O negro vargengrandense

Apenas 13 anos e oito meses separam o dia da fundação de Vargem Grande do Sul, 26 de setembro de 1874, do dia da Abolição da Escravatura, 13 de maio de 1888. Segundo os dados históricos, as primeiras alusões ao povoado da Várzea Grande datam de 1832, situado em terras da sesmaria do sargento mor José Garcia Leal. Também fala que a maior parte da população é composta de descendentes italianos e é crescente o número de afro descendentes miscigenados.
Não se tem relato histórico da escravidão em Vargem Grande do Sul. Há uma grande lacuna neste sentido. Certamente houve famílias escravizadas no município, pois haviam as grandes plantações de café que até a chegada dos primeiros imigrantes italianos no final do século XIX e início do século XX, eram tocadas com a mão de obra escrava.
No próximo dia 20 de novembro, sábado, comemora-se no Brasil o Dia da Consciência Negra, Dia de Zumbi dos Palmares e Vargem timidamente começa a trazer à luz a figura do negro no município. Ao contrário de muitas cidades onde é feriado municipal, em Vargem somente em 2009 foi instituída a Semana da Consciência Negra, uma iniciativa do então vereador Wilsinho Fermoselli, onde a cidade pode se debruçar sobre o assunto da dívida histórica que a sociedade tem com a população negra.
Iniciativas que merecem ser destacadas para “acabar com o apagamento que os negros e a história cultural dos africanos sofreram no Brasil” e porque não, em Vargem também. Iniciativas como a do Departamento Municipal de Cultura e Turismo e do Conselho de Cultura de Vargem Grande do Sul, que para celebrar o Dia da Consciência Negra, irão entregar o 1º Troféu Turíbio dos Santos, honraria que será concedida neste ano a 11 cidadãos negros que se destacaram em suas áreas de atuação e contribuíram para o desenvolvimento do município.
A falsa noção de que no Brasil não há racismo, também prevalece em Vargem. Até para os próprios negros vargengrandenses assumir a posição de que os melhores salários, os melhores empregos, as melhores escolas, não estão ao seu alcance da mesma maneira que estão para a população branca, é desconfortável. Não são certamente atitudes de confronto, mas de rever a história e a luta pela igualdade que tanto se prega e que pouco se avança no Brasil. Isso só vai mudar se o Brasil se assumir racista.
Segundo dados da Agência Senado publicado em 2020, 55% da população brasileira é negra, mas as mortes por assassinato atingem 71% dos negros. Ocupantes em cargos de gerência, apenas 30% são negros, das pessoas mortas em ações policiais, 76% são negras, deputados federais eleitos em 2018, somente 24% são negros, população carcerária no Brasil atinge 64% dos negros, juiz de tribunal superior, apenas 9% são negros, 43% da população sem rede de esgoto, é de negros, contra 27% dos brancos.
Ao se fazer um raio x destes dados e trazer para a realidade de Vargem Grande do Sul, o mesmo não será tão diferente. Racismo não é só impedir um negro de entrar em um clube ou revistar uma pessoa negra na saída de uma loja. Racismo é quando o negro não tem a mesma oportunidade que o branco tão somente por uma questão de pele.

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