Nenhuma chapa se inscreve para dirigir Hospital

Na foto, o provedor Jair Gabricho, o governador do estado Rodrigo Garcia e o prefeito Amarildo Duzi Moraes (PSDB). Foto: Arquivo

Provedor Jair Gabricho concede entrevista ao jornal

Como nenhuma chapa se inscreveu para disputar a eleição da Mesa Administrativa do Hospital de Caridade referente ao período do biênio 2022/2024 e do Conselho Deliberativo e Conselho Fiscal para complemento do biênio 2022/2023, cuja assembleia está marcada para acontecer nesta segunda-feira, dia 12, das 9h às 12h, o velho problema que assombra a principal instituição de saúde de Vargem Grande do Sul, volta à tona. Ou a atual diretoria prorroga seu mandato ou o prefeito Amarildo Duzi de Moraes (PSDB) tenta encontrar uma pessoa que possa assumir as funções de provedor da entidade e montar uma nova diretoria para que o hospital não pare suas funções.
Em uma longa entrevista concedida ao jornal, o provedor Jair Gabricho, cujo mandato e diretoria se encerra neste final de ano, afirmou que tomou a decisão de não continuar dirigindo o Hospital de Caridade, tanto que foi publicado o edital convocando os associados para uma nova eleição da mesa diretora.
Mas, indagado se voltaria a ser provedor do Hospital, disse que a possibilidade existe e que não estão fechadas todas as portas. Disse que no presente momento a situação para ele está bastante complicada, bem como para seus diretores, pois o orçamento da entidade que não fecha, exige demais dos responsáveis pela sua condução, com um desgaste físico e mental muito grande.
À frente do Hospital por várias administrações passadas, Jair foi provedor por quatro vezes, duas vezes foi vice provedor e ainda atuou como conselheiro. Ele assumiu a entidade esta última vez, há dois anos atrás, atendendo a um apelo do prefeito Amarildo Duzi Moraes quando uma grande crise de gestão atingiu a entidade, que corria o risco de fechar por falta de diretoria.
O principal problema, não só do hospital de Vargem, mas da grande maioria dos hospitais do Brasil, é a difícil situação financeira que atravessam, com custos muito elevados, receita pequena e no caso do hospital local, como 80% dos atendimentos são do Sistema Único da Saúde (SUS), a situação se agrava, pois o SUS está com uma tabela muito defasada, dando enorme prejuízo e cada dia a diretoria tem de se reinventar para cobrir os custos.
Ao ser perguntado se teria conhecimento de alguma pessoa para assumir o cargo de provedor, Jair disse que não e que já tinha falado da sua decisão ao prefeito Amarildo e ao vice-prefeito Celso Ribeiro de não mais ser provedor. Explicou que não havendo nova diretoria, por se tratar de saúde pública, mesmo o hospital sendo privado, mas sem fins lucrativos e que trabalha para o SUS, na sua visão e como rege o estatuto, caberia ao poder público assumir a situação e em última análise a direção do hospital que se tornaria municipal, sendo que neste caso não poderia atender a pacientes particulares e tão pouco ter plano de saúde, o que no seu entender só iria piorar a situação, pois ficaria com os mesmos custos, só que com uma diminuição de receita muito grande. Se por acaso a situação se tornar insustentável, o hospital poderia acabar fechando e os pacientes do SUS teriam de ser direcionados para outros hospitais da região.

Dívida diminuiu R$ 1,5 milhão
Quando assumiu o hospital em janeiro de 2021, a entidade devia em torno de R$ 4,5 milhões e logo em seguida veio a pandemia da Covid-19, o que elevou em sobremaneira os gastos da entidade. A diretoria enfrentou a pandemia e também com boa gestão feita, hoje a dívida está em torno de R$ 3 milhões, sendo que deste valor, R$ 1,2 milhão é para o próprio plano de saúde da entidade, ou seja, a dívida ‘está em casa’ e o restante, deve para bancos, médicos e fornecedores diversos num total de R$ 1,8 milhões.

Cirurgias seletivas foram retornadas
A volta ao funcionamento pós pandemia, trouxe uma nova onda de aumento de gastos, uma vez que a demanda estava reprimida, principalmente com a realização desde setembro do ano passado das cirurgias eletivas, que geram um custo altíssimo mensalmente, segundo o provedor. O hospital tem feito, segundo Jair, cerca de 100 cirurgias eletivas por mês.

Principais feitos
Sobre a questão das principais conquistas da sua gestão, Jair Gabricho cita a regularização de todos os contratos com os prestadores de serviços para o hospital; a criação dos sites do Hospital e do Plano de Saúde, com a criação do site da transparência, onde tudo que é arrecadado e gasto é mostrado ao público, bem como os convênios realizados; projeto do autorizador automático do plano de saúde; reforma da lavanderia; retomada das reformas do setor B, que deverá ser entregue dentro de dez dias; do pronto socorro novo, com previsão de entrega em 15 dias; reforma e ampliação da cozinha do hospital, cuja entrega está prevista para dois ou três meses e informatização de todo o hospital, tanto com novas máquinas como softwares, cujo projeto está bem adiantado.
Embora não citado por Jair, outro feito foi a realização recentemente da Festa do Chopp do Hospital, retornada depois da pandemia, que foi um sucesso este ano e ajudou a arrecadar um bom dinheiro para a entidade.

