Comerciantes opinam sobre vendas no cartão de crédito

Foto: Governo Federal

Juros do cartão começam a ser discutidos

Uma fala do presidente do Banco Central Roberto Campos Neto recentemente no Congresso, acendeu a discussão sobre as vendas parceladas pelos cartões de créditos e os juros cobrados pelos bancos e financeiras no Brasil. É uma briga que envolve R$ 1 trilhão por ano e estava sendo travada nos bastidores, vindo a público com a fala do presidente do BC.
Trata-se da maior discussão sobre o consumo dos brasileiros e dentre as propostas estaria a continuidade ou não das compras parceladas sem juros no cartão de crédito. Essa possibilidade entrou na discussão em meio ao debate sobre os juros do rotativo dos cartões.
O governo quer reduzir os juros do rotativo, que hoje estão em cerca de 440% ao ano, um dos maiores do mundo, o que leva à inadimplência no rotativo, que no mês passado, ficou em 49,1%, segundo dados publicados nos meios de comunicação.
As discussões constataram que o cartão de crédito não estaria funcionando bem, levando uma grande parcela dos brasileiros à inadimplência e ao endividamento. “Segundo dados da Serasa, cerca de 30% dos inadimplentes no país têm dívidas com bancos e cartão de crédito”.
Mas, também constatou-se que o fim do parcelamento sem juros no cartão afetaria o consumo e a atividade econômica, uma vez que dados demonstram que 75% da população fez uso do crédito parcelado sem juros em 2022. Os mais afetados seriam quem recebe até dois salários mínimos, a população de baixa renda e também o comércio varejista.
A maioria que compra com cartão, 80% segundo os dados pesquisados, compram parcelados em até seis vezes sem juros, mas esta facilidade oferecida aos consumidores tem um custo e ele já está embutido nos preços, segundo os analistas.
O cartão aproxima muito o comércio varejista dos consumidores, levando os clientes a comprarem com mais frequência, como constatou a reportagem da Gazeta de Vargem Grande ao entrevistar alguns comerciantes da cidade.

Como funcionam os juros altos
Para poderem vender a prazo no cartão, os lojistas fazem um contrato com os bancos e financeiras para antecipar o valor a receber, e pagam uma porcentagem por isso, utilizando diversas “maquininhas de cartão” ou bandeiras que existem no mercado. Este custo do adiantamento vai para os preços dos produtos.
O consumidor que faz as compras parceladas, conhecidas como Parcelado sem Juros (PSJ), é bancado por parte das financeiras e bancos que atuam junto aos pequenos lojistas, movimentando o chamado crédito rotativo do cartão de crédito, que atualmente dá direito a estas entidades de crédito cobrarem taxas acima de 400% dos clientes que não pagam toda a fatura no vencimento.
A discussão envolve além das vendas no varejo, um grande embate entre os pequenos bancos, cooperativas de crédito, financeiras e os grandes bancos do país, que lucram enormemente com o crédito rotativo, quando o cliente não paga a fatura integralmente, fazendo com que aquela compra feita no cartão se torne um rentável negócio financeiro do banco com o cliente que comprou a prazo na loja. Conforme descrito no início da matéria, trata-se de um valor de R$ 1 trilhão por ano, ou quase 10% do PIB brasileiro.

Pequeno histórico do crédito rotativo
Na década de 80, o comércio varejista passou a aceitar os cheques pré-datados nas compras realizadas pelos seus clientes. Os bancos passaram a aceitar estes cheques e adiantavam os valores aos lojistas, cobrando um deságio, mais encargos. As administradoras de cartões aproveitaram a ideia e substituíram o cheque pré pelo parcelamento, com o crédito rotativo sendo incorporado.
O Banco Central então disciplinou a operação, mas não interviu nas taxas de juros, o que permitiu a cobrança de taxas dos consumidores que ultrapassam os 400% ao ano, um dos maiores juros do Brasil e quiçá, do mundo. Agora parece que o Banco Central, o governo, o Congresso, bancos e as financeiras vão discutir estes valores.

Vendas são seguras

Em entrevista que concedeu ao jornal Gazeta de Vargem Grande, o empresário Cláudio Macchi, sócio proprietário da J. B. Cipola Materiais de Construção, disse que para os comerciantes as vendas com o cartão de crédito são uma segurança. “O recebimento é garantido e ao mesmo tempo você presta um serviço ao cliente, pois consegue vender a um prazo longo, com um juro razoável”, comentou.
Hoje as vendas através de cartão de crédito representam mais de 40% do movimento de sua loja, o que torna essa modalidade de venda muito importante para ele. Em até três vezes no cartão, o lojista afirmou que não cobra juros, só cobrando quando parcela em mais vezes. Disse que a grande questão é o cliente saber administrar o limite do seu cartão, para não ficar inadimplente com as administradoras financeiras do cartão, uma vez que os juros são muito altos.
Explicou que na medida que o Brasil vai estabilizando a sua economia e a taxa Selic cair, que é a taxa básica de juros da economia brasileira, o governo tem de encontrar maneiras de negociar com as financeiras para cobrar um juro mais razoável, inclusive dos cartões de créditos.

