FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA

Fraternidade e superação da violência

O tema da Campanha da Fraternidade escolhido para o ano 2018 é “Fraternidade e superação da violência” devido os crescentes índices de violência, na sociedade brasileira, acompanhamos o último carnaval e a decisão do governo federal de intervir militarmente no Rio de Janeiro, tudo isso denota o quão atual é a reflexão sobre a violência.
Apesar de possuir menos de 3% da população mundial, nosso país responde por quase 13% dos assassinatos no planeta. Em 2014, o Brasil chegou ao topo do ranking, considerando o número absoluto de homicídios.
A Campanha tem como objetivo geral: “Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”. Sofremos e estamos quase estarrecidos com a violência. Não apenas com as mortes que aumentam, mas também por ela perpassar quase todos os âmbitos da nossa sociedade.
O lema da Campanha da Fraternidade 2018 foi extraído do capítulo 23 do Evangelho de São Mateus, no qual Jesus repreende os fariseus e mestres da lei, por sua prática não ser coerente com os seus discursos. Os fariseus e mestres da lei supra valorizavam a sociedade hierarquizada. Jesus propõe um novo modelo mais comunitário e fraterno “vós sois todos irmãos”. Numa sociedade marcada pela violência existe uma hierarquia na qual os mais fortes, detentores da economia oprimem os mais pobres, poupando-lhes uma vida digna. O lema é um convite para a superação da violência por meio do reconhecimento de que cada pessoa humana é irmã, é irmão e se assim o é então não se pode deferir contra ele (a) atos de violência.
Desse modo a caminhada que vamos fazer por meio da Campanha da Fraternidade 2018 já é um caminho que vem sendo trilhado a um tempo e cada um na medida que participa dessa caminhada, vai alargando a estrada para que mais e mais pessoas participem do processo de superação da violência.
A Convivência pacífica e sociabilidade violenta parecem disputar os mesmos espaços no cotidiano. No Brasil criou-se uma conveniência de que o povo brasileiro é pacífico, contudo basta observar com cautela a sociedade e se perceberá como a violência está presente no dia a dia das pessoas.
Tal violência com o passar dos anos foi se tornando uma cultura que consequentemente foi institucionalizada e sistematizada, gerando assim os rostos nos quais se comtempla descaso com a pessoa humana e o quanto ela é tolhida dos seus direitos e da sua dignidade.
A violência apresenta-se nas mais variadas formas: física, psicológica, institucional, sexual, de gênero, doméstica, simbólica, entre outras. Superar as várias faces da violência é uma tarefa de todos. Exige o compromisso de cada cristão e cristã no enfrentamento das múltiplas formas de ofensa à dignidade humana que se naturalizam escandalosamente na nossa sociedade.
O descarte do ser humano seja ele vitima ou autor do mal feito, não é o caminho. Não se pode alimentar um sistema maniqueísta que separa bons e maus; justos e injustos. É preciso voltar-se ao senso de alteridade: o outro (alter) é meu irmão, se é meu irmão quando ele erra eu não o descarto, mas eu o ajudo se reeducar no caminho do bem.
É preciso passar de um sistema excludente, elitista e descartável para uma sociedade fraterna, responsável e includente.
A Campanha da Fraternidade deste ano nos convoca a viver a prática de Jesus no exercício da escuta, da saída missionária, do acolhimento, do diálogo, do anúncio e da denúncia da violência na dimensão pessoal e social.
Para bem viver a Campanha da Fraternidade faz-se necessário assumir pequenos e cotidianos gestos que testemunham, como os valores do Evangelho são imprescindíveis para a construção de um mundo novo, sem violência.
Assim as ações que ajudam a superar a violência partem do Evangelho que aponta para a grandeza da vida e a beleza de viver. Testemunhar a beleza da vida e a graça de vivermos todos como irmãos! Essa verdade do Evangelho deveria ecoar em nossos corações, em nossas comunidades e em nossa sociedade.
A superação da violência pede comprometimento e ações que envolvam a sociedade civil, os membros da Igreja e os poderes constituídos, a fim de que não somente os direitos humanos, mas também a promoção da cultura da paz sejam asseguradas pela formulação de políticas públicas emancipatórias.
Com certeza, só vamos superar a violência se fizermos deste projeto, um projeto comum, abraçado pelo maior número possível de pessoas. Como diz um velho dito popular “uma andorinha só não faz verão”, do mesmo modo sozinho ninguém supera a violência, essa deve ser uma ação conjunta fruto da comunhão e da participação das pessoas.
Em tempos recentes o Papa Francisco recordou que a superação da violência passa pela fraternidade que é fundamento e caminho para paz: A raiz da fraternidade está contida na paternidade de Deus. Trata-se, por conseguinte, de uma paternidade eficazmente geradora de fraternidade, porque o amor de Deus, quando é acolhido, torna-se no mais admirável agente de transformação da vida e das relações com o outro, abrindo os seres humanos à solidariedade e à partilha ativa.
A superação da violência não é uma teoria, ela deve ser um caminho de ativa transformação. Essa mudança passa pela pessoa, comunidade e sociedade. A conversão conjugada dessas três realidades é uma trilha segura para todo o desejo de superação.

Pe. Luis Fernando da Silva
Diretor Editorial da Edições CNBB, secretário executivo da Campanha da Fraternidade

Fraternidade e superação da violência

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