Boa negociação
Conhecido na sua vida empresarial como bom negociador, o provedor Jair Gabricho disse que uma das conquistas mais importantes e que ele se orgulha, é de ter conseguido renegociar os contratos de prestação de serviço que o hospital presta aos planos de saúde, aumentando consideravelmente as receitas da entidade, em alguns casos algo em torno de 300% destes valores.

Sonho não realizado
Dentre os projetos que não conseguiu realizar pela atual diretoria, Jair citou a reforma completa do novo pronto socorro e cujo projeto visava atender aos pacientes do Posto de Pronto Atendimento-PPA, feito pela prefeitura municipal. Após a reforma completa do pronto socorro, a intenção era trazer todo o atendimento que hoje é feito no PPA para dentro do hospital, numa parceria com a prefeitura municipal, que paga a uma empresa privada para fazer este atendimento. Jair acredita que este projeto iria aumentar consideravelmente a receita do hospital, que passaria a receber da prefeitura pelos serviços prestados, ajudando a resolver o problema crônico do déficit que a entidade apresenta. Em contrapartida, o provedor disse que iria melhorar e racionalizar o atendimento às pessoas doentes que procuram o PPA.

Maiores entraves
Arrumar recursos para fazer frente a explosão de atendimentos que a pandemia do Covid-19 exigiu, foi algo de surreal na visão do provedor, ao falar sobre os maiores problemas enfrentados na sua gestão. Citou ainda a falta de medicamentos e materiais na ocasião, a falta de espaço físico para atender os doentes com covid, além da negociação com fornecedores, a execução das obras, que apresentavam problemas com os projetos e falta de mão de obra. “Graças a Deus a maioria deles nós resolvemos”, afirmou Jair.

Pandemia
A pandemia colheu a atual diretoria do Hospital em plena explosão da doença que vitimou centenas de milhares de brasileiros e também mais de cem vargengrandenses. O Hospital de Caridade teve papel relevante em ajudar a salvar centenas de vidas. Para Jair, foram os momentos mais difíceis de sua diretoria, médicos, enfermeiros e funcionários do Hospital. “Todos estavam extremamente cansados, faltavam verbas, medicamentos, materiais, pessoas entubadas e correndo o risco de não ter sedativos suficientes, e novos pacientes chegando para serem entubados e a preocupação de como atendê-los. Só quem vivenciou tudo isso, pode entender o quanto foi complicado, mas graças a Deus conseguimos atender 100% das solicitações”, afirmou.

Convênios com a prefeitura
Perguntado sobre o papel da prefeitura municipal no dia a dia do hospital, o provedor falou que ela é o maior cliente do Hospital, para quem é prestado a maior quantidade de serviços. Hoje não existem mais subvenções ou ajuda do poder público municipal, mas sim convênios pactuados com a administração municipal, convênios que visam complementar os atendimentos feitos através do SUS, uma vez que de acordo com a Constituição, todo cidadão tem direito ao atendimento à saúde e cabe aos governos federal, estadual e municipal dar este atendimento.
Explicou que acaba ficando a maior parte para o município e que é feito um plano de trabalho e elencado os serviços e os valores a serem gastos, com a prefeitura repassando mensalmente estes valores. Citou por exemplo o Convênio 008 que foi de setembro de 2021 a 2022, num valor de R$ 3 milhões, mas que o Hospital fez muito mais, gerando um custo adicional a mais no valor de R$ 3,5 milhões para a entidade.

Contribuições
Ao ser indagado sobre a atuação dos vereadores, Jair disse que só tinha a agradecer aos mesmos, à Câmara Municipal, pois questionaram quando necessário e contribuíram quando a entidade precisou. Com relação à importância dos membros da sua diretoria e conselhos, disse que ficou extremamente feliz, que teve o prazer de conhecer pessoas que não conhecia, grande orgulho de trabalhar com uma Mesa Administrativa fantástica, pessoas que trabalharam e se doaram de forma gratuita, colocando suas empresas e tempo à disposição do Hospital, sendo fundamental para o trabalho realizado. O mesmo elogio foi para os membros dos conselhos, citando nominalmente o presidente Cássio Abrahão Dutra do Conselho Deliberativo em nome de quem agradecia a todos os outros conselheiros.

Conta que não fecha
Finalizando, Jair explicou que o Hospital é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos e as pessoas que como ele trabalham na diretoria, nos conselhos, o fazem de forma gratuita, sem nada receberem e que a medicina é muito cara. Que o Hospital trabalha 24 horas todos os dias, mantendo o corpo administrativo, os enfermeiros, médicos, todos os funcionários para atender a maioria dos pacientes do SUS e que isso tem um custo muito elevado.
Afirmou que o SUS reembolsa os serviços prestados, atendimentos médicos, exames, remédios, com valores infinitamente inferiores ao que valem, portanto falta dinheiro, que o atendimento através do SUS causa enorme déficit. Que mesmo com os convênios mantidos com a prefeitura, com os atendimentos particulares e plano de saúde, ainda falta dinheiro. Que é importante ressaltar que o Hospital não é um funil de dinheiro, mal administrado, mas sim, que para manter uma estrutura necessária para dar um bom atendimento, o custo é muito maior que as receitas.

Muitas empresas e entidades doaram ao Hospital, como a Associação Setembro e o Rotary Clube (foto). Foto: Hospital de Caridade

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário
Por favor insira seu nome aqui