A importância do cartão nas vendas

Os sócios proprietários José Augusto e Paulo, da Auto Peças Fabiano, também deram entrevista ao jornal e comentaram sobre a questão envolvendo as vendas a prazo pelos cartões de crédito e os juros cobrados aos clientes pelo crédito rotativo.
A empresa está atuando há 32 anos no mercado de peças e acessórios para automotivos e as vendas com cartão de crédito são muito importantes para a loja que dirigem. “É essencial, ela gera segurança na transação, a gente consegue alguns benefícios para nossos clientes que pagam com cartões”, explicou José Augusto.
Até um mês atrás, a Auto Peças Fabiano parcelava em até doze vezes uma compra sem juros, mas hoje consegue fazer em seis vezes este parcelamento. As vendas hoje pelo cartão de crédito representam entre 35% a 40% do total comercializado pela loja, o que tem um grande impacto no final do mês. “Elas são muito importantes para nós e conseguimos fazer algumas vantagens para nossos consumidores que é difícil realizar em outras formas de pagamentos, como através de boletos”, explicaram os sócios.
Com relação aos juros dos clientes que por acaso atrasem seus pagamentos junto às financeiras dos seus cartões, José Augusto assim se manifestou: “Nós não devemos nem pensar em atrasar os pagamentos das faturas dos cartões, porque os juros praticados são inconcebíveis para o nosso mercado. Entendemos que as financeiras cobram juros altos devido à inadimplência, mas deveria haver um estudo para que todos pudessem se beneficiar, tanto o comércio, como os consumidores e as financeiras”, afirmou.

Cartão facilita as vendas

A Casa da Botina São Francisco é uma pequena loja de calçados localizada na Rua Teófilo Ribeiro de Andrade, no Centro e há 10 anos está estabelecida no comércio de Vargem Grande do Sul. Na entrevista que concedeu ao jornal, o lojista Luís Adriano Daud disse que a venda no cartão de crédito é muito importante no seu comércio.
Ele vende no cartão e aceita a maioria das bandeiras das várias marcas de cartões de crédito e débito oferecida pelos bancos e financeiras. Ele vende muito no débito e em até três vezes sem juros.
“O cartão facilita bastante as vendas, é uma venda segura tanto para nós comerciantes, como também para nossos clientes”, afirmou. Para ele, o consumidor não tem que ficar andando com dinheiro no bolso e com o cartão ele pode comprar parcelado, sem juros. Disse que para quem vende existe a garantia do recebimento por parte da financeira.
As vendas hoje através de cartão representam algo em torno de 35% de suas vendas, e ele recebe o que vendeu das financeiras em um prazo médio de 14 dias, para quem não quiser fazer uma antecipação do dinheiro.
Explicou que as financeiras no crédito à vista, cobram dos comerciantes uma média de 3% a cada venda feita pela “maquininha”. “O uso do cartão é um aperfeiçoamento do comércio. Se você tem necessidade de movimentar um dinheiro para pagar uma conta da loja, um boleto, você pode antecipar o dinheiro das vendas, pagando os juros da financeira”, comentou.
Já no antigo crediário, que hoje as lojas relutam em abrir novos clientes para comprarem a prazo devido à inadimplência, se o lojista precisasse antecipar um dinheiro não haveria essa possibilidade, pois teria de esperar o vencimento das contas dos clientes.
Com relação aos juros cobrados no cartão rotativo, Daud disse que eles poderiam ser menores. “Poderia ter um ajuste para uma taxa mais baixa. Com juros mais baixos, os consumidores teriam condições de pagar mais fácil seus débitos, com isso dando possibilidade de voltar a comprar novamente no comércio”, finalizou o lojista.

Cartão de crédito veio para ficar

Para o empresário Marcelo Donizete Sati, sócio proprietário do supermercado Cesta Básica Pe. Donizetti, localizado no Jd. Paulista, a questão de compras com uso do cartão de crédito veio para ficar, assim como também do PIX.
Hoje, as vendas com cartão de crédito devem representar algo em torno de 10% no seu supermercado. “Não é muito expressivo ainda, mas acredito que tende a melhorar em substituição inclusive ao próprio cheque”, explicou.
Disse que antigamente usava-se muito o cheque pré-datado, que hoje está caindo em desuso com a entrada do cartão de crédito. “Nossos clientes usam mais o cartão de débito, que não incidem juros e também compram em dinheiro”, comentou o comerciante.
Com relação aos juros afirmou: “No meu ponto de vista, para o consumidor, os juros cobrados pelas financeiras no crédito rotativo quando os clientes atrasam o pagamento é muito alto. Acredito que deveria ser estudado uma maneira que todos fossem beneficiados. O comércio que necessita das vendas a prazo pelos cartões, os consumidores que deveriam pagar menos juros e as financeiras que tem papel importante no financiamento destas vendas, mas deveriam também cobrar menos juros”.

ACI comenta sobre o cartão

A Associação Comercial e Industrial de Vargem Grande do Sul entende que o término do Crédito Rotativo do Cartão de Crédito ou término do parcelamento das compras sem juros, impediria consideravelmente as vendas no comércio em geral, uma vez que hoje, os clientes já estão acostumados com esta prática de parcelamento, ou até, parcelar o valor da fatura, pagando apenas o valor mínimo e dividindo o saldo devedor em parcelas e aí sim, pagando juros para a Operadora do Cartão de Crédito.
“No nosso entendimento, as categorias mais prejudicadas seriam as classes C, D e E. O término desta prática de parcelamento sem juros por parte da loja, seria um desastre para as vendas deste final de ano, pois os comerciantes estão com volume de vendas menor que os anos anteriores e quando se aproxima essa data, a expectativa é sempre de melhoria no volume das vendas para compensar as perdas ocorridas durante o transcorrer do ano”, disse.

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