo lugar. Cita que planejamento urbano, o foco de políticas e investimentos tem deixado evidente que as viagens diárias de pedestres e ciclistas continuam recebendo pouca atenção e planejamento, uma vez que as cidades são desenhadas pensando na fluidez do automóvel.

Prefeitura não responde ao jornal
Para responder aos questionamentos de José Maurício e também aos leitores do jornal, a Gazeta de Vargem Grande enviou algumas perguntas à Assessoria de Comunicação para compor a presente matéria. Dentre elas, foi solicitado ao Executivo que informasse sobre quantas ciclovias existem no município; qual o departamento ou órgão responsável pela implantação de ciclovias na cidade e sua manutenção; quantas ciclovias foram implantadas durante a gestão do prefeito Amarildo; se há projeto ou estudos de se implantar ciclovias na cidade e quais ruas ou avenidas; por que as novas vias construídas na gestão do atual prefeito não foram contempladas com ciclovias; se o Executivo consultou o Plano Municipal de Mobilidade Urbana ao projetar estas vias; o que prevê o Plano Municipal de Mobilidade Urbana com relação à implantação de ciclovias na cidade; se o Executivo tem estudos sobre o número de bicicletas existentes na cidade; se há estudos sobre quantas pessoas seriam beneficiadas com a implantação de ciclovias na cidade, principalmente os trabalhadores que moram em bairros distantes do Centro; como o Executivo vê o futuro da mobilidade urbana na cidade e se há estudos ou projetos de contemplar o uso de outros meios de transporte que não seja o de veículos a motor na cidade. Mas, até o fechamento da presente matéria o prefeito ainda não havia respondido ao jornal.

Plano de mobilidade foi aprovado em maio de 2019
Em reportagem publicada pela Gazeta de Vargem Grande em junho de 2019, consta que o plano de Mobilidade Urbana e Rural foi aprovado na sessão da Câmara Municipal e publicado no Jornal Oficial do Município no dia 7 de maio daquele ano.
O objetivo do programa era promover a Política de Mobilidade Urbana e o Sistema Viário do Município, estabelecendo diretrizes para o sistema de circulação, implantação de arruamentos e sistemas complementares na zona urbana e rural.
Amarildo era o prefeito da época e a prefeitura assim se manifestou sobre a aprovação do plano: “É fundamental para o município planejar, executar e avaliar a política de mobilidade urbana, bem como promover a regulamentação dos serviços de transporte urbano. Vem colaborar com a redução das desigualdades proporcionando uma inclusão social mais democrática através de melhorias nas condições de acessibilidade universal no perímetro urbano, pois o Plano de Mobilidade Urbana tem como foco o pedestre, sobretudo as pessoas com necessidades especiais, os transportes não motorizados e o transporte público urbano”, informou.
Sobre a questão da implantação de ciclovias no município, o Executivo na época afirmou: “As avenidas compostas por canteiros centrais deverão dispor de rua de 10 metros de largura e o canteiro deverá ter cinco metros, proporcionando espaço para possíveis futuras ciclovias ou ciclofaixas, além de condições mais seguras para as operações de retornos pelos veículos automotores”.

Dia mundial da bicicleta
Ontem, sexta-feira, dia 3 de junho, comemorou-se no mundo todo o Dia Mundial da Bicicleta. A data foi aprovada pelas Nações Unidas no dia 12 de abril de 2018, como um dia oficial de conscientização sobre os vários benefícios sociais de usar a bicicleta para transporte e lazer.
Segundo pode-se ler no site da ONU, a bicicleta está em uso em todo o planeta há dois séculos e é considerada um transporte acessível, limpo e adequado ao meio ambiente. Além de ser simples e trazer vários benefícios para a saúde. O uso da bicicleta é considerado uma atividade física moderada, e ajuda a evitar danos à saúde.
“Ao declarar o Dia Mundial, a Assembleia Geral da ONU pediu aos países que incentivem o uso e as vantagens do pedalar e da bicicleta como uma forma de promover desenvolvimento sustentável e de reforçar a educação física para crianças e jovens. Especialistas afirmam que a bicicleta também ajuda com a inclusão social e uma cultura de paz, respeito e entendimento. Na resolução que aprovou o Dia Mundial da Bicicleta, o órgão da ONU destacou iniciativas para organizar passeios em níveis nacional e local, e promover a saúde física, mental e o bem-estar”, diz o site da Organização das Nações Unidas.

Empresária é a favor de ciclovias
Há mais de 10 anos no mercado de venda, conserto e acessórios de bicicletas em Vargem Grande do Sul, a Ciclo Líder é uma das principais lojas da cidade, atendendo toda a população e também clientes da região.
Na entrevista que concedeu à Gazeta de Vargem Grande, a sócia proprietária Danúbia Martineli Servilheri disse que deve existir algo em torno de 20.000 bicicletas na cidade. Ela chegou a esta conclusão pelo tanto de bicicleta que já vendeu, pelo número de bicicletarias que existem na cidade, em torno de 10 e pelas conversas com seus clientes.
Para ela, hoje a cidade já comporta a instalação de ciclovias. Ela disse que conhece somente a que foi construída na Barragem Eduíno Sbardelini, mas que é para o lazer e que tem inúmeros clientes que trabalham em grandes empresas do município, como a Ebara Thebe Bombas, a Grampac, o Café Pacaembu e a Fuzil, só para ficar em alguns exemplos, cujos funcionários fazem uso de bicicletas para trabalharem e circulam pelas principais vias da cidade sem a segurança que uma ciclovia oferece. “Muitas vezes eles andam na contramão por sentirem insegurança”, afirmou a empresária.
Para ela, o poder público municipal poderia fazer uma ciclovia ligando as avenidas Aurora Bolonha e Alice Buosi à Via Expressa Antônio Bolonha, que já seria um bom começo e uma experiência que poderia ser ampliada para outros locais da cidade, após estudos feitos.
Danúbia acredita que centenas de pessoas que moram nos bairros, principalmente do outro lado do asfalto, fazem atualmente uso da bicicleta como seu principal meio de transporte. “Ainda mais com o elevado preço da gasolina, que hoje se tornou mais um fator para que as pessoas utilizem a bicicleta para se locomoverem. Também pesa a questão ambiental e a melhoria na saúde dos usuários deste transporte”, afirmou.

Para trabalhadora, ciclovias ia ajudar muito
Terezinha Brás da Silva mora no Jardim Dolores e trabalha no Jardim Morumbi. Devido à distância, algumas vezes ela vai com seu próprio veículo, mas, com o preço cada dia mais alto do combustível, ela tem utilizado uma bicicleta para poder trabalhar. Terezinha fala da insegurança de ter que dividir as ruas com carros e outros veículos até chegar ao trabalho. Para ela, a construção de ciclovias ajudaria as pessoas que usam bicicleta e incentivaria outras a optarem também por este transporte, que traria além da economia no bolso, importante ganho na saúde dos usuários.

Fotos: Arquivo Pessoal e Reportagem

Danúbia acredita que muitos trabalhadores que se locomovem com bicicletas seriam beneficiados
Terezinha usa bicicleta para ir ao trabalho e avalia que ciclovia traria mais segurança

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