Hospital está sem diretores clínico e técnico

Com a falta dos diretores clínico e técnico, Hospital foi notificado

Além dos problemas envolvendo a falta de recursos do Hospital de Caridade de Vargem Grande do Sul, um novo dilema está a exigir da atual diretoria da entidade muito diálogo e negociação para que o hospital não deixe de funcionar, uma vez que desde março está sem dois importantes cargos, o de diretor clínico e diretor técnico, sem os quais os trabalhos ficam comprometidos e pode até chegar à paralisação do atendimento ao público, se a questão não for resolvida.
Segundo apurou a reportagem da Gazeta de Vargem Grande, até março cumpria o cargo de diretor clínico, o médico otorrinolaringologista Fernando Felipe e o de diretor técnico, o médico Marco Antônio Goulart, clínico geral.
Na entrevista que concedeu à Gazeta de Vargem Grande, o dr. Fernando Felipe disse que entregou o cargo no dia 4 de março, sendo que um dos problemas por ele apontados para tal decisão, seria a da escala de plantões médicos, uma vez que alguns especialistas estavam em falta e também a questão de remuneração do cargo de diretor clínico por ele reivindicado.
Já o médico Marco Antônio Goulart, a reportagem da Gazeta apurou que o mesmo deixou o cargo por atualmente estar trabalhando em outros locais, numa empresa de seu irmão que presta serviços médicos em outros estados, não podendo assumir mais o cargo de diretor técnico. Ele continua atuando no hospital de Vargem.

Cargos importantes
Segundo consta nos manuais dedicados às questões médicas, o diretor técnico é o responsável pelo bom funcionamento do hospital junto às normas legais e órgãos como o Conselho de Medicina, o Ministério Público, autoridades sanitárias, dentre outros. A ele compete zelar pelos aspectos administrativos do hospital, que deve estar em condições de prestar bons serviços aos seus pacientes.
O diretor técnico é admitido pela direção do Hospital de Caridade, sendo cargo obrigatoriamente remunerado, devendo assessorar a mesma nas questões técnicas, sendo o responsável ético na organização diante do Conselho Regional de Medicina (CRM). A ele cabe o controle dos processos na rotina do hospital, dentre outras funções, que foram regulamentadas pelo Conselho Federal de Medicina por meio da Resolução CFM nº 2147/2016.
Já o diretor clínico é eleito pelo corpo clínico do Hospital de Caridade, que são os médicos que fazem parte do hospital de Vargem Grande do Sul e são regidos tanto pelo Regimento Interno do Hospital, como também pelo Regimento Interno do Corpo Médico (Clínico) da entidade. Pelo que apurou a reportagem, não necessariamente o diretor clínico deve ser remunerado pelas suas funções. Até hoje o cargo não era remunerado em Vargem Grande do Sul.
Atualmente mais de 20 médicos fazem parte do Corpo Clínico da instituição, mas apenas metade deles está de fato atuando no dia a dia do hospital, internando, operando e cuidando dos seus pacientes. Muitos deles estão apenas atendendo nos seus consultórios, como é o caso dos médicos mais antigos. O Corpo Clínico na sua totalidade, é que elege o diretor clínico e seu vice para atuar no hospital local.
Para participar do corpo clínico, o médico deve requerer sua entrada e passar por uma série de quesitos que constam do seu Regimento e ser aprovado pelos médicos que fazem parte do mesmo. Se não for aceito, não poderá atuar como membro, mas poderá internar e assistir seus pacientes junto ao hospital local.
Compete ao diretor clínico, dentre outras funções, a de ser o elo entre a direção do hospital e o corpo clínico, coordenando a junta médica da entidade. Como coordena as atividades médicas, a ele compete certificar que todo paciente sob regime de internação, seja atendido por um médico assistente, conforme consta no Conselho Federal de Medicina.
Como acompanha todos os atos médicos, ao diretor clínico compete também garantir que o atendimento aos pacientes seja cumprido de forma eficiente e respeitosa, zelando pela qualidade da assistência de saúde que o Hospital de Caridade presta aos internados.

