Soraia Aparecida de Souza: Uma família romeira

Soraia recebendo a bênção na última romaria, em 2019. Foto: Arquivo Pessoal

Um dos pioneiros da Romaria dos Cavaleiros de Sant’Ana foi José Roberto de Souza, conhecido como Zé do Olinto. Sua paixão pelos cavalos e pelo evento religioso contagiou toda a sua família. Dessa paixão, surgiu a paixão do seu pai, Olinto de Souza Buzatto, do seu filho, Agnaldo de Souza, e sua filha, Soraia Aparecida de Souza.
A Gazeta de Vargem Grande conversou com Soraia, filha de Zé do Olinto, que teve contato com a Romaria pela primeira vez aos seis anos e seguiu os passos do pai, do avô e do irmão.
Ela comentou que seu irmão e seu pai faziam parte da comissão de frente. “Meu irmão também participou desde muito novo com meu pai, que carregava o estandarte de Sant’Ana. Ele participou mais do que eu, porque antigamente era mais coisa de homem”, contou.
Ao jornal, Soraia relatou que sempre viveu cercada de cavalos. “Eu morava na Rua Floriano Peixoto, numa chácara. Meu pai me ensinou tudo o que sei sobre cavalos, meu irmão tem cavalos, mas não anda mais e meus sobrinhos andam às vezes, mas eu tenho meus cavalos adoro andar pela cidade sempre”, contou.
A paixão pela Romaria foi além. Soraia e a amiga Rose foram as pioneiras de Vargem Grande do Sul a irem à Aparecida do Norte a cavalo em uma cavalgada de fé. “Foi emocionante essa viagem, sou muito devota de Nossa Senhora Aparecida. A Juliana Bologna fez um documentário lindo da Romaria e participei bastante nos depoimentos, lembro muito dos preparativos para essa grande festa de fé”, comentou.
Hoje, aposentada como professora, Soraia curte a vida com suas amizades em cavalgadas semanalmente. A romeira lamentou que durante a pandemia foi necessário ficar dois anos sem o evento, que já faz parte da cultura da cidade. “Ficou essa lacuna, mas agora espero nessa procissão de fé resgatar essa bela festa onde nossos cavalos também são abençoados”, disse.
A amante da Romaria comentou sobre o evento deste ano. “Deveria ter uma festa de queima do alho com rodeio em lugar apropriado no Recinto e não no Bosque, que deveria ser preservado na sua natureza”, sugeriu.
Ela contou que nesta Romaria, irá desfilar com seu cavalo Guarani, filho de sua égua Cigana, que já aposentou. “Tenho paixão por meus animais, que cuido com todo o meu amor. Somos parceiros: cavalo e cavaleira. Que Nossa Senhora Sant’Ana nos abençoe para essa grande romaria”, desejou.
Em 2019, quando ainda não havia ido para Aparecida do Norte a cavalo, Soraia publicou na rede social Facebook um lindo depoimento em 2019. Intitulado ‘Família Tropeira’, o depoimento fala sobre a Romaria e a história de sua família com o evento religioso mais tradicional de Vargem Grande do Sul. A Gazeta publica nesta página ao lado o relato.

Família tropeira

Tudo começou com meu avô Olinto de Souza Buzatto. Ou melhor, com meu bisavô, José Carlos de Souza, de fato. Em meio aos cavalos vivendo em sítios, essa família se formou tropeira, criando seus descendentes sem vícios, de forma guerreira.
Em Lagoa Branca tudo começou, naquelas terras meu bisavô viveu, muito por lá pelejou, depois em Vargem Grande do Sul, faleceu. Meu avô Olinto outras terras possuiu, criou seus três filhos na lida, homem trabalhador, honesto se sobressaiu. Aqui em Vargem faleceu, aos pés de seu cavalo, foi-se embora com Deus. Fez dos animais seu regalo.
Então, vem José Roberto de Souza, meu pai, conhecido na cidade como Zé do Olinto, homem que domava cavalos, no segura mas não cai. Dele, saudades hoje sinto. Toda paixão pelos cavalos com ele aprendi, na minha vida segui outros caminhos, mas agora numa nova fase, revivi, tendo os meus animais com todo carinho.
Minha mãe sempre me contou que, com dois meses, meu pai tropeiro, numa mula me levou, para o meu avô me conhecer primeiro. Antes, porém, do meu embrulhinho, do alto da mula cai ao chão, ficou meu pai só com o meu pacotinho e minha mãe aos prantos com dor no coração. Assim mesmo nada me aconteceu, ao meu pai minha mãe novamente me entregou, cumprindo seu destino cavalgou.
Daí minha paixão por cavalos se consolidou. Tão inocente, bebê pequenina! Sonhos de cavalgar comigo meu pai acalentou. Fui seguindo a vida que por si ensina. Via meu pai na lida com os animais, tudo que aprendi, ele me orientou, coragem, respeito, carinho, judiar jamais! Hoje por essa estrada agora eu vou.
Um dos pioneiros da Romaria de Cavaleiros, fez das suas participações, cavalgada de devoção, cumpriu uma promessa como romeiro, se curou agraciado por Nossa Senhora Sant’Ana, na emoção!
Eu agora recordo desse lado feliz da família, saga boa que até hoje cultivo, amando os cavalos, sigo minha trilha. Neste mundo procuro viver com sentido, cavalgo com meus cavalos perdida em pensamentos, pela cidade afora sigo toda paramentada, feliz da vida e sem lamentos.
Sou, Soraia, prazer, a determinada, determinação de ser feliz. Agora quero cavalgar até Aparecida do Norte, um sonho, uma intenção já fiz, com as amizades quero seguir forte. Realizar mais uma missão, junto dos cavalos companheiros, seguindo com o coração, lá chegaremos na fé, somos tropeiros. Assim continuarei minha bela vida, trabalhando, sonhando e divertindo, até chegar minha partida, serei intensa num sonho lindo!

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário
Por favor insira seu nome aqui