Setor cerâmico da cidade vive bom momento econômico

Caminhão da Cerâmica Santa Marta carregado de blocos para entregar na região de Ribeirão Preto. Foto: Reportagem

Mas os reajustes dos preços dos insumos e de custos de manutenção podem afetar lucro das empresas

Depois de amargar durante muitos anos uma grave crise que levou ao fechamento de dezenas de cerâmicas e olarias em Vargem e região, com a dispensa de centenas de trabalhadores, a indústria cerâmica vem apresentando melhora nas vendas dos produtos e consequentemente, no aumento dos preços dos materiais produzidos, gerando mais rendimentos para o setor. Uma pesquisa realizada pelo jornal Gazeta de Vargem Grande sobre o preço de um dos principais produtos produzidos no município, o tijolo baiano medindo 11,5 cm por 14 cm e 24 cm, que durante muitos anos era comercializado em torno de R$ 370,00 o milheiro, hoje em algumas cerâmicas está sendo vendido até por R$ 600,00 o milheiro. Um aumento de quase 60%. Nas lojas de materiais de construção da cidade, ele pode ser encontrado entre R$ 920,00 a R$ 980,00 o milheiro. Esse mesmo valor está sendo vendido em sites de venda na Internet, como o Mercado Livre, por diversas empresas no país. Antes do aumento, quem ia construir pagava em torno de R$ 600,00 o milheiro nas lojas da cidade.

O aumento dos produtos cerâmicos acompanha a escalada de preços que
houve nos materiais de construção em geral, como cimento, aço, tubos e conexões, condutores elétricos, dentre outros. Segundo o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) calculado e divulgado pela Fundação Getúlio Vargas, nos últimos doze meses encerrados em fevereiro de 2021, a alta foi de 25,05%, a maior registrada desde julho/2003.

Os preços continuaram aumentando desde então e há casos como os de fios e cabos elétricos que subiram 80%, estruturas metálicas 50% e tubos e conexões 40% ao longo dos últimos 12 meses. É o caso também dos bloquinhos cerâmicos e outros produtos que acompanharam estes aumentos logo depois que a pandemia da Covid-19 se instalou no
país no começo do ano de 2020.

Recuperação começou no início de 2020

Fernando Proite está animado com o desempenho do setor. Foto: Reportagem

A reportagem da Gazeta de Vargem Grande entrevistou um dos industriais
da cidade, o empresário João Fernandes Proite, 63 anos, sócio proprietário da Cerâmica Santa Marta. Ele afirmou que de fato houve um aumento na procura dos produtos cerâmicos e consequentemente, no aumento dos valores pagos aos materiais produzidos pela sua empresa
há cerca de um ano e meio. Fernando Proite, como é conhecido, disse que o setor vinha passando por uma grande dificuldade desde 2012, o que perdurou até o início de 2020. Explicou que os preços dos produtos cerâmicos ficaram estagnados, com as vendas caindo, deteriorando as margens de lucro desde esta época, durando quase 10 anos. “Nossas empresas perderam a capacidade de investimento e de manter a manutenção do maquinário em dia. Também afetou a renovação dos equipamentos. Nesta fase difícil, não houve crescimento do setor da construção civil, foi muito pequeno, não permitindo que os preços fossem aumentados, com a margem de lucro caindo drasticamente”, afirmou
Fernando.

Pandemia
Na entrevista, disse que vários fatores devem ter contribuído para a melhoria do setor. A epidemia da Covid-19 seria um deles. Comentou que as pessoas começaram a ficar em casa e passaram a melhorar suas residências. O governo federal, também com o auxílio emergencial,
contribuiu muito no seu entender.

“As vendas de apartamentos com varandas e espaços gourmet dispararam devido à pandemia, pois ficando em casa tanto tempo, as pessoas passaram a valorizar estes ambientes”, ponderou o empresário. Para ele, houve também por parte do sistema bancário público e privado maior oferta de crédito para o setor imobiliário, com taxas de juros nunca praticadas antes, o que levou a um boom do mercado imobiliário nos últimos tempos.

Custos aumentaram também

Se por um lado houve aumento no preço dos tijolos, bloquinhos e outros
produtos cerâmicos, também aumentaram sensivelmente o custo de manutenção das empresas. “O custo de produção de um ano
para cá subiu muito. O aço, que tem um componente muito grande na manutenção das cerâmicas, aumentou um absurdo”, afirmou
o ceramista.

