Produção, que trata da luta dos direitos indígenas, tem a vargengrandense Fernanda Ligabue na equipe
Fotos: Arquivo Pessoal/Divulgação
A luta ancestral pelos direitos dos povos indígenas e a história de Juma Xipaia, líder indígena na região do Médio Xingu, na Amazônia brasileira, é o tema do documentário Yanuni, que recebeu na última quinta-feira, dia 30 de outubro, o Prêmio do Público – Melhor Documentário Internacional da 49ª Mostra Internacional de Cinema, realizada de 17 a 30 de outubro. O longa, uma parceria entre Áustria, Brasil, EUA, Canadá e Alemanha, dirigido por Richard Ladkani, tem a vargengrandense Fernanda Ligabue na equipe de câmera.
Com coprodução de Leonardo DiCaprio, o documentário mostra como Juma, após sobreviver a seis tentativas de assassinato, é nomeada a primeira secretária de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas do Brasil — enquanto seu marido, agente federal do Ibama Hugo Loss, lidera operações contra garimpeiros ilegais. No último dia 17 de outubro, após a primeira exibição do longa na Mostra, Juma, seu marido Hugo e o diretor Richard Ladkani participaram de um bate-papo com o público.
O documentário mostra a luta diária de Juma, que em 2016, aos 24 anos, se tornou a primeira mulher a assumir o cargo de cacique do seu povo Xipaya, na região do Médio Xingu. Ela sobreviveu a seis tentativas de assassinato por enfrentar garimpeiros, grileiros e corporações multinacionais que ameaçam as terras de seu povo.
Em entrevista durante o Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF), nesta semana, ela falou sobre o longa. “Yanuni traz uma narrativa do nosso movimento indígena, da nossa luta, resistência pela demarcação dos nossos territórios e esse enfrentamento diário que a gente faz, esse processo de resistência que não é fácil, sobretudo para nós mulheres indígenas, lideranças. Mas também ele é um chamado para a ação”, disse. “Não somente de resistência, mas de esperança, inovação e muita inspiração”, afirmou a cacica.
O filme tem percorrido importantes festivais internacionais, incluindo o de Tribeca, em Nova York, onde fez sua estreia mundial, e o de Jackson Wild Media Awards, onde ganhou o grande prêmio, considerado o ‘Oscar do cinema de natureza’.
Mulher inspiradora
À Gazeta de Vargem Grande, Fernanda falou sobre a obra e sobre a luta de Juma Xipaia. “Desde muito jovem ela foi despontando como uma liderança do seu povo, lutando contra a construção de Belo Monte, por exemplo”, comentou. “Depois que ela se tornou cacica, ela começou a ser ameaçada, sofreu seis atentados contra sua vida, e por conta disso ela teve que se exilar. Ela foi levada por um programa de proteção a ativistas ambientais para fora do Brasil”, disse.
Com a criação do Ministério dos Povos Indígenas, pelo governo Lula, Juma foi chamada para ser secretária especial do órgão, que tem como ministra, a líder indígena Sônia Guajajara.
Fernanda contou que fez parte da equipe de câmera do longa dirigido por Richard Ladkani. O diretor filmou parte da vida de Juma ao longo dos quase cinco anos. “No último ano, eu fui chamada para também acompanhar e documentar algumas cenas da vida dela. Ela trabalhando dentro do Ministério, fazendo reuniões com os povos do Xingu em Altamira, durante uma marcha em Brasília, na votação contra o Marco Temporal”, recordou a cineasta de Vargem.
Outro momento especial que Fernanda acompanhou foi o nascimento da filha de Juma. “No dia do nascimento da filha dela, Yanuni, que deu nome ao filme, eu acompanhei todo processo do parto natural e foi um momento muito forte e especial poder registrar a chegada de Yanuni”, comentou. “Estou muito feliz com a exibição desse filme, porque é um retrato muito importante sobre a luta pelos direitos dos povos indígenas no Brasil em um período muito difícil desses últimos anos de desmonte de políticas públicas e práticas antiambientalistas do governo Bolsonaro e a chegada finalmente da luta indígena ao poder com a criação do Ministério durante o governo Lula”.
“A Juma é uma liderança muito inspiradora, ela tem falas muito fortes e impactantes. Onde quer que ela vá, sempre toca muito o coração das pessoas, mesmo estando em lugares às vezes muito diferentes, onde os povos indígenas nunca tinham ainda estado”, observou. “Ela sabe a importância, a relevância que tem a história dela, a história do povo dela, a história dos indígenas no Brasil. Então poder acompanhar a história de luta dela é muito inspirador, e me dá um pouco de esperança em ver um país mais igualitário e com mais preservação da sua história, da sua cultura e dos seus povos”, finalizou Fernanda.
Replikka
Outro documentário com participação de Fernanda Ligabue, Replikka fez recentemente parte da competição do Festival de Cinema do Rio de Janeiro. O curta metragem foi premiado recentemente como Melhor Direção e Melhor Edição de Som no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. No Rio de Janeiro, a produção foi exibida no último dia 10 de outubro e após, houve debate entre a equipe da produção e o público.
















