A Gazeta de Vargem Grande entrevistou o professor de história da Escola Estadual de Ensino Integral Gilberto Giraldi, Ruan de Andrade Bortoluci, de 24 anos, para saber como ele vê os ataques que estão acontecendo.
Para ele, essas ameaças são uma fragilidade no sistema de criação dessa geração. “Essa geração vem com essa questão de solidão, essa falta de comunicação e inúmeros problemas que foram acarretados sim pela pandemia, que foram por anos tratados como frescura, como algo supérfluo. Os estudantes estão cada vez mais fechados, isso tudo que está acontecendo pode ser um gatilho ou simplesmente por ser moda, pois temos essa onda também”, disse.

No entanto, Ruan acredita que é sempre necessário ter um olhar mais apurado para os jovens. “O professor tem esse olhar, principalmente no sistema de ensino integral, que tem um sistema de tutoria, de escuta e toda essa questão envolvendo o sócio-emocional. Porque as escolas hoje são pautadas no sócio-emocional, deixamos um pouco de lado somente a questão cognitiva e trabalha muito o sócio-emocional”, comentou.
“Então temos muito que ter isso e principalmente as famílias, elas têm que saber o que está se passando. Se a família não sabe o que está acontecendo com o próprio filho, será difícil com o professor e com a escola que tem centenas. Tem que ser um trabalho conjunto, sempre foi a educação junto com a escolarização, uma não funciona sem a outra”, pontuou.

Embora o professor dê aula na rede estadual, ele opinou sobre o requerimento que discutia a implementação de curso de defesa pessoal aos professores da rede municipal. “O professor já tem inúmeras responsabilidades dentro de uma escola, ele tem que ser aquele que traz o ensino, aquele que faz o papel da escolarização, aquele que dá educação porque muitas vezes falta nas casas e na família, ele tem que ser psicólogo, ele tem que escutar, ele tem que ser pai, mãe, amigo, irmão, ele tem que dar conta de várias questões e eu acho que mais uma ‘obrigação’ para os professores não cabe no momento, até porque apesar de estar afetando a escola, essa é uma questão de segurança pública, não escolar. Nós temos então que ter primeiro parceria entre famílias e escola, um fora do outro nunca funcionou”, ressaltou.

Para o professor, antes de realizar qualquer projeto ou implementar qualquer lei, é preciso fazer uma pesquisa de campo. “Entre dentro de uma escola, entenda a realidade da escola, da comunidade, do professor, dos estudantes e do sistema público de ensino, e aí sim você conseguirá tirar medidas plausíveis para a situação. Porque a partir do momento que eu tenho crianças que vão para a escola não com o principal conceito que é estudar e sim com o conceito de poder conversar com alguém, de ter um prato de comida, nós estamos invertendo os papéis. É importante acolher, é importante escutar, é importante alimentar. Tudo isso é extremamente importante, mas acho que estamos tendo muito trabalho de um lado e pouco do outro. Só que os professores e as escolas são sempre os primeiros a serem criticados”, afirmou.

Ruan comentou que, em sua opinião, um dos maiores problemas que temos hoje em dia é a questão virtual. “Temos uma falta de controle do que está acontecendo no mundo virtual e pessoas mal intencionadas que vão apoiar certas atitudes que não são corretas. Então temos que ter essa fiscalização, esse controle em questão de tempo, em questão de locais que são acessados e também em relação a amizades. Pai e mãe, você sabe com quem seu filho está se relacionando? Com quem ele está conversando, tanto virtualmente quanto presencialmente?”, questionou.

Questionado se tem receio de algo acontecer na escola em que dá aula, o professor negou. “Na escola Gilberto Giraldi, um sistema de ensino de programa integral, que é um sistema diferenciado que já temos dois exemplos em Vargem, acredito que estamos muito bem amparados em questão de professores, equipe e colaboradores que conhecem os seus estudantes, que sempre que há problemas tentam resolver e acolher de diversas formas”, disse.

“Nós temos legislações que cumprem isso: trabalhar o sócio-emocional. Então a solução é acolhimento, escuta e trabalhar o sócio-emocional, pois se você está com o seu emocional e com as suas competências sócio-emocionais abaladas, o seu corpo faz coisas que você muitas vezes não quer, então isso é importante ser trabalhado sim”, completou.
Ruan explicou que dentro do sistema de ensino integral do Estado de São Paulo, há um programa chamado tutoria, onde os professores têm uma demanda de estudantes. “Nesse programa, os jovens escolhem esses professores para serem seus tutores e os professores vão conversar sobre a vida pessoal dele, sobre a vida acadêmica dele, sobre o projeto de vida dele, escutar realmente o que está acontecendo na vida de cada um deles”, contou.

“E isso é uma coisa interessante que pode sanar o nosso problema. É um trabalho árduo? Sim, mas dá muito resultado olhando pelo lado do estudante. É essa questão de simplesmente dar um bom dia, olhar no olho do estudante e perguntar como passou o final de semana, o que fez de bom, como ele está, o que está sentindo hoje. É simplesmente isso, é o acolhimento, porque muitas vezes dar um bom dia pode fazer diferença”, finalizou.