Hospital foi notificado
A falta dos dois diretores já foi motivo de uma notificação do Conselho Regional de Medicina (CRM) à direção do Hospital de Caridade, que pediu uma prorrogação do prazo exigido pelo Conselho para poder adequar a situação.
Na entrevista que concedeu à Gazeta de Vargem Grande, o atual interventor do Hospital, José Geraldo Ramazotti ao abordar o assunto, afirmou que a intervenção da prefeitura municipal junto ao hospital, devido à não eleição de uma Mesa Diretora e seu respectivo provedor, não significa que a prefeitura assumiu o mesmo, que continua sendo uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, necessitando da colaboração da sociedade vargengrandense.
Com relação à falta dos diretores, Ramazotti disse que está aguardando uma posição do Corpo Clínico para eleger e indicar o diretor clínico, de acordo com o artigo 29, parágrafo VI do Regimento Interno do Hospital e do artigo 45 do Regimento Interno do Corpo Clínico.
“Não cabe à administração do Hospital interferir na escolha do diretor clínico, que é o representante dos médicos junto à nossa entidade e eleito por eles. Já o diretor técnico é uma situação diferente, ele pode tanto ser indicado pelo Corpo Clínico, como também ser escolhido pela nossa administração, que paga pelos seus serviços prestados ao Hospital”, explicou.
Com relação ao pagamento do diretor clínico, o interventor explicou que até o presente momento, todos os médicos que exerceram esta função não receberam pelo cargo ocupado. “Agora estamos vivendo este impasse do diretor clínico também querer receber e dado às extremas dificuldades financeiras vividas pelo Hospital, é temeroso para nós da administração assumir mais esse compromisso de custo elevado”, explicou o interventor Ramazotti.
Disse que se o impasse não se resolver e o Corpo Clínico não eleger o novo diretor clínico, é obrigação da administração recorrer ao Conselho Regional de Medicina e outros órgãos, inclusive junto à Justiça, para ajudar a resolver a questão, uma vez que sem o diretor clínico o Hospital não funciona, o que poderá acarretar enormes prejuízos para a população vargengrandense.
“Já houve algumas reuniões entre a direção do Hospital e o representante do Corpo Clínico, no caso o médico Fernando Felipe, e embora ainda não tenhamos chegado a um bom termo, ainda esperamos através do diálogo com os médicos do Corpo Clínico, achar uma solução para esse impasse que envolve a saúde de todos, inclusive dos próprios médicos que necessitam também do Hospital em caso de problemas de saúde”, afirmou Ramazotti.
Uma das saídas estudadas, seria a do diretor clínico também acumular o cargo de diretor técnico, o que, segundo Ramazotti é possível e poderia diminuir bem o custo, pagando somente um médico para exercer as duas funções.
Outra preocupação da atual direção do Hospital, é com a possibilidade de se politizar a questão, uma vez que o problema já foi objeto de discussão na Câmara Municipal e com a aproximação das eleições municipais, o tema ganha outra conotação, dificultando ainda mais as negociações e causando mais prejuízos à imagem da instituição, que precisa da ajuda de toda a sociedade vargengrandense.

Ex-diretor clínico fala sobre o problema
Dr. Fernando Felipe assumiu o cargo de diretor clínico do Hospital de Caridade em 2021, ficando até dezembro de 2023, sendo seu mandato prorrogado até março de 2024 para, segundo suas palavras, contribuir com a entidade que passava por uma crise envolvendo a falta do provedor, que só foi resolvida provisoriamente com a indicação de um interventor pelo prefeito municipal.
Segundo ele, além do problema envolvendo a escala de plantões, onde estariam em falta alguns especialistas, como anestesiologista, também a questão da remuneração do diretor clínico passou a pesar na sua decisão.
Explicou que o cargo é de grande responsabilidade, cabendo a coordenação do corpo clínico, a supervisão das atividades médicas, o zelo pelo Regimento Interno do Corpo Clínico, além de dar assistência aos pacientes para saber se a conduta médica foi correta e se ele foi bem atendido. “É de muita seriedade, pois tudo que acontece envolvendo os médicos, a instituição e os pacientes, acaba por nos envolver”, afirmou o médico.
Detalhou ainda que houve algumas tentativas de negociação por parte da administração e o representante do Corpo Clínico, mas as mesmas não prosperaram. Ele se colocou à disposição para o cargo de diretor clínico, desde que se resolva as escalas de plantão das especialidades e se chegue a um bom termo sobre a remuneração do cargo. Também afirmou que já conversou com um médico e o mesmo estaria disposto a assumir o cargo de diretor técnico, se todos chegarem a um acordo.

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