Para ele, toda a recuperação de preço que aconteceu em meados de 2020, começa a dar lugar a preocupação, pois os preços dos produtos cerâmicos estagnaram desde então. Fernando Proite citou como exemplo uma camisa de laminador de 800 mm de aço que custava há um ano atrás R$ 12 mil, hoje está valendo R$ 28 mil. “Este exemplo serve de parâmetro para todas as peças por nós utilizadas na fabricação de blocos”, explicou.

Mas, o empresário acredita que a melhora do preço veio para ficar e que o Brasil, segundo os economistas, deve ter u m crescimento do PIB entre 5% a 5,5% este ano, devendo começar 2022 melhor que 2021 para todos os setores, inclusive o setor cerâmico. “Isso deve influenciar o crescimento
da construção civil, com resultados positivos na melhoria das vendas dos nossos produtos e consequentemente, nos preços que praticamos”, analisou.

Olarias também registram melhora, mas não tiveram o mesmo aumento nos preços

Silvio Bazílio Benedito aposta em estabilidade dos preços. Foto: Reportagem

Contrastando com as cerâmicas, as olarias de Vargem, em torno de dez, não
tiveram os preços dos tijolos aumentados na mesma proporção. Entrevistado pela Gazeta, o oleiro Sílvio Donizete Bazílio Benedito,
sócio da empresa Olaria Sílvio, localizada na SP 215, km 34, disse que o preço do tijolo colonial por ele produzido subiu de R$ 320,00 o milheiro para R$ 400,00, um aumento de 25% apenas. “Desde 2013 até 2019, o preço do tijolão colonial se manteve em torno de R$ 320,00 o milheiro, mal dando para cobrir as despesas. Vivemos momentos difíceis e muitas olarias em Vargem fecharam e dispensaram trabalhadores”, afirmou o empresário. Ele disse que em abril do ano passado houve o aumento da procura dos produtos produzidos, o que acabou elevando um pouco o preço, que vem se mantendo. “Com esse valor conseguimos tocar o nosso empreendimento, mas o lucro continua baixo”, explicou, dizendo que a matéria prima subiu também, principalmente o barro, além do diesel, energia elétrica e as peças de manutenção. Em 1997, Sílvio começou a produzir o tijolão colonial manualmente, uma novidade na época que fez com que ele conquistasse
o mercado em Vargem e região. “Na época não havia concorrência. Hoje aumentamos a produção, o tijolo é ,maquinado, mas aumentou também a concorrência e os preços caíram”, lembrou.

Ele acredita que o preço atual deve se manter estável nos próximos meses. Para o empreendedor, o ideal seria vender seu produto a R$ 460,00 o milheiro, preço que ele acredita que pode chegar a ser pago pelo consumidor caso a economia do país melhore. O setor de olarias, que já chegou a empregar mais de 200 funcionários há vários anos atrás em Vargem, hoje emprega cerca de 100 funcionários, nas contas de Sílvio que trabalha na área desde 1997. Ele acredita que se houver melhora nos preços dos tijolos, deve aumentar também o número de empregos no setor.

Presidente do Sicov aponta recuperação da indústria cerâmica

Ângelo Morandin é presidente do Sicov. Foto: Arquivo Gazeta

O empresário Ângelo Morandin Ranzani, presidente do Sindicato da Indústria Cerâmica e Oleira de Vargem Grande do Sul (Sicov) também comentou sobre o bom momento econômico que vive o setor. Sócio proprietário da Cerâmica Morandin e da Morandin & Ranzani, em Tambaú, o ceramista disse que a recuperação começou em março do ano passado,
sendo que um dos fatores por ele elencado deve-se aos juros da poupança estarem muito baixo e as pessoas passarem a investir em construção. “Recuperamos o que perdemos em oito anos, sendo que neste período,
fecharam muitas cerâmicas e olarias e houve corte de cerca de 30% na mão de obra, com dispensa de muitos funcionários do setor”, afirmou o empresário.

Também na sua opinião, se houve recuperação nos preços dos produtos cerâmicos, por outro lado subiu o custo de sua produção, como o cavaco usado na queima, a energia elétrica, o óleo diesel, dentre outros insumos. Ângelo se disse otimista, apesar da economia do país no seu entender ser difícil de tecer prognósticos, pois começa a melhorar e depois desanda. Mas ele acredita que as projeções para o crescimento do setor são boas e que com a melhora, empresas que diminuíram a produção estão investindo mais e gerando mais empregos, com reflexos positivos na vida dos vargengrandenses.

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