Queda na esperança de vida

A pandemia da Covid-19 tem causado impacto profundo em vários setores da sociedade. A morte de pessoas queridas, o adoecimento de centenas de moradores, trabalhadores que estão tendo que enfrentar sequelas e tratamentos longos após a cura da doença. Isso sem mencionar o desemprego, a entrada de muitas famílias na faixa da pobreza, o aumento de vargengrandenses que estão recorrendo à Ação Social para ter um prato de comida em suas mesas.
Com um ano da tomada do Brasil pela Covid-19, todos esses fatores perceptíveis no dia a dia das pessoas já estão sendo quantificados, detalhados e analisados. Nesta semana, um indicador muito preocupante foi divulgado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade): a diminuição de um ano de vida no Estado de São Paulo. No ano passado, a expectativa de vida foi estimada em 75,4 anos, valor menor que em 2019, quando a esperança de vida ao nascer era de 76,4 anos.
Ou seja, no Estado de São Paulo, pode-se dizer que a população perdeu um ano inteiro de esperança de vida entre 2019 e 2020. De acordo com o demógrafo Carlos Eugenio Ferreira, especialista da Fundação Seade e um dos autores do estudo, no ano passado, a partir da faixa etária de 15 anos houve aumento da mortalidade, sendo que a grande maioria das mortes por Covid-19 se concentrou na faixa entre 60 e 84 anos.
Para o estudioso, os dados mostram o impacto da epidemia. “Tudo aquilo que a gente ganhou ano a ano, os dois meses em média que a gente ganhava de vida média ano a ano em função do desenvolvimento, em um ano uma epidemia vem e reduz”, observou.
Outro dado esclarecedor é sobre quais as classes sociais mais afetadas pelos danos da Covid-19. E o resultado não surpreende: as mais baixas e as pessoas com menos escolaridade. Segundo uma pesquisa da Fundação Seade na região metropolitana da Capital, 18% dos ocupados foram afetados simultaneamente por redução de jornada, interrupção do trabalho por 15 dias ou mais e diminuição do rendimento.
O levantamento também aponta que a parcela de ocupados de baixa escolaridade com interrupção de trabalho é muito maior que a dos que têm ensino superior completo. Além disso, 63% dos trabalhadores autônomos tiveram redução de renda, parcela que corresponde a 27% entre os assalariados.
Apenas 26% dos trabalhadores conseguiram continuar trabalhando à distância, a maioria composta por pessoas com mais escolaridade. A medida praticamente não existiu para quem tem apenas o ensino médio.
Isso mostra que a pandemia impactou todos os setores da sociedade, mas não do mesmo jeito. Sim, se toda a humanidade está na mesma tempestade, muitas enfrentam a tormenta em barcos completamente diferentes. Eles são melhores ou piores de acordo com a atividade econômica, o grau de escolaridade e, principalmente, a desigualdade social.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor insira seu comentário
Por favor insira seu nome aqui