Covid-19 também impactou pequenos comerciantes

Tatiana, da Salgateria Nira, contou que a população não respeita os protocolos

Após um ano e meio de pandemia da Covid-19, muitos grupos de profissionais foram atingidos. Com um abre e fecha do comércio desde março do ano passado, os pequenos comerciantes de bares, lanchonetes e salgaterias de Vargem Grande do Sul também sentiram no bolso os efeitos da pandemia. Esse grupo era a maioria no protesto ocorrido na cidade na última semana, pedindo a abertura de seus comércios.
A Gazeta de Vargem Grande contatou proprietários desses estabelecimentos para saber sobre o impacto da Covid no ramo. Tatiana Mendonça Tesser, da Salgateria Nira, explicou que eles fecharam todas as vezes para cumprir os protocolos e decretos. “A venda por delivery e retirada foi o que salvou, mas as pessoas na maioria das vezes quando falamos que tem que pagar a entrega, desistem da compra”, disse.
A empresária comentou que eles tiveram que demitir colaboradores. “Eu e minha mãe somos sócias e tivemos que demitir quem nos ajudava, então hoje só trabalha eu, minha mãe e minha irmã na salgateria. Já não estava fácil antes da pandemia, mas estávamos conseguindo colocar a casa em ordem. Quando fechou, ficamos com fornecedores atrasados, alguns impostos e contador. Apenas o aluguel conseguimos manter e dívidas, como o capital de giro do banco, nós tivemos que renegociar, porque não teve como pagar”, contou.
Ela pontuou como acha que a Prefeitura Municipal tinha que cobrar aqueles que não cumprem os decretos para que os que seguem as medidas não fossem tão atingidos. “Como o prefeito fala em lives que 85% é indústria e 15% é comércio e nesses 15%, 90% colabora e 10% não, eu acho que ele deveria na primeira autuação a pessoa ser notificada, na segunda ela ser multada e na terceira ela deveria perder o alvará, porque estamos pagando muito caro pelas pessoas que não obedecem os protocolos e não cumprem os decretos”, comentou.
Tatiana ainda comentou que muitas pessoas falam que o problema são os bares, mas a culpa acaba não sendo em si do comerciante, mas dos frequentadores. “Eu vejo muitos bares em que a pessoa está lá porque precisa ganhar o dinheiro dela, mas será que não é culpa das pessoas que frequentam? Porque nesta terça mesmo, uma pessoa que trabalha na ambulância veio aqui, perguntou para minha mãe se ela poderia comer e ela disse que não, e a pessoa disse ‘só aqui que não pode comer?’ e minha mãe disse que o decreto é que não pode comer em nenhum lugar”, contou.
“Mesmo assim a mulher tirou a máscara e disse que ia comer na calçada e ela é funcionária da prefeitura e, por incrível que pareça, da área da saúde. E ela disse que ia comer sim porque ela estava na calçada, ou seja, a pessoa não respeita quem precisa trabalhar. Nós colocamos as coisas na porta, faixa pedindo para colocar máscara e mesmo assim as pessoas entram aqui dentro”, completou.
De acordo com a comerciante, ninguém da sua casa pegou a doença. “Meu irmão é carreteiro e mora com minha mãe, minha irmã trabalha com a gente, meu cunhado é mecânico, meu marido é ferrador de cavalo, minha família tem cinco salgaterias e, graças a Deus, até hoje ninguém foi contaminado, nem nós e nem funcionários”, disse.
Tatiane disse que o governo como um todo, sendo municipal, estadual e federal, não dá nenhum incentivo para que o comércio trabalhe. “Porque somos obrigados a fechar e quem paga? Ninguém. Não recebemos nada, nem um auxílio, tá fechado e acabou. Minha tia Preta, por exemplo, não consegue vender por delivery e ficou fechada todo o tempo que só podia atender por delivery. E quem vai pagar esse prejuízo? Ninguém”, argumentou.
“Essa é a dificuldade que estamos tendo. Eu entendo que está difícil, que está morrendo muita gente e agora muitos conhecidos e amigos da gente, mas infelizmente temos que trabalhar, porque não tem como ficar com as portas fechadas e continuar vendendo, pois dependemos da salgateria”, finalizou.

Bares e lanchonetes
O funcionamento de bares tem gerado discussões desde março do ano passado. José Aparecido Miranda, proprietário do Bar do Zé Miranda, contou que ficou com as portas fechadas mais de seis meses e que, para conseguir se adaptar na pandemia, teve que demitir funcionário, atrasar contas e tentar vender por delivery.
Para que a categoria não fosse tão atingida, José citou algumas coisas que a Prefeitura Municipal poderia fazer. “Primeiro: não apertar o horário de funcionamento, deixa isso para o comércio resolver. Quanto mais o horário for estendido, menos aglomeração dá”, disse.
“Outra coisa: a fiscalização não deveria ser tão rígida quanto é, porque o pessoal por pouca coisa leva multa, como eu levei. Acho que a prefeitura tinha que ser um pouco mais maleável para entender que somos daqui, vivemos aqui, trabalhamos aqui, pagamos impostos aqui e precisamos trabalhar aqui”, completou.
O comerciante, que tem o bar há 37 anos, comentou que essa foi a pior crise que já enfrentou. Ele criticou a ação e a inexperiência do governo na administração da crise, dando a entender que sentar atrás de uma mesa e ditar o que os comerciantes devem fazer, é fácil. “Mas aqui fora onde sentimos como dói as coisas, a dificuldade é bem maior”, finalizou.

Lanchonete
As lanchonetes vêm enfrentando o mesmo problema. Valdeci Albuquerque Herculano, do Kito Lanches, contou que no seu estabelecimento eles ficaram fechados mais tempo do que deveriam, desde o início da pandemia.
Ele pontuou que foi necessário se adaptar em diversas coisas, desde cardápios novos a novos produtos e equipamentos. “Nós tivemos que demitir, atrasar contas, renegociar aluguel e investir em delivery”, disse.
Valdeci comentou o que acha que a prefeitura deveria fazer para diminuir os prejuízos para o grupo. “Se eles liberassem para o cliente pegar na porta já era de grande avanço. Outra coisa é que conseguisse crédito com juros baixos para poder recuperar ou aguardar pra ver o que acontece. Nós trabalhamos com medo de ser multado e ter que fechar de vez”, finalizou.

Fotos: Arquivo Pessoal

Valdeci, do Kito Lanches, disse que trabalha com medo de receber multa
Bar do Zé Miranda ficou seis meses de portas fechadas
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