Billy Joe e as renas do Papai Noel

Luiza Pereira

Todo ano, na véspera de Natal, Billy Joe sempre acordava bem cedinho, antes mesmo do sol raiar, colocava suas botinas já surradas pelo tempo, seu casaco vermelho com botões de cordão, e lá seguia feliz pela orla da floresta até sumir de vista entre os altos pinheiros cobertos de Neve.
Se você me perguntasse anos atrás quando eu era apenas um menino, onde o Billy Joe ia tão cedo na véspera de Natal, eu logo mirabolantemente inventaria mil histórias sobre caças a ursos
selvagens, ou então sobre Billy Joe estar se encontrando às escondidas com uma namorada secreta – talvez a filha do capataz da fazenda, Susie Jane, na qual todos do vilarejo sabiam que ele era apaixonado, mas o pai de Susie Jane nunca aprovaria o romance.
Então é claro, eu o segui uma manhã de véspera, pois era um menino extremamente curioso para o meu próprio bem, e o que eu vi aquele dia fez meu dia valer muito a pena.

As Renas do Papai Noel!
Billy Joe estava no meio de uma clareira e ao redor dele estavam as nove renas do Papai Noel tranquilamente pastando como se ele não estivesse ali acariciando uma delas.
Billy Joe era o veterinário residente da fazenda, então ele acariciar um animal selvagem não era algo anormal, mas uma das renas do Papai Noel era algo extraordinário!
Eu me inclinei de trás da árvore que estava escondido para ver mais de perto as renas que Billy Joe estava acariciando, mas acabei pisando em um galho, e assustado por ser descoberto ter seguido ele até ali, me escondi rapidamente atrás do largo tronco do pinheiro e me agachei, ficando imóvel e o mais quieto possível para que ele não me encontrasse.
– Olá! Alguém aí? – Ele gritou da clareira em minha direção, mas não respondi com medo de ser repreendido por estar ali sem nenhum adulto, e sem ter avisado minha mãe por onde estaria indo quando sai logo tão cedo.
Escutei ele saindo da clareira, mas não manifestei nenhum barulho ou movimento, e fiquei atento para algum movimento estranho além das renas atrás de mim pastando, até que ouvi.
Um tilintar suave, vindo da clareira de onde Billy Joe acabara de sair, mas, até onde eu sabia, não havia nenhum sino por perto dela quando eu estava olhando, porém, curioso como eu era, resolvi sair de trás do pinheiro para saber de onde estava vindo o suave som de sinos que eu escutava.
E para minha total surpresa a clareira tinha mudado completamente, e as renas que estavam ali já não estavam mais espalhadas.
Todas as nove renas estavam enfileiradas em duplas, unidas a um belo trenó vermelho e dourado, no qual por toda sua borda continha numerosos e pequenos sinos, donos daquele tilintar que me criou a curiosidade de procurar a fonte.
Enquanto eu olhava maravilhado para o que vinha a ser realmente o verdadeiro Trenó do Papai Noel e suas famosas Renas Natalinas, não percebi que um senhor estava vindo em minha direção até que ele para ao meu lado e me pergunta:
– Como vai Noah! – Eu, assustado por não percebê-lo chegar, dou alguns passos para trás, até que olho para o que ele estava vestindo e percebi quem era aquele simpático senhor de barba branca.
– Papai Noel! O Senhor é realmente real!
– Mas é claro que eu sou real Noah! Não é porque os adultos esqueceram da magia de ser criança e da esperança de acreditar no impossível que eu deixei de ser real. Eu apenas não apareço mais para eles. Os adultos continuam precisando de esperança, ela apenas não precisa mais vir na forma de um coelho gigante, de uma fada bonita ou de um Senhor que traz presentes no Natal.
– Então o Senhor é a esperança?
– Sim e não. Eu sou tudo aquilo que a criança precisa que eu seja em sua infância, até que ela não precise mais de uma representação física. Para algumas pessoas eu represento o amor da família, e para outras eu sou a alegria infinita. E para algumas eu sou a esperança. Eles veem em mim uma forma de representar algo que precisam muito neles mesmo, até que, quando crescem, acabam encontrando essas coisas em si mesmos. E eu não preciso mais ser real.
– Entendi. Eu posso continuar acreditando em você, mesmo que eu encontre em mim o que acho que represento em você?
– Noah, você pode fazer o que você quiser, basta apenas acreditar. E isso vai acontecer. Agora, você precisa ir para casa, logo seus pais vão se preocupar por onde você foi.
– Ok. Até logo Papai Noel, obrigada por me deixar conhecer você.
– O prazer foi meu.
Ele então me abraçou e me guiou em direção ao pinheiro que eu tinha me escondido. Quando eu cheguei até a árvore, senti o vento mudar de direção e algo me disse que se eu olhasse para trás, eu não o veria mais ali.
Dito e feito, me virei e vi Billy Joe acariciando a mesma rena que tinha visto anteriormente antes de me esconder, como se aquele momento mágico não tivesse acontecido, dei um passo à frente e acabei pisando em um galho, fazendo barulho, e com isso Billy Joe se virou para olhar quem estava ali e me viu.
– Noah, o que faz aqui! – Senti que se contasse a ele o que eu tinha acabado de ver ele me acharia louco, então não falei nada sobre meu momento mágico.
– Eu te segui até aqui, eu vejo você vindo pra cá bem cedinho e fiquei curioso pra saber o porquê. De onde vieram essas renas?
– São um bando desgarrado que eu encontrei faz algum tempo e tenho cuidado, eu venho tratar e saber se estão bem todos os dias.
– Entendi, posso vir com você algum dia para tratar delas também?
– Claro, não vejo porque não. Mas agora vou te levar de volta porque tenho certeza que a sua mãe não faz ideia de onde você foi.
Enquanto voltávamos para casa, eu jurei que escutava o tilintar dos sinos do trenó vermelho do Papai Noel sumindo lentamente na floresta, e na manhã seguinte, um dos presentes que eu ganhei de Natal, era um lindo, pequeno, dourado e brilhante sino de Natal.
Curiosamente idêntico aos muitos sinos que eu tinha visto na manhã daquela véspera